Setúbal – Exposição Regional de 1930

Setubal 03

Numa cidade em crise social e económica profunda, com o movimento operário praticamente esmagado, realiza-se a grande exposição regional de 1930. Setúbal rende-se ao esplendor da ordem e do progresso da Ditadura Militar. Albérico Afonso Costa, no seu livro Setúbal Sob a Ditadura Militar, deixa-nos um testemunho precioso desse tempo. A Barcelona portuguesa, do movimento operário, veste uma capa cosmopolita e burguesa.

«A ideia de que esta exposição era uma obra inspirada no Governo da Ditadura Nacional e nos novos credos ideológicos perpassa no discurso jornalístico: “A Exposição Regional de Setúbal não é uma feira de amostras banal, confusa, irregular – características estas que se topam dezenas de vezes em certames do mesmo género. É uma grande afirmação económica. É um índice precioso de riqueza de uma região. Mas é, principalmente, uma obra organizada com método, ordem e disciplina” »

 

A imprensa é exuberante: Que melhor rincão possui a Terra, do que estas paragens magníficas que o Sado tão altamente beneficia? Setúbal, região extraordinariamente valiosa, é um lugar privilegiado do nosso belo Portugal. Ou ainda: A Rainha do Sado, este pedaço de Natureza que nos orgulha, já possui energia eléctrica; as obras do porto vão começar dentro em breve; novas indústrias se instalarão na nossa terra; a cidade vai ser aformoseada.

O progresso celebrado antes do tempo.

«Caía-se agora na dura realidade do fim de festa. A Exposição parecia ter prometido com pompa e circunstância, que a partir dela nada seria como dantes. O que agora se verificava amargamente é que, chegada ao fim, a exposição havia sido apenas um parêntesis na crise, um paliativo que não havia resolvido coisa alguma. Continuava a miséria, a fome, o desemprego. A crise era estrutural e não cedia. Apesar da grandiloquência dos discursos, da música que habitava a acústica da Avenida, tudo permanecia agora, na angústia de uma crise que não se resolvia nem com palavras nem com eventos. E até a aposta no turismo, face a uma cidade desesperada, murchava de realizações e de público. A cidade adiava-se, mais uma vez.»

A história do período da Ditadura Militar, na transição da 1ª República para o Estado Novo, faz-se também a partir da história local. Albérico Afonso Costa deixa-nos aqui o seu contributo, devidamente documentado, numa edição cuidada da Estuário.

Leia aqui uma entrevista ao autor.

 

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