As vozes da Bíblia | Frederico Lourenço

Ou …

(Sobre mim, a minha liberdade de ler e entender as Escrituras – e de falar sobre elas – e a minha liberdade na escolha dos critérios com que estou a fazer a minha tradução da Bíblia).

Acredito que Jesus de Nazaré realmente existiu. (E digo isto apesar de já não me considerar formalmente cristão).

Acredito que Jesus interveio publicamente na Galileia e na Judeia, de uma forma que terá sido surpreendente e inovadora no contexto do judaísmo da época. Acredito que isso terá mudado a vida de muitas pessoas que ouviram o som real da voz dele; e acredito que Jesus foi crucificado em Jerusalém na década de 30 do século I.

No entanto, a metodologia histórica que escolhi seguir na minha tradução da Bíblia não me obriga a discutir se Jesus foi uma figura histórica (permitindo-me, porém, admitir que sim). O historicismo da minha metodologia incide na atitude perante os textos: obriga-me a considerar cada livro da Bíblia como entidade histórica própria, que existiu com identidade independente antes de se ter formado aquilo que veio a ser a Bíblia. Por outras palavras, não leio o Antigo Testamento pelo filtro do Novo Testamento, porque os livros do Antigo Testamento foram escritos antes de existir Novo Testamento. Não leio a Escritura judaica pelo filtro do cristianismo pela mesma razão histórica: para mim, o Antigo Testamento não é um «prelúdio» nem um «prenúncio» do Novo Testamento.

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