A União Europeia morreu e ninguém a informou | José Goulão, in AbrilAbril, 02/08/2022

A Europa Ocidental tem apenas mais 20 a 30 anos de democracia; depois disso deslizará sem motor e sem leme sob o mar envolvente da ditadura (…)
                      Willy Brandt, chanceler da República Federal da Alemanha, 1974


Willy Brandt, polémico mas suficientemente lúcido para não fechar pontes em plena guerra fria, era um estadista, espécie entretanto desaparecida como os dinossauros. Governou nos tempos em que se pensava existir uma coisa chamada «social-democracia», que durante as últimas décadas também «deslizou sem motor e sem leme» para a selvajaria neoliberal, a ditadura da economia sobre a política, passo decisivo para a extinção da democracia – como estamos a perceber.

Brandt não era um bruxo; limitou-se a reflectir sobre perspectivas a médio prazo com base na percepção, leitura objectiva das realidades, experiência e intuição que não lhe faltavam porque era um praticante de política, actividade que é um direito geral de cidadania entretanto «promovida» a uma espécie de «ciência oculta» actualmente apenas ao alcance de uma seita de predestinados com capacidade para governar, dominada pela arrogância, a frieza desumana, a irresponsabilidade e a mediocridade, particularidades afinal essenciais num regime autoritário.

As palavras do antigo chanceler alemão, proferidas pouco antes de deixar o cargo, projectam-se na actualidade de maneira tão evidente como inquietante. Acertam em cheio no «deslizamento» da Europa para a ditadura política, completando-se assim o cenário aberto pelo totalitarismo da economia (ditadura do mercado), embora mantendo aparências formais em matéria de direitos cívicos, entretanto ferozmente vigiados e combatidos passo-a-passo por meios antidemocráticos.

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Das moscas do mercado | Carlos Matos Gomes

Das moscas do mercado é uma frase-título do livro «Assim Falava Zaratustra», de Friedrich Nietzsche. “Das moscas do mercado”: “Foge, meu amigo, para a solidão! Vejo-te ensurdecido pelo ruído dos grandes homens e picado pelos ferrões dos pequenos”.

Parece-me uma apreciação adequada ao tempo que vivemos. Os ditos grandes homens, e grandes mulheres, aqueles que determinam a nossa vida venderam-nos um conjunto de felicidades futuras se os apoiássemos na guerra contra a Rússia. O diabolizado presidente da Federação Russa, que invadira a pacífica e ordeira Ucrânia, governada por um quase santo revelado nas televisões locais. Havia que repor a ordem e punir o agressor. Nós, as moscas, éramos convocados para a gesta dos grandes homens e mulheres.

Nietzsche tinha uma opinião sobre os grandes homens e mulheres que governavam o mundo quando chega o momento de verificar o balanço entre promessas e realizações:

“Tornaram-se todos outra vez devotos; estão a rezar, estão doidos!” (…) E, de facto, todos aqueles homens superiores, os dois reis, o Papa aposentado, o maligno enfeitiçador, o mendigo voluntário, o viajante sombra, o velho vaticinador, o consciencioso do espírito e o homem mais feio, estavam de joelhos, todos como crianças ou velhinhas piedosas, e adoravam o burro. E, nesse preciso momento, o homem mais feio começou a gorgolejar e a bufar como se algo inexprimível dele quisesse sair; mas quando, realmente, conseguiu chegar a articular palavras, eis que surdiu uma estranha e devota ladainha para glorificação do adorado e incensado burro. Ora, essa ladainha rezava assim: “Ámen! Louvor, honra, sabedoria, gratidão, recompensa e força ao nosso Deus, de eternidade em eternidade!” Ao que o burro, porém, zurrou: “Hi-han!”

Os grandes homens e mulheres de hoje não parecem muito distintos do retrato que dele fez Nietzsche e zurram, até gritarem: Salve-se quem puder!

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O ESTRANHO CASO DA UE: SUICÍDIO, ASSASSINATO OU EUTANÁSIA? (1) | Artigo publicado em RESISTIR.INF

Terá sido suicídio ou crime? – interroga o inspetor.   A dra. Nikki Alexander (protagonista na série Silent Witness) afirma que a vítima estava em estado terminal devido ao abuso de drogas, mas a sua morte foi induzida.   A análise revelou que estava viciada em neoliberalismo e atlantismo, de que não se conseguiu libertar.

Daniel Vaz de Carvalho

Vassalagem total da UE.

1 – UE, propaganda e distopia

Na UE o que salta à vista desde logo é a incompetência, a ineficácia dos seus dirigentes. Mas não só. Pelos media proliferam comentadores cuja nulidade é aflitiva, autênticos moinhos de palavras, repetem-se exaustivamente sobre os mesmos temas, incapazes de se debruçarem sobre as causas.

A UE entrou no campo da distopia, a utopia negativa, deixou de representar os interesses dos seus países, deixou-se arrastar pela arrogância belicista do que mais negativo veio do outro lado do Atlântico: os neocons, que forjaram uma “ameaça russa”, nova versão da “ameaça russa” do tempo da União Soviética. Neste contexto, a NATO quer que os países dediquem 2% do PIB para o orçamento militar. Mau vai quando o orçamento militar é maior que o da cultura, em Portugal 0,25% da despesa da Administração Central.

Que ameaça representava a Rússia quando nos finais de 2021, propôs um tratado de segurança coletiva aos países ocidentais, dada a expansão da NATO – ao contrário do acordado com Gorbatchov – e o intenso rearmamento da Ucrânia para prosseguir o conflito contra os independentistas antifascistas do Donbass e a Crimeia?

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