Oh, que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava! Que afagos tão suaves! Que ira honesta, Que em risinhos alegres se tornava! O que mais passam na manhã e na sesta, Que Vénus com prazeres inflamava, Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo, Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo.
Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o rneu amor nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa, in “Viagem Através de uma Nebulosa”
«𝐋𝐨𝐬 𝐥𝐢𝐛𝐫𝐨𝐬 𝐧𝐨 𝐬𝐞 𝐡𝐚𝐧 𝐡𝐞𝐜𝐡𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐜𝐫𝐞𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐥𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐝𝐢𝐜𝐞𝐧, 𝐬𝐢𝐧𝐨 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐪𝐮𝐞 𝐥𝐨𝐬 𝐚𝐧𝐚𝐥𝐢𝐜𝐞𝐦𝐨𝐬. 𝐂𝐮𝐚𝐧𝐝𝐨 𝐜𝐨𝐠𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐮𝐧 𝐥𝐢𝐛𝐫𝐨, 𝐧𝐨 𝐝𝐞𝐛𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐩𝐫𝐞𝐠𝐮𝐧𝐭𝐚𝐫𝐧𝐨𝐬 𝐪𝐮𝐞́ 𝐝𝐢𝐜𝐞, 𝐬𝐢𝐧𝐨 𝐪𝐮𝐞́ 𝐪𝐮𝐢𝐞𝐫𝐞 𝐝𝐞𝐜𝐢𝐫, 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐯𝐢𝐞𝐫𝐨𝐧 𝐦𝐮𝐲 𝐛𝐢𝐞𝐧 𝐥𝐨𝐬 𝐯𝐢𝐞𝐣𝐨𝐬 𝐜𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚𝐝𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐞 𝐥𝐚𝐬 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐢𝐭𝐮𝐫𝐚𝐬.» En un mundo saturado de información, donde cada segundo se generan millones de palabras en libros, redes sociales, medios y plataformas digitales, estas frases de hoy, de Umberto Eco, nos llegan con una urgencia casi profética.
Com quase trezentos anos de história e um catálogo que atravessa séculos de cultura, a Bertrand Editora lança a obra de Fernando Pessoa em língua inglesa. I Am the Size of Whatever I See é uma seleção cuidada e representativa da poesia de Fernando Pessoa, que reúne poemas do próprio autor e dos seus três principais heterónimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Esta edição, traduzida pelo poeta e premiado tradutor literário Calvin Olsen, pretende levar a obra de Pessoa a novos leitores e públicos internacionais, mantendo a qualidade literária e a sensibilidade poética dos textos originais. Olsen, que leciona atualmente na Ohio State University, tem vindo a destacar-se no panorama da tradução contemporânea pela sua capacidade de recriar, em inglês, a complexidade e musicalidade de grandes autores da literatura portuguesa.
Publicada pela Bertrand Editora, uma das editoras mais antigas da Europa em atividade, esta edição em língua inglesa assume-se como uma porta de entrada ideal para quem quer descobrir — ou redescobrir — a riqueza do universo de Pessoa.
I Am the Size of Whatever I See celebra o génio universal de Fernando Pessoa e reforça o compromisso da Bertrand Editora com a promoção da literatura portuguesa além-fronteiras.
Retirado do Facebook | Mural de José Alberto Pitacas
“A fadiga que sentimos não é tanto do trabalho acumulado, mas de um quotidiano feito de rotina e de vazio. O que mais cansa não é trabalhar muito. O que mais cansa é viver pouco. O que realmente cansa é viver sem sonhos.”
Em “Maroceano”, seu novo livro, a potiguar Marize Castro dialoga em versos com outras grandes poetas
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Uma série de poemas dedicados a mulheres que abrilhantaram o cenário das letras no Brasil e no mundo é o que o leitor vai encontrar no novo livro da poeta e jornalista Marize Castro (1962), Maroceano (Natal, Una Editora, 2024). A exemplo do que fez em livros anteriores, a autora procura mostrar as lições que recebeu ao ler as obras de poetas que marcaram época na história da literatura universal, como a britânica Virginia Woolf (1882-1941), a norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), a norte-americana Laura Riding (1901-1999), a russa Marina Tsvetaeva (1892-1941), a portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), a brasileira Cecília Meireles (1901-1964) e a ucraniana de origem judaica naturalizada brasileira Clarice Lispector (1920-1977), transformando-as em peças literárias que se destacam por um estilo fluído e adornadas por passagens extremamente líricas e suaves.
(…) Pois agora não precisava pensar em ninguém. Podia ser ela mesma, ela só. E era disso que agora, frequentemente, sentia necessidade – de pensar; bom, nem mesmo pensar. Ficar calada; ficar só.
— Virginia Woolf, no livro “Ao Farol”. (Editora Autêntica; 1.ª edição [2013]).
Obra: “New Model”, 1993 – Nigel van Wieck.Retirado do Facebook | Mural de Miette Borges
Poeta recebe homenagem em capítulo especial na XV Coletânea Século XXI
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Resultado da XV Seletiva Nacional de Poesia, que contou com a participação de escritores de todo do País, a XV Coletânea Século XXI (Volta Redonda-RJ, PoeArt Editora, 2024), além de poemas de setenta e quatro escritores de doze Estados e do Distrito Federal que participaram do evento, dedica um capítulo especial ao poeta Anderson Braga Horta, a propósito da passagem, em 2024, de seus 90 anos de idade e mais de 70 anos de atividade literária. O capítulo reúne, além de uma breve entrevista com o poeta, vinte poemas de sua lavra e quinze comentários inéditos que abordam diversos aspectos de sua extensa obra.
Se a poesia é um veículo para a expressão e a exploração das emoções, praticamente, qualquer poema de Anderson Braga Horta constitui um exemplo bem acabado dessa assertiva aristotélica. Ou seja, suas palavras falam diretamente aos ouvidos do leitor, mexendo com suas lembranças e emoções. É o que se pode comprovar neste poema que tem por título “Pureza”, do livro Cronoscópio (1983), em que o poeta evoca sua infância.
Retirado do Facebook | Mural “Florbela Espanca de Portugal e do Mundo”
Florbela Espanca, batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa.
Viver intensamente é o lema da vida de Florbela Espanca. Reconhecida como uma das principais poetisas portuguesas, a artista viveu apenas 36 anos (1894-1930), mas expressou em seus versos sentimentos profundos em relação ao amor, sofrimento, saudade, solidão e morte.
Escreveu contos, poesias, cartas, mas é considerada a poetisa do soneto. Apesar disso, seus poemas não são todos moldados por uma métrica formal. Foi muito criticada por trabalhar com uma escrita muito voltada para o “eu”, mas tal escolha hoje é vista como uma inovação, pois Florbela representa a emancipação literária de mulheres, numa época em que a palavra só era valorizada quando vinda de homens.
A autora escreveu quase 150 poemas, sendo o primeiro escrito com apenas oito anos de idade, quando, segundo suas próprias palavras “já as coisas da vida me davam vontade de chorar”.
A Desobediente, já na 7.ª edição, mais do que uma narrativa biográfica, é uma conversa íntima, em vários momentos sussurrada ao ouvido, com uma mulher, poetisa, mãe, ativista política e uma das vozes mais influentes e inquebrantáveis de Portugal.
A cerimónia de entrega do prémio decorreu ontem, dia 5 de junho, pelas 17h, na Feira do Livro de Lisboa, e contou com a presença da autora, que participou numa conversa com Maria João Costa.
Criado em 2022, este prémio tem como objetivo reconhecer a melhor obra original em língua portuguesa, de autor lusófono, publicada no ano anterior. Nesta 3.ª edição, a escolha de A Desobediente, da autoria de Patrícia Reis, coube a mais de quatrocentos livreiros da rede de livrarias Bertrand, que elegeram a obra vencedora de entre os dez finalistas apurados no âmbito do Prémio Livro do Ano Bertrand 2024. O vencedor é reconhecido com um lugar de destaque nas livrarias Bertrand e um prémio pecuniário no valor de dez mil euros.
Para mais informações, consulte a nota de imprensa aqui. Para marcação de entrevistas com o autor, p.f. responda a este e-mail.
Esta lista foi elaborada a partir da minha própria formação e dos meus interesses intelectuais, reunindo obras que considero fundamentais para quem busca um contato profundo com as grandes tradições da filosofia, da literatura, da política e da cultura.
Embora não se trate de uma seleção rígida ou definitiva — afinal, cada leitor poderá acrescentar títulos e autores segundo sua vivência e sensibilidade —, ela serve como um guia confiável para uma formação sólida, ampla e duradoura. Organizada em ordem cronológica, contempla textos que atravessam séculos e civilizações, oferecendo uma base rica para o desenvolvimento do pensamento, da imaginação e da vida interior.
Acrescento, por fim, que esta lista, apesar de extensa, não esgota os autores que admiro. Muitos nomes ficaram de fora — e isso não por desmerecimento, mas por limites de espaço e de foco. Se incluísse todos, ultrapassaríamos facilmente a casa das centenas. Ainda assim, o que aqui se apresenta é, creio eu, um conjunto robusto e inspirador, digno de quem deseja se formar com profundidade..
Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento.
Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra – mistério profundo – de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.
Retirado do Facebook | Mural de “Eu Já Te Contei”?
A frase mais bonita que já li sobre Lorca é esta.
Lorca não falava só de barriga cheia, falava de alma alimentada. Atacava com coragem os que defendem apenas as necessidades do corpo, esquecendo que a fome mais cruel é a do espírito. É fácil matar a fome com pão, mas quem sacia a fome de saber?
Ele sabia que um povo sem cultura é um povo acorrentado. Sem livros, o homem é reduzido a uma máquina, escravo de engrenagens que não sente, não pensa, não sonha.
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor baço da terra Que é Portugal a entristecer — Brilho sem luz e sem arder Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
Eu queria mais altas as estrelas, Mais largo o espaço, o Sol mais criador, Mais refulgente a Lua, o mar maior, Mais cavadas as ondas e mais belas;
Mais amplas, mais rasgadas as janelas Das almas, mais rosais a abrir em flor, Mais montanhas, mais asas de condor, Mais sangue sobre a cruz das caravelas!
E abrir os braços e viver a vida: – Quanto mais funda e lúgubre a descida, Mais alta é a ladeira que não cansa!
E, acabada a tarefa… em paz, contente, Um dia adormecer, serenamente, Como dorme no berço uma criança!
Com as autoras Raquel Serejo Martins, Catarina Santiago Costa, Inês Dias, Marta Magalhães, Rosalina Marshall, Renata Correia Botelho, Cláudia Lucas Chéu, Marta Chaves, Filipa Leal, Inês Fonseca Santos, Raquel Nobre Guerra, Yara Nakahanda Monteiro, Cláudia R. Sampaio, Raquel Gaspar Silva, Catarina Nunes de Almeida, Minês Castanheira, Raquel Lima, Gisela Casimiro, Beatriz Hierro Lopes, Tatiana Faia, Sara F. Costa, Inês Francisco Jacob, Mafalda Sofia Gomes, Beatriz de Almeida Rodrigues e Sara Duarte Brandão.
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
Marcelo Rebelo de Sousa e Lula da Silva entregaram juntos o Prémio Camões 2024 atribuído a Adélia Prado. Os presidentes de Portugal e Brasil elogiaram a obra da poetisa brasileira.
I Um panorama do que os literatos produziram no Estado de Goiás em quase três séculos é o que traz o livro Goiás + 300 – Literatura, volume V de um box que reúne mais duas obras – Cronistas e Viajantes, volume IV, e Povos Originários, volume VI. O volume V é formado por 23 capítulos que contam com a participação de 28 autores e foi organizado por Goiandira Ortiz de Camargo, doutora em Literatura Brasileira, pós-doutora em Poesia Brasileira e professora aposentada da Universidade Federal de Goiás (UFG), Maria Severina Guimarães, doutora e pós-doutora em Estudos Literários pela UFG e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), e Bento Jayme Fleury Curado, doutor (UFG) e pós-doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo (USP), professor da Secretaria de Educação de Goiás e sócio do Instituto Cultural e Educ acional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (Icebe).
Em novo livro, o poeta exercita a arte dos limeriques e recupera aforismos e ditados tradicionais | Adelto Gonçalves (*)
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Ao contrário do haikai, um tipo de poema de origem japonesa, mas muito popularizado no Brasil e exercitado por grandes nomes como Guilherme de Almeida (1890-1969), Paulo Leminski (1944-1989) e Millor Fernandes (1923-2012), o limerique, poema de forma fixa composto por cinco versos, com a primeira, a segunda e a quinta linhas terminando com a mesma rima, ainda é pouco conhecido entre os leitores de língua portuguesa. Trata-se de uma forma poética que, a rigor, não oferece muita poesia, mas que flerta com o humorismo e a irreverência, sendo utilizado para se contar uma piada ou uma boutade, de maneira criativa e concisa, ou seja, uma tirada espirituosa. Ou repetir um aforismo, explicitando uma regra ou princípio de alcance moral.
“Temo somente uma coisa, não ser digno do meu tormento.” Fiódor Dostoiévski/Eu pertenço a momentos rápidos e fúteis de sentimentos intensos. Sim, pertenço a momentos. Não para as pessoas. Virgínia Woolf./Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo. Michel Foucault./
A sede da UBE-RJ a cada dois anos escolhe livros de qualidade técnico-editorial de renome para serem premiados, em confraternização que acontece na cidade maravilhosa. Entre os escolhidos para o biênio 2023/2024 está o livro ALUCILMNAS de Silas Correa Leite, que evoca, homenageia, referencia e reverbera e em tese continua a singular e portentosa obra da poeta norte-americana Sylvia Plath.
«A vida de Du Fu, no auge da sua criatividade, foi passada como um refugiado na estrada, deslocando-se de um lugar para outro», escreve Michael Wood na introdução do livro e conta que foi no outono de 2019 que partiu em viagem seguindo os passos que o poeta deu. O autor passou por vários locais e confessa que descobriu não só a história deste, como uma China antiga.
A carreira de Du Fu (712-770), o maior poeta da China, coincidiu com períodos de fome, guerra e migração interna, mas a sua visão filosófica secular, aliada à sua empatia com as pessoas comuns, transformou-o na voz do povo chinês. A amizade, a família, a beleza da natureza, o amor e o sofrimento humano são alguns dos temas da sua obra e que se caracterizam pela abrangência e intemporalidade, tocam todas as pessoas e todas as épocas, tanto agora como há quase 1300 anos. No livro é possível ler algumas passagens da sua poesia.
«Há Shakespeare, há Dante e há Du Fu: estes são poetas que criaram os próprios valores pelos quais a poesia é julgada; eles definiram o vocabulário emocional da sua cultura», constatou Stephen Owen, o tradutor americano do poeta. Para a edição nacional a tradução foi feita por Magda Barbeita, docente do Instituto Camões na Universidade de Comunicação da China e responsável pelo Centro de Língua Portuguesa de Pequim desde 2019.
Este livro acompanha o filme da BBC Du Fu: China’s Greatest Poet, criado por Michael Wood e com Sir Ian McKellen na leitura de poemas de Du Fu. | A obra chega às livrarias a 14 de novembro.
A tarde ardia em cem sóis O verão rolava em julho. O calor se enrolava no ar e nos lençóis da datcha onde eu estava, Na colina de Púchkino, corcunda, o monte Akula, e ao pé do monte a aldeia enruga a casca dos telhados.
Era uma Mulher que escrevia explicitamente sobre sexo do ponto de vista feminino, mas também sobre a beleza das emoções. Adorada por alguns, odiada por muitos e incompreendida pela maioria, Anaïs Nin nasceu na França, na área metropolitana de Paris, em 21 de fevereiro de 1903.
Tinha dois irmãos. Seu pai, Joaquin Nin, era pianista e compositor, e sua mãe, Rosa Culmell, uma cantora de formação clássica. Ambos nasceram em Cuba.
Talvez seja por isso que Anaïs desde criança se sentiu atraída pelo mundo da arte.
Quando ela tinha 10 anos, a família de seu pai mudou-se para Barcelona, e abandona-os.
I Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos Ser poeta não é ambição minha É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes Por imaginar, ser cordeirinho (Ou ser o rebanho todo Para andar espalhado por toda a encosta A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo), É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol, Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos, Escrevo versos num papel que está no meu pensamento, Sinto um cajado nas mãos E vejo um recorte de mim No cimo dum outeiro, Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias, Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho, E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem, Tirando-lhes o chapéu largo Quando me vêem à minha porta Mal a diligência levanta no cimo do outeiro. Saúdo-os e desejo-lhes sol, E chuva, quando a chuva é precisa, E que as suas casas tenham Ao pé duma janela aberta Uma cadeira predileta Onde se sentem, lendo os meus versos. E ao lerem os meus versos pensem Que sou qualquer cousa natural – Por exemplo, a árvore antiga À sombra da qual quando crianças Se sentavam com um baque, cansados de brincar, E limpavam o suor da testa quente Com a manga do bibe riscado.
Poeta faz da evocação da mãe que não teve a música inominável de sua poesia
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Em poucos poetas antigos ou modernos brasileiros (para não se dizer nenhum), a evocação da mãe é tão presente e tão luminosa como em Adalberto de Queiroz (1955), que foi educado como órfão em abrigo de Anápolis, no interior de Goiás, de onde saiu só em 1973 para cursar Física na Universidade Federal de Goiás (UFG). Poeta, jornalista e ensaísta, Queiroz, em 2021, lançou a segunda edição, revista e repensada, de Cadernos de Sizenando, publicado em 2014, livro de poemas que “saem da angústia para o enfrentamento da realidade”, como definiu no prefácio o escritor Iúri Rincon Godinho, membro da Academia Goiana de Letras.
Tradução de livro traz os últimos poemas de um dos mais representativos poetas da geração beat
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Um dos membros mais destacados da chamada geraçãobeat norte-americana, que reuniu também Jack Kerouac (1922-1969), Allen Ginsberg (1926-1997) e William Burroughs (1914-1997), Gregory Corso (1930-2001), poeta prolífico e marginalizado, autor de mais de duas dezenas de obras lançadas nos Estados Unidos, tem agora os seus derradeiros trabalhos publicados em português, em tradução de Márcio Simões, no livro Últimospoemas (Natal-RN, Sol Negro Edições, 2023). Em edição bilíngue, a obra traz introdução do escritor e editor norte-americano Raymond Foye, que conheceu pessoalmente o poeta em abril de 1973 num simpósio sobre Jack Kerouac, em Massachusetts, e com ele manteve amizade desde então.
12/04/2021| Poesia e poema de autor anglo-indianio. Rudyard Kipling nasceu em Bombaim, então Índia britânica, a 30 de dezembro de 1865.
Iniciou a sua carreira literária em 1886 com a publicação do volume de poemas Departmental Ditties, afirmando-se rapidamente se como um dos escritores mais populares do Reino Unido, quer na poesia quer na prosa. Em 1894 lançou O Livro da Selva, que viria a consolidar-se como clássico juvenil por todo o mundo. O Segundo Livro da Selva foi publicado no ano seguinte e Kim, considerada a sua obra mais conseguida, saiu em 1901. Em 1907 tornou-se o primeiro autor de língua inglesa a receber o Prémio Nobel da Literatura e é, até hoje, o mais jovem escritor a quem foi atribuída a distinção (tinha 41 anos). Rudyard Kipling morreu em Londres, a 18 de janeiro de 1936.
Tradução de livro de 1929 traz versos do mais lido e conhecido dos surrealistas franceses
I Estabelecida em Natal, no Rio Grande do Norte, a Sol Negro Edições, uma das raras editoras brasileiras de fora do eixo Rio-São Paulo e que se tem tornado conhecida por editar livros artesanais em pequenas tiragens com boa qualidade literária e gráfica, acaba de lançar Oamorapoesia (L´Amourlapoésie), obra de 1929, do poeta francês Paul Éluard (1895-1952), em edição bilíngue, com tradução de Eclair Antônio Almeida Filho e Márcio Simões e ilustrações de Zoé Parisot.
A tênue película que nos separa deste mundo (João Pessoa-PB, Ideia Editora, 2024), que obteve o primeiro lugar no Concurso Nacional de Literatura da União Brasileira de Escritores (UBE), da Paraíba, é o primeiro livro de ficção de Ademir Demarchi, poeta consagrado com mais de uma dezena de livros publicados no gênero, além daqueles que reúnem ensaios e crônicas. Obra de inspiração onírica, seu novo livro traz pequenos relatos escritos a partir de sonhos ou mesmo pesadelos que, muitas vezes, beiram o fantástico, fazendo o leitor penetrar num universo kafkiano em que as regras são dominadas ou violadas pela imaginação
Luís Filipe Castro Mendes cita Manuel António Pina no início de Tentação da Prosa (Exclamação, 2024) – Poesia, saudade da prosa, e assim se compreende o ofício da escrita. E Francisco Seixas da Costa diz, na nota inicial: “Conhecia-lhe já a prosa, a sua limpidez, a riqueza vocabular, o fluir fácil e elegante no estilo, saído de alguém para quem a produção de textos constitui um óbvio ato de prazer.” E estas crónicas “espelham alguém (…), já sem algumas das ilusões geracionais, mas com notas permanentes de esperança e de otimismo”. E assim há “uma imensa e invejável felicidade” na busca dos acontecimentos e das leituras… “É das coisas miúdas que se fazem os grandes encontros”.