PORTUGAL, AS TOURADAS E A ‘CIVILIZAÇÃO’ | José Gabriel Pereira Bastos

O facto de a nova Ministra da Cultura afirmar que prejudicar a tourada à portuguesa é um acto de ‘civilização’ permite constatar o óbvio – há quem ache que a civilização é norte-europeia ou, como dizem os Americanos, é WASP (white, anglo-sexon protestant) e que o Mundo Mediterrânico, polarizadamente católico, não é ‘civilizado’ por ser católico – um mundo de virgens, de santos e procissões, que os protestantes consideram semi-pagão, supersticioso e ‘atrasado’, a necessitar do seu colonialismo civilizacional. Há, por isso, em Portugal, portugueses ‘avançados’, que têm vergonha de serem portugueses e tencionam aproveitar lugares no Aparelho de Estado e no Governo para corrigir o ‘atraso’ civilizacional dos portugueses e nos tornar ‘mais europeus’, isto é, menos diferenciados culturalmente e mais absorvidos pela cultura protestante.
As touradas existem na península ibérica e no sul de França, associadas à pastorícia do gado bovino em liberdade. vigiados por campinos, sobretudo nas margens do Tejo (Ribatejo e Alentejo), originando esse facto cultural que é a tourada à portuguesa.

Têm contra si os que se auto-consideram os mais ‘civilizados’ dos portugueses, um agregado ideológico que forma uma minoria elitista activista, que se sente ‘superior’ aos outros portugueses – os vegan e vegetarianos, que não comem carne, os ecologistas, que são contra o gado bovino, por ser poluente, os ‘protetores dos animais’, que consideram a tourada um ‘divertimento’ marcado pela violência e pela tortura dos touros, algumas feministas, que associam a tourada ao Machismo (como se proibir as touradas acabasse com o machismo) e alguns católicos fanáticos que acham que a tourada é um resíduo dos cultos pagãos que ainda não conseguiram destruir. Uma ‘elite’ sub-cultural, com muito pouca gente, alinhada com a Cultura WASP.

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The Beginning of Infinity | David Deutsch

La portée des explications

Derrière tout cela se trouve sûrement une idée si simple, si belle, que lorsque nous la saisirons – dans une décennie, un siècle ou un millénaire – nous nous dirons tous, comment aurait-il pu en être autrement?

John Archibald Wheeler, Annales de l’Académie des sciences de New York, 480 (1986)

Pour des yeux humains sans aide, l’univers situé au-delà de notre système solaire ressemble à quelques milliers de points brillants dans le ciel nocturne, auxquels s’ajoutent les légères traînées floues de la Voie lactée. Mais si vous demandez à un astronome ce qui se passe réellement dans la réalité, on ne vous parlera pas de points ou de traînées, mais d’ étoiles : des sphères de gaz incandescents de millions de kilomètres de diamètre et à des années-lumière de nous. On vous dira que le soleil est une étoile typique et n’a pas l’air différent des autres parce que nous en sommes beaucoup plus proches, bien qu’à quelque 150 millions de kilomètres. Pourtant, même à ces distances inimaginables, nous sommes certains de savoir ce qui fait briller les étoiles: on vous dira qu’elles sont alimentées par l’énergie nucléaire libérée par la transmutation. – la conversion d’un élément chimique en un autre (principalement de l’hydrogène en hélium).

Certains types de transmutation se produisent spontanément sur Terre, dans la désintégration des éléments radioactifs. Cela a été démontré pour la première fois en 1901 par les physiciens Frederick Soddy et Ernest Rutherford, mais le concept de transmutation était antique. Les alchimistes rêvaient depuis des siècles de «transmuter» des «métaux de base», tels que le fer ou le plomb, en or. Ils n’ont jamais été sur le point de comprendre ce qu’il faudrait faire pour y parvenir, alors ils ne l’ont jamais fait. Mais les scientifiques du vingtième siècle l’ont fait. Et les étoiles aussi, lorsqu’elles explosent en supernovae. Les métaux de base peuvent être transformés en or par des étoiles et par des êtres intelligents qui comprennent les processus qui alimentent les étoiles, mais par rien d’autre dans l’univers.

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25 DE NOVEMBRO 1975 | Eduardo Pitta

Faz hoje 43 anos Portugal esteve à beira da guerra civil. Eu tinha chegado há exactamente dezassete dias, ou seja, naquele 8 de Novembro em que o VI Governo Provisório mandou dinamitar os emissores da Rádio Renascença, controlada pela extrema-esquerda.

Sobre o 25 de Novembro, transcrevo do meu livro de memórias:

«Dias depois desse reencontro aconteceu o 25 de Novembro. Passei o dia no Estoril, a tal ponto alheado dos acontecimentos que fui com o Jorge jantar a Lisboa e a seguir ao cinema. O Galeto teria talvez uma dúzia de clientes, mas no primeiro balcão do Império éramos os únicos espectadores. Só no comboio de regresso a casa soubemos do recolher obrigatório. O passeio impediu que tivéssemos visto Duran Clemente a ser substituído por Danny Kaye — ‘The Man from the Diner’s Club’ foi o sinal inequívoco de que o PREC tinha acabado.

Com a imprensa nacionalizada desde a intentona de 11 de Março de 1975, o Governo impôs um período de nojo. Não se publicaram jornais durante mais de quinze dias. Quem quisesse saber o que se passava em Portugal, ouvia a BBC ou comprava o Monde. A excepção era o Expresso, que durante dois meses (entre 5 de Novembro de 1975 e 7 de Janeiro de 1976) foi bissemanário, saindo às quartas e sábados. A edição extra era feita por Vicente Jorge Silva e Helena Vaz da Silva.

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25 de Novembro e Jaime Neves | por Carlos Matos Gomes in “Medium”

Neste 25 de novembro lembrei-me do Jaime Neves que conheci. E, a propósito da biografia pessoal que dele fez o professor Rui de Azevedo Teixeira, as múltiplas personalidades que todos somos e as muitas sombras que todos projetamos. As imagens que os outros vão criando de cada um de nós. Todas são verdade e nenhuma é a verdade. A biografia tem por título «Jaime Neves, homem de guerra e boémio» e o subtítulo «Jaime Neves por Rui de Azevedo Teixeira». É uma imagem de Jaime Neves criada por um autor, como uma pintura, ou uma fotografia.

Eu não tenho de Jaime Neves a imagem nem como homem de guerra, nem como boémio, embora tenha partilhado com ele a guerra e alguma boémia. Também conheço com alguma intimidade o papel dele no 25 de novembro de 75 e a imagem que dele tenho não é a da mitologia (pequena mitologia) que à sua volta alguns foram criando e que mais não são que a sua colocação numa moldura de circunstâncias, a circunstância da guerra, a circunstância dos excessos dos descansos dos guerreiros entre campanhas e batalhas, o aproveitamento dos guerreiros para fins de tomada de poder por parte dos que não querem correr o risco vida no combate.

Ao longo da vida tive a felicidade, que constitui o meu maior património, para além da minha família, de conhecer e conviver com personalidades extraordinárias, e aqui a palavra é a adequada, que incluem Samora Machel e Aquino de Bragança, generais como Spínola, Costa Gomes e Kaúlza de Arriaga, meus camaradas homens de guerra como Almeida Bruno, Raúl Folques, Santos e Castro, Abreu Cardoso, aventureiros e visionários como Jorge Jardim, seres históricos como Salgueiro Maia, mulheres como Isabel do Carmo, Maria Tereza Horta ou Maria de Lurdes Pintassilgo, até um comissário político da brigada Lister na guerra civil espanhola! E, dessa galeria de figuras, que incluem algumas que nunca referirei, faz parte o Jaime Neves.

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