Rodrigo Sousa e Castro | “O PREC é filho da direita, não é filho da esquerda”

RodrigoA via social-democrata é esmagada por Spínola no 11 de Março, defende o coronel Rodrigo Sousa e Castro

Rodrigo Sousa e Castro nasceu numa família “remediada” e em vez do seminário, um destino possível naquele tempo, escolheu a Academia Militar. Ainda fez admissão à Faculdade, mas não tinha dinheiro. Mais tarde, já envolvido com o movimento dos capitães, frequentará o Instituto Superior de Economia. Sousa e Castro desfaz dois D da revolução de Abril, nomeadamente a descolonização que, na sua opinião, não existiu e a democratização que falhará logo por culpa do golpe de Spínola – e entretanto por outras culpas também.

Quando é que começou a perceber que o regime da ditadura não funcionava?

Comecei a perceber que vivíamos numa situação estranha na altura da eleição do general Humberto Delgado. Eu era ainda muito jovem, estava no colégio São Gonçalo de Amarante, mas houve lá já um movimento entre os alunos, frequentávamos uma livraria – o dono era do “reviralho”. O meu pai era ferroviário e entre os ferroviários havia uma grande solidariedade contra o regime. Era um grupo profissional que tinha alguma organização política que julgo que era dominada pelo Partido Comunista. Às vezes passavam panfletos nas estações…

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Fernando Pessoa | COMO ORGANIZAR PORTUGAL

fernando-pessoa-620x340Quando a guerra findou — como se a guerra alguma vez findasse, ou houvesse neste mundo senão guerra! —, quando, enfim, esta guerra de há pouco findou, passou a ser assunto de primeiro plano aquilo, já bastante discutido, a que mais vulgarmente se chamou “os problemas da reconstrução”. A frase é inglesa, e, como participa da nebulosidade mental que caracteriza os ingleses, susceptível de ser mal interpretada. Se o termo diz respeito ao mero restabelecimento das vias normais da vida pacífica, tem cabimento etimológico; se diz respeito à reconstituição das indústrias estagnadas, à reedificação das cidades destruídas, tem cabimento também. A frase porém tem um sentido vulgar arbitrariamente mais lato: quando se diz “reconstruir”, quer, em geral, dizer-se simplesmente “organizar”. E esta ideia de organização não tem origem simplesmente na necessidade de preencher lacunas, que a guerra abrisse, ou de reparar estragos, que os exércitos fizessem. Tem uma, de certo modo, mais vergonhosa origem.

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