Grécia – “A revolta da classe média” – por Carlos de Matos Gomes in “A Viagem dos Argonautas”

Carlos de Matos GomesA crise financeira que começou em 2008 nos Estados Unidos com o subprime e que o sistema financeiro americano fez alastrar como um cancro para as dívidas soberanas da Europa, atacou principalmente aquilo que se designa por classe média e, em particular, as mais vulneráveis, as do sul da Europa, dos países que menos parcelas de produtos transaccionáveis de alto valor acrescentado colocavam (e colocam) no mercado global, os menos industrializados. Era pois natural que fosse esta “classe média” desprotegida e frágil a pagar as favas.

Classe média é um conceito pouco rigoroso, mas contém a ambiguidade que acabou por ser o fermento da revolta que teve a sua expressão nas eleições da Grécia e na vitória do Syriza. Classe média inclui os que têm rendimentos que lhe permitem aceder a um “certo” estatuto, ou que ganharam hábitos de consumo que os fazem julgar que pertencem a essa classe, ou que se sentem com direito a viver como se pertencessem. É um conceito diferente de ser rico, ou pobre, porque para a classe média não existe grande distinção entre o ter e o parecer. A crise destruiu essa ilusão. Quem deixou de ter, deixou de poder parecer que tinha. Passou da classe média à pobreza indisfarçável.

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