SPINOZA E A LIBERDADE, por Marcos Bazmandegan, in “Saúde mental e espiritual com Mary”/Facebook

“Spinoza contrapôs a Liberdade Humana (tema da Ética V) à Servidão Humana (tema da Ética IV), definindo servidão como a “impotência humana para regrar e reprimir os afectos.” (E4, pref.). Onde logo acrescenta: “o homem sujeito aos afectos não está sob jurisdição de si próprio, mas da fortuna, em poder da qual está de tal maneira que, apesar de ver o melhor para si, é, no entanto, amiúde coagido a seguir o pior.” (E4, pref.).

A servidão é, portanto, a nossa impotência de agir face à coação de causas externas contrárias à razão, que determina aquilo que é mais útil à conservação do nosso ser. Por sermos parte da natureza, limitados e superados pela potência das causas exteriores, sofremos, isto é, estamos submetidos à servidão dos afectos e necessariamente sujeitos às paixões. A servidão é, deste modo, uma condição humana universal.

Só somos livres quando, na medida das nossas forças, somos a causa adequada das nossas ações, isto é, quando entendemos a ordem e a conexão das coisas, agindo adequadamente para a conservação do nosso ser. E grande parte desse entendimento passa por compreender que “um afecto não pode ser reprimido, nem suprimido, a não ser por um afecto contrário e mais forte do que o afecto a reprimir.” (E4, prop. 7). Em suma, não temos o poder de alterar os efeitos dos afectos com que somos afectados, mas temos a possibilidade de escolher alguns dos afectos a que queremos estar sujeitos. Nessa possibilidade reside a nossa difícil liberdade, tão árdua quão rara de ser alcançada.

A verdadeira Liberdade Humana não é, pois, universal, nem garantida à partida: vai sendo conquistada.

(Por Marcos Bazmandegan)