O chumbo do OE-2022 – Até aqui cheguei… Carlos Esperança

Hesitei entre o título «J’accuse…», do artigo de Émile Zola na sequência do caso Dreyfus e o desabafo de José Saramago perante a prisão política de mais um intelectual por um regime que defendia. Optei pelo segundo, mais de acordo com a revolta sentida com o chumbo do OE-2022, no rescaldo da maior crise económica, financeira, social e sanitária de um século, e cujo desfecho é ainda imprevisível.

Não me senti desiludido. A desilusão é o argumento romântico que os trânsfugas usam para justificar uma deserção. Eu não desertei nem mudei de campo. Sinto revolta pelo desfecho da votação e uma enorme solidariedade por António Costa, que arrostou com o azedume e a chantagem de Cavaco Silva para provar que a direita não tem o alvará para decidir a dimensão do Arco do Poder, tal como nenhum partido de Esquerda o tem para rotular quem é ou não de esquerda e, muito menos, quem é democrata.

A decisão feriu interesses dos mais necessitados, do país, dos autarcas, e o bom senso. Um orçamento que podia ainda ser melhorado em fase da especialidade, mesmo pelos que julgam que todos os limites são possíveis, do endividamento ao défice, da utopia ao aventureirismo, podiam ainda obter ganhos. Preferiram chumbar, sem apelo, o OE.

Continuar a ler