Spinoza tem um projeto teológico e um projeto Ético. Um repousa sobre o outro, um conduz ao outro. O projeto teológico de Spinoza é de uma teologia radical, que é delineada no Tratado Teológico-Político, mas é, sobretudo, na Ética que é apresentado com toda a sua potência. É uma teologia do terceiro género.

Da mesma forma que a teologia radical de Spinoza procura suplantar as teologias do primeiro género, teologias do medo e da esperança, assim também a ética spinozana procura suplantar uma moral do bem e do mal, rumo a uma etologia humana.

A reflexão sobre Deus não é um anacronismo ou uma reverência aos sistemas religiosos do seu tempo. É um conceito fundamental, basilar da sua construção conceptual e filosófica. Deus, para Spinoza, como para vários artistas, não é um constrangimento, um conceito-bloqueador, mas antes um lugar de máxima emancipação, criatividade e libertação.

A negação total de Deus (sobretudo do conceito) e o materialismo redutor empobreceram o espírito e justificaram a exploração capitalista, industrializada, da Natureza e do próprio homem. A imagem do Deus tirano foi substituída pelo projeto do homem tirano, nada mudou no mesmo sistema de representações. O homem não se libertou, perpetuou a sua servidão.

Feuerbach achava que podia dispensar do Spinozismo o conceito de Deus, passando de um panteísmo materialista (naturalista seria mais correto) para um materialismo puro e simples. Feuerbach trabalhava com um conceito empobrecido de Deus, do Deus da imaginação e do primeiro género de conhecimento, um Deus-projeção, que representava os anseios do homem da servidão. De lá para cá o ateísmo não tem sido mais criativo e o teísmo também não.

Retornar à Parte I da Ética, ao De Deo, é refletir que futuro queremos para a Filosofia.