Gosto muito de si | A senhora é Bonita como o SNS e como a minha Mãe | Paulo Anjos

Não sei quem é o Paulo Anjos. Mas sei que gostaria de ter subscrito o que escreveu. Acrescentaria talvez apenas uma frase – vivam as mulheres, vivam as mães!

Bem haja o Paulo, bem haja Marta Temido (vcs)

Gosto muito de si

Se eu lhe pudesse escrever, dir-lhe-ia que me faz lembrar a Mulher que mais admirei na vida e por quem vivo sempre profundamente apaixonado, a minha Mãe.

Não só por o seu ar frágil , nem pela cor dos seus cabelos, nem por terem olhos da mesma cor e por serem Bonitas , nao.

Mas pela paixão que entrega aos outros, pela luta incansável de querer tratar, de querer curar.

Sabe, a minha Mãe trabalhou no SNS até à morte, e dava tudo por ele , dava tudo fora dele.

Sabe , às vezes eu zangava-me com ela, porque depois de um dia de trabalho , ainda pegava na mala e ia dar uma injeção a um senhor que morava na outra avenida , ainda ia fazer o penso aquela senhora do bairro 25 de Abril , de caminho passava por um pateo do bairro da Comenda para ir algaliar o senhor que morava no pateo , todos os dias, todos os dias era assim , apenas se iam mudando os itinerários.

Acompanho a senhora de longe, sabendo que está cercada por escassos meios , mas caramba , que culpa tem a senhora por décadas de desinvestimento no seu , no meu , no nosso SNS.

Que culpa tem pelas opções de sermos o país da Europa (percapita)com mais Kms de auto estradas de construírem a maior ponte da Europa no sítio mais largo do rio, que culpa a senhora tem dos milhões e milhões gastos em desvarios de banqueiros e em bancos privados , que culpa tem de nao ter médicos , porque centenas e centenas de jovens nao tiveram média de 19 ponto qualquer coisa ,só porque num teste de física ou química tiveram apenas 17 valores e foram obrigados a seguir outras carreiras ou a ir pra outros paises , que culpa é essa que lhe põe nos braços ?

Sabe , eu tenho imenso orgulho em si, porque a senhora nao dispara sobre quem todos os dias , do alto da canalhice a enche de tiros e mina as suas horas de trabalho.

Sabe , eu sou e vou ser-lhe eternamente agradecido pelo seu esforço gigante.

A senhora é Bonita como o SNS e como a minha Mãe.

Obrigado

Paulo Anjos | 27 de Janeiro de 2021 


Há pouco ao abrir isto ,descobri que anda novamente a circular um texto meu de Janeiro 2021, tudo bem.

Hoje , tenho por Marta Temido ainda mais estima e consideração.

Tenho ainda a sorte de amigos que a este propósito partilham cenas do Brecht.


“Um dia, Brecht escreveu um daqueles diamantes breves que rasgam a noite sem contemplações.

Escapei aos tubarões

Abati os tigres

Fui devorado

Pelos percevejos.

Marta Temido conquistou legitimidade para o fazer seu.”


Paulo Anjos | 01/09/2022

Ah, políticos como nós. Que refrescante! | por Mafalda Anjos | in Revista Visão

Os comentários acerca das lágrimas de Marta Temido mostram um equívoco enorme acerca da massa de que deve ser feito um líder e o mesmo machismo persistente em relação a mulheres em cargos de direção.

Uma das grandes epidemias deste século é a da falta de empatia. A tecnologia que colocou vários ecrãs entre nós e os outros tornou-nos menos capazes de ler quem está do lado de lá, de os sentir e de nos colocarmos no seu lugar. É cada vez mais raro alguém experimentar caminhar nos sapatos de outra pessoa, como dizem os ingleses, antes de tecer considerações sobre ela.

Desde o início da pandemia que Marta Temido e Graça Freitas têm sido sujeitas a esta epidemia da falta de empatia e a críticas que não teriam sido feitas a homens se estivessem nos lugares delas. Desde março que a sociedade portuguesa destila todo o seu preconceito em comentários maldosos que nada têm a ver com reparos à sua atuação, mas ao simples facto de lhes faltar a hormona da testosterona.

Quantas vezes ouviram que a tarefa de fazer face a uma pandemia é demasiado árdua para estar a cargo de duas mulheres? Que não têm força para isto, nem “tomates” para as decisões que é preciso tomar? Ou comentários infelizes aos dentes, aos alfinetes de peito, ao que vestem e como se apresentam? Eu li e ouvi centenas, milhares. Demasiados para o que seria de esperar em 2020. Não tenhamos dúvidas: liderar é difícil, liderar sendo mulher mais ainda. Sei do que falo.

Ontem, Marta Temido chorou em público e durante a tarde não se falou de outra coisa. Os comentários foram os mais variados, muitos deles irreproduzíveis aqui, tal e qual como quando se soube que Graça Freitas estava contaminada com Covid-19. A maioria tinha duas coisas em comum: um equívoco enorme acerca da massa de que deve ser feito um líder e o mesmo machismo persistente em relação a mulheres na política ou em cargos de direção.

Merkel, Lula da Silva, Jacinda Ardern, Obama e até mesmo Putin, imagine-se, já choraram em público. Um político não se pode emocionar? E não se pode irritar? Uma diretora-geral da Saúde não pode adoecer? Podem sim. Não só podem, como eu diria mesmo que é refrescante quando isso acontece. É sinal de que os dirigentes, políticos ou técnicos, são feitos da mesma massa do que os outros de nós, que são humanos, que também têm um coração que bate do lado esquerdo e um cérebro que funciona por sinapses. É sinal que têm consciência da repercussão das suas decisões nas vidas alheias e do peso da responsabilidade que assumem. É sinal de que não são robots analíticos desprovidos de humanismo.

Não se imagina o enorme fardo da tarefa que Marta Temido e Graça Freitas desempenham ininterruptamente desde março. As imensas dúvidas que terão tido, as decisões que tiveram de tomar não estando detentoras de toda a informação normalmente confortável para o fazer, os complexos dilemas que tiveram de ultrapassar, a frustração que sentiram perante a falta de recursos e de meios com que têm de atuar.  

Muitas vezes discordei das suas opções e muitas outras critiquei as suas decisões e declarações. Sim, é claro que cometeram vários erros. Mas esperar outra coisa é não ter noção nenhuma do que é conduzir a pasta da Saúde durante uma pandemia com um novo vírus.

Estamos cá para continuar a escrutinar. Quando tudo passar, será a História com o distanciamento devido a avaliar o seu legado e o seu desempenho. Creio que, perante as circunstâncias, não se estão a sair mal – mas ainda faltam os últimos quilómetros decisivos desta maratona, nomeadamente o plano de vacinação.

No entanto, desde já, uma coisa reconheço e agradeço a estas duas senhoras: a sua imensa resiliência, persistência e espírito de sacrifício, a sua quase inesgotável capacidade de trabalho, o seu talento para a gestão de crise com tato e serenidade. Atrevo-me a dizer que poucos seriam os homens à altura deste desafio. 

MAFALDA ANJOS DIRETORA da Revista Visão

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