Ópera-performance Sun & Sea | Fundação Calouste Gulbenkian | por André Barata

Em Sun&Sea, a praia é uma janela para a sociedade. Vemo-la de cima e são muitas janelas. Os pensamentos de praia que ocorrem aos veraneantes são umas tantas, a compor um libreto cantado. Ouve-se e vê-se desigualdade, frivolidade, indiferença, compromisso político, encantamentos, diversidade, os corpos a ocuparem-se gestos de afirmação. Os livros ou revistas que eles lêem, o que comem, como se deitam na praia, no que se deitam são outras tantas janelas.

A praia é um caleidoscópio de presenças tácitas, murmúrios para dentro, da sociedade, apresentados sob o mesmo sol, a dividirem o espaço exíguo com espreguiçadeiras, toalhas, esteiras, cangas. Poderia ser uma distopia, ou a imagem dela. Não faltam razões. Nem um cão. E, no entanto, quando termina a ópera resistimos a sair. Já nos despimos alguma coisa, a entrar naquele tempo que conhecemos da praia, que dura o que o Sol der em calor. Talvez a utopia não esteja à distância da praia mais próxima, mas há ali uma força de partilha do Sol e daquele tempo que pode derreter aquela exiguidade que escancara o outro lado das janelas.

Haja praia para todos…

André Barata