Papa cristão | Daniel Oliveira | in Jornal Expresso

Ao defender uma lei civil que enquadre as relações entre pessoas do mesmo sexo, o Papa Francisco não reconheceu ou aceitou o casamento. Mas deu mais um passo. E se este gesto pode não ser importante para o conjunto da comunidade, porque os Estados laicos não precisam de bênção papal para garantirem igualdade de direitos, é-o para milhões de católicos LGBT, que passam a sentir-se um pouco mais em casa na sua Igreja. Como mostrou com os divorciados, o Papa quer recuperar aqueles que a Igreja foi deixando pelo caminho e que já não aceitam a culpa dessa exclusão.

Quer impedir que a Igreja Católica se transforme num reduto de ultraconservadores, incapaz de lidar com a pluralidade dos seus fieis. Dirão que se adapta aos tempos modernos. É o contrário. Estes não são tempos de inclusão e pontes, são de polarização. O Papa Francisco tenta livrar a Igreja de uma guerra cultural que tem sido suicida para sectores políticos tradicionais e que a entregaria a nichos fanatizados. (…) Tenta colocar a Igreja num lugar mais próximo da radicalidade do cristianismo. (…)

Para os que se habituaram a ver a Igreja como um lugar de castigo, que usam o perdão como forma de agressão, que se armam com a religião para perseguir o que não compreendem, que vivem obcecados com o sexo consensual entre adultos mas fecharam os olhos ao abuso de menores, deve ser perturbante ter um Papa cristão.