Citando o Professor Agostinho da Silva

(…..)Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; bate-lhes no peito um coração de altos senhores; se vieram parar a este lado da batalha foi porque os acidentes os repeliram das trincheiras opostas ou aqui viram maneira mais segura de satisfazer o vão desejo de mandar; nestes não encontraremos a frase preciosa, a afectada sensibilidade, o retoque literário; preferem o estilo de barricada; mas, como nos outros, é o som do oco tambor retórico o último que se ouve.
Só um grupo reduzido defende o povo e o deseja elevar sem ter por ele nenhuma espécie de paixão; em primeiro lugar, porque logo reprimiriam dentro em si todo o movimento que percebessem nascido de impulsos sentimentais; em segundo lugar, porque tal atitude os impediria de ver as soluções claras e justas que acima de tudo procuram alcançar; e, finalmente, porque lhes é impossível permanecer em êxtase diante do que é culturalmente pobre, artisticamente grosseiro, eivado dos muitos defeitos que trazem consigo a dependência e a miséria em que sempre o têm colocado os que mais o cantam, o admiram e o protegem.
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A Filha das Flores, de Vanessa da Mata

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Vanessa da Mata estreia-se na literatura com este romance A Filha das Flores.

A sua escrita tem um lado incomum, um registo que vai muito para além do linguarejar típico brasileiro: são palavras moradoras de construções de versos e de desvios tontos que dão direções a novos significados. Tem a sonoridade de imprevisíveis metáforas que invocam a arte de poetas sensíveis, e atesta a eficácia com que domina o lado oficinal da literatura. Estamos perante uma escrita trabalhada, séria, testemunho do empenho oficinal de quem não se importa de molhar o vestido pelo avesso no suor.

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