Joseph Praetorius | Poder. Infinitivo verbal. Tema obsessivo do português médio.

Os fracos imaginam o “outro lado” da força que os esmaga. Fantasiam em torno do poder. E que coisa pode ser o poder? 

Uma velha história chinesa sublinha a imaterialidade dessa estranha relação que o poder vai sendo. E diz-nos então que um cavador escavava no sopé de uma montanha e viu passar ao longe o séquito de um príncipe. Não sabemos o que aconteceu. Mas alguém ou alguma coisa o fez aquele príncipe, naquele séquito. Mas o príncipe estava atormentado pelo poder maior do sol de que nenhuma sombrinha conseguia protegê-lo. E pelo mesmo mistério, o cavador se fez sol. Percebeu então que não iluminava – e menos ainda queimava – o que queria, porque as nuvens o limitavam. E porque a nuvem pode mais que o sol, fez-se nuvem. E assim descobriu que a nuvem não vai para onde quer, mas para onde o vento a leva. E foi vento. Mas o vento era barrado e desviado pela montanha. Foi montanha. E olhando para baixo verificou que um cavador a escavava, sem que contra ele pudesse haver qualquer defesa sua. 

Para uns esta história significa que o trabalho é o único poder, para outros significa que o poder reveste apenas a natureza (evidentemente relativa) de uma relação concreta. Na história, curiosamente, o menos poderoso é o príncipe. Porque está simplesmente a passar. 

O poder é imaterial em alguma medida. O único poder ilimitado, com efeito, é o da sugestão lúcida e oportuna. O seu lugar de exercício não é localizável. O seu modo de exercício não é controlável. O seu conteúdo não é impugnável. O carácter determinante que revista no processo de formação da vontade do decisor não é examinável.

O único poder é o da inteligência e do conhecimento. Exerce-se com palavras discretas e, às vezes, um sorriso.

Retirado do Facebook | Mural de Joseph Praetorius