D. JOÃO V: DO CONVENTO PARA O BORDEL, por Paulo Marques in Facebook

«Acerca do senhor de Mafra escreveria Voltaire: “quando ele desejava uma festa, organizava uma procissão, quando desejava um novo edifício, construía um convento, quando desejava uma amante, procurava uma freira.

E Voltaire não exagerava. O libidinoso rei teve várias freiras como amantes durante o seu longo reinado, de que terá tido dezenas de filhos, incluindo dois dos três Meninos de Palhavã: o futuro inquisidor-geral, D. José, e o futuro arcebispo de Braga, D. Gaspar. Em 1780, um velho padre italiano recordava D. João V passando “horas de retiro luxurioso numa câmara ornada de espelhos e carpetes, num palácio encantado que comunicava com a clausura de Odivelas”.

Foi aí que encontrou a madre Madalena de Miranda, de quem terá tido D. Gaspar. Mas a sua amante mais famosa foi a madre Paula Teresa da Silva, a pequena freira-concubina de Odivelas que fora objeto das régias atenções durante mais de vinte anos e que deu à luz vários filhos bastardos do rei, incluindo o já mencionado D. José, príncipe de Palhavã.

Na sua predileção por freiras, o rei não estava só. No século XVIII, a diferença entre os conventos de Lisboa e os seus bordéis era praticamente nula. “Pondo de lado as (…) vestes, batom, sinais e diamantes”, as freiras da cidade eram, segundo um observador francês, “pouco mais do que prostitutas de clausura”, que “incitavam (…) à mais refinada galanteria e passavam por ser as eleitas mais atraentes da nobreza portuguesa.” Eram tantos os nobres que buscavam o prazer em conventos que as parteiras se referiam aos recém-nascidos como “pequenos cónegos da Igreja Patriarcal” ou “pequenas monjas capuchinhas”. Ainda hoje se vendem na capital certos docinhos bojudos com o nome de “barrigas de freiras”, “suspiros de freira” e papos-de-anjo”.»

Mark Molesky, O Abismo de Fogo – O Grande Terramoto de Lisboa

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.