O Twitter e as costas largas da liberdade | Pedro Marques Lopes | in revista Visão

“ A concentração de poder económico em meia dúzia de pessoas teria, cedo ou tarde, consequências políticas sérias. A capacidade de companhias, como a Amazon, a Apple, a Microsoft, o Facebook ou o Twitter, abafarem a possibilidade de empresas do setor fazerem concorrência foi só o princípio (e como noutros momentos da História não faltaram avisos) de um controlo assustador. Ninguém pode admirar-se se o próximo passo for a conquista do poder político, e, para isso, nada mais eficaz do que controlar a opinião, gerar desejos, criar perceções. Dinheiro não é problema.”

Revista Visão desta semana

https://visao.sapo.pt/opiniao/politicamente-correto/2022-05-05-o-twitter-e-as-costas-largas-da-liberdade/?fbclid=IwAR3Gf4i2_4cm2Pb41SCaekgInXfV-WWATWY15FVUl42wtAhR6GnR2ByRS_s

A teologia de Jesus | por JOSÉ BRISSOS-LINO in Revista Visão 16.02.22 | sobre texto de Viriato Soromenho Marques

Se um dia boa parte dos teólogos e das igrejas cristãs tiverem a coragem de se centrar efectivamente no discurso e obra do Mestre de Nazaré, deixando de lado o corpo das respectivas tradições, terão um choque ao verificar quão distantes se encontram daquilo a que podemos chamar a teologia de Jesus.

Grande parte das atuais controvérsias no campo religioso cristão, mas também das tensões entre este e o mundo secular relacionam-se com aquilo que S. Paulo denomina “preceitos e doutrinas de homens”: “As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens. As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne” (Colossenses 2:22,23). Com efeito, o que os textos neotestamentários nos fornecem relativamente tanto à palavra como à ação do Cristo dos evangelhos, parece ir em contramão com a pregação, os preceitos e a praxis do cristianismo como o conhecemos, nas suas diferentes versões.

Em obra recentemente publicada (“A Teologia de Jesus: Tudo o que o Mestre falou”, Lisboa: Ed. Univ. Lusófonas, 2021) e que Viriato Soromenho Marques me deu a honra de prefaciar, procurei abordar a questão, com apoio de um esforçado colaborador nesta investigação (Vitor Rafael).

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Basta olhar em volta | Viriato Soromenho Marques | in Revista Visão

A seu modo Não Olhem para Cima é uma reflexão sobre a fase terminal da era do niilismo em que há muito entrámos. Cuja porta de saída nos obriga a pensar se alguma vez a liberdade humana foi algo mais do que uma ilusão.

Quando em 15 de Outubro de 1940, O Grande Ditador, de Charlie Chaplin, estreou nas salas de cinema dos EUA não sei se o público terá sentido aquele libertar de tensão que esse imorredoiro e inspirado filme merece, quando apreciado a uma distância temporal conveniente. Nessa altura, apesar de os EUA não terem ainda entrado diretamente no conflito, os tambores de guerra ouviam-se já, tanto dos lados do Atlântico como das bandas agitadas do Pacífico. Apesar do desejo de paz, os cidadãos norte-americanos devem ter sentido alguma amargura perante a caricatura de Hitler, que na altura tinha a Europa a seus pés, com a exceção da Grã-Bretanha de Churchill.

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Ah, políticos como nós. Que refrescante! | por Mafalda Anjos | in Revista Visão

Os comentários acerca das lágrimas de Marta Temido mostram um equívoco enorme acerca da massa de que deve ser feito um líder e o mesmo machismo persistente em relação a mulheres em cargos de direção.

Uma das grandes epidemias deste século é a da falta de empatia. A tecnologia que colocou vários ecrãs entre nós e os outros tornou-nos menos capazes de ler quem está do lado de lá, de os sentir e de nos colocarmos no seu lugar. É cada vez mais raro alguém experimentar caminhar nos sapatos de outra pessoa, como dizem os ingleses, antes de tecer considerações sobre ela.

Desde o início da pandemia que Marta Temido e Graça Freitas têm sido sujeitas a esta epidemia da falta de empatia e a críticas que não teriam sido feitas a homens se estivessem nos lugares delas. Desde março que a sociedade portuguesa destila todo o seu preconceito em comentários maldosos que nada têm a ver com reparos à sua atuação, mas ao simples facto de lhes faltar a hormona da testosterona.

Quantas vezes ouviram que a tarefa de fazer face a uma pandemia é demasiado árdua para estar a cargo de duas mulheres? Que não têm força para isto, nem “tomates” para as decisões que é preciso tomar? Ou comentários infelizes aos dentes, aos alfinetes de peito, ao que vestem e como se apresentam? Eu li e ouvi centenas, milhares. Demasiados para o que seria de esperar em 2020. Não tenhamos dúvidas: liderar é difícil, liderar sendo mulher mais ainda. Sei do que falo.

Ontem, Marta Temido chorou em público e durante a tarde não se falou de outra coisa. Os comentários foram os mais variados, muitos deles irreproduzíveis aqui, tal e qual como quando se soube que Graça Freitas estava contaminada com Covid-19. A maioria tinha duas coisas em comum: um equívoco enorme acerca da massa de que deve ser feito um líder e o mesmo machismo persistente em relação a mulheres na política ou em cargos de direção.

Merkel, Lula da Silva, Jacinda Ardern, Obama e até mesmo Putin, imagine-se, já choraram em público. Um político não se pode emocionar? E não se pode irritar? Uma diretora-geral da Saúde não pode adoecer? Podem sim. Não só podem, como eu diria mesmo que é refrescante quando isso acontece. É sinal de que os dirigentes, políticos ou técnicos, são feitos da mesma massa do que os outros de nós, que são humanos, que também têm um coração que bate do lado esquerdo e um cérebro que funciona por sinapses. É sinal que têm consciência da repercussão das suas decisões nas vidas alheias e do peso da responsabilidade que assumem. É sinal de que não são robots analíticos desprovidos de humanismo.

Não se imagina o enorme fardo da tarefa que Marta Temido e Graça Freitas desempenham ininterruptamente desde março. As imensas dúvidas que terão tido, as decisões que tiveram de tomar não estando detentoras de toda a informação normalmente confortável para o fazer, os complexos dilemas que tiveram de ultrapassar, a frustração que sentiram perante a falta de recursos e de meios com que têm de atuar.  

Muitas vezes discordei das suas opções e muitas outras critiquei as suas decisões e declarações. Sim, é claro que cometeram vários erros. Mas esperar outra coisa é não ter noção nenhuma do que é conduzir a pasta da Saúde durante uma pandemia com um novo vírus.

Estamos cá para continuar a escrutinar. Quando tudo passar, será a História com o distanciamento devido a avaliar o seu legado e o seu desempenho. Creio que, perante as circunstâncias, não se estão a sair mal – mas ainda faltam os últimos quilómetros decisivos desta maratona, nomeadamente o plano de vacinação.

No entanto, desde já, uma coisa reconheço e agradeço a estas duas senhoras: a sua imensa resiliência, persistência e espírito de sacrifício, a sua quase inesgotável capacidade de trabalho, o seu talento para a gestão de crise com tato e serenidade. Atrevo-me a dizer que poucos seriam os homens à altura deste desafio. 

MAFALDA ANJOS DIRETORA da Revista Visão

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