Estabelecimento Prisional de Caxias – sessão de leitura com Cristina Carvalho

GradesO que é que eu posso dizer sobre uma experiência tão marcante na vida de uma pessoa? Uma experiência que se alonga por aqueles corredores absolutamente inóspitos, despidos e secos de vida, sem tonalidades de nenhuma espécie, lisos e frios, compridos, sem fim.


O nosso encontro foi na Biblioteca. Havias umas mesas dispostas em rectângulo e à volta, sentados, os homens que me aguardavam. Cumprimentámo-nos. Sentei-me num dos topos da mesa. Fiquei, pois, de frente para todos. Foi assim que o meu olhar os encontrou, de frente, olhos nos olhos, sem sombra e sem barreiras de qualquer espécie. Naquele momento, eu senti-os totalmente, um por um. E percebi que, à minha frente, estavam sentados vários homens a cumprir penas umas mais longas que outras, uns preventivos a aguardar julgamento e outros já condenados a vários anos, muitos anos com muitos dias de muitos sóis a brilhar, com muitas luas de luar, com filhos a crescer, a idade sempre a avançar. Encontrei-me com homens uns novos, outros muito mais velhos punidos por variados cometimentos e incumprimentos sociais. Todos sentados ouvindo o Concerto nº 1 para piano e orquestra, 1º andamento, de Frédéric Chopin; todos aguardando sinal para começarmos a conversar sobre o livro. E conversámos muito. Muitos quiseram saber sobre Fryc, quem foi realmente, quem amou, que vida teve, como foi o seu génio, o que é o génio, o que é uma vida, como foi viver no século XIX, o que foi o século XIX, como foi viajar, como foi morrer, como é viver, ontem, hoje, como será, como será, como será?


Todas as perguntas rodaram sempre e só sobre o livro e como foi escrevê-lo, quanto tempo levou a escrever, o que é escrever, o que é ler, como, como, como?

Acabou a sessão de hora e meia. Um dos homens, numa ponta da mesa fez-me uma pergunta pessoal, a única pergunta pessoal: “O que é que os seus olhos vêem?”
Foi esta a pergunta que eu não soube responder.
Depois, despedimo-nos apertando as nossas mãos. Os guardas vieram. Abriram-me todas as portas com as suas grandes e preciosas chaves.
Eu saí para a estrada com o vento muito frio a varrer a folha prateada da água do mar que se vê ao longe. Mas não muito longe.

CRISTINA CARVALHO em sessão dinamizada e orientada pela escritora e tradutora TÂNIA GANHO, no Estabelecimento Prisional de Caxias, sobre o meu livro “Nocturno, o romance de Chopin”, em 6 de Fevereiro de 2013.

Maria Cristina Nunes da Gama Carvalho Meira da Cunha (Lisboa, 10 de Novembro de 1949) é uma escritora portuguesa.[1] Seu primeiro livro, Até Já Não é Adeus, foi publicado em 1989. É filha da escritora Natália Nunes com o professor e poeta Rómulo de Carvalho. Publicou o seu primeiro livro, “Até Já Não É Adeus” em 1989. É filha do professor e poeta Rómulo de Carvalho (António Gedeão) e da escritora Natália Nunes. Publicou contos em várias revistas e jornais, nomeadamente no Jornal de Letras e revista Egoísta. Em Março de 2009 publicou o romance “O Gato de Uppsala”, na Sextante Editora, uma história de amor entre dois jovens, Elvis e Agnetta, uma história feliz de iniciação, de descoberta e sonho: a viagem, a pé, desde Uppsala até Estocolmo, movidos pelo desejo de descobrir o mistério do mar e de ver uma das maravilhas do seu tempo – o grande e rico Vasa – navio de guerra mandado construir por Gustavus II Adolphus, rei da Suécia. Quis o destino que, no dia 10 de Agosto de 1628, dia da viagem inaugural, a vida de Elvis e Agnetta fosse salva por um gato. Mais recentemente, publicou, entre outras obras, “Nocturno”, um romance biográfico sobre Chopin,”A Casa das Auroras» e «Lusco-Fusco». Algumas dos seus romances estão integrados no Plano Nacional de Leitura.

Alguns dos livros:

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Obra publicada

CARVALHO, Cristina, ATÉ JÁ NÃO É ADEUS, Signo (ed), Ponta Delgada, Açores (1989)(esgotado)

CARVALHO, Cristina, MOMENTOS MISERICORDIOSOS, Relógio d’Água (ed) Lisboa 1992 – ISBN 972-708-181-9

CARVALHO, Cristina, ANA DE LONDRES, Relógio d’Água (ed) Lisboa 1996 – ISBN 972-708-302-1

CARVALHO, Cristina ESTRANHOS CASOS DE AMOR, Relógio d’Água (ed) Lisboa 2003 – ISBN 972-708-761-2

CARVALHO, Cristina O GATO DE UPPSALA, Sextante Editora(ed) Lisboa, Fevereiro de 2009 -ISBN 978-989-8093-82-0 Plano Nacional de Leitura desde 2010

CARVALHO, Cristina NOCTURNO: O ROMANCE DE CHOPIN, Sextante Editora(ed)Lisboa Novembro de 2009 – ISBN 978-989-676-004-5 Plano Nacional de Leitura

CARVALHO, Cristina TARDE FANTÁSTICA, 7dias6noites (ed) Março de 2011 – ISBN 978-989-686-076-9

CARVALHO, Cristina A CASA DAS AURORAS, Planeta Manuscrito (ed) Abril de 2011 – ISBN 978-989-657-186-3

CARVALHO, Cristina LUSCO-FUSCO, Sextante Editora, Outubro 2011 – ISBN 9 78920 071446

CARVALHO, Cristina RÓMULO DE CARVALHO/ANTÓNIO GEDEÃO Príncipe Perfeito, editorial Estampa, Outubro 2012 – ISBN: 978-972-33-2692-5

CARVALHO, Cristina “MARGINAL”, Planeta Manuscrito (ed) Fevereiro 2013 – ISBN 978-989-657-360-7

CARVALHO, Cristina “ANA DE LONDRES” , reedição Edições Parsifal, Setembro 2013 – ISBN 978-989-98333-8-8

CARVALHO, Cristina “Quatro Cantos do Mundo”, Planeta Manuscrito (ed. Junho 2014) – ISBN 978-989-657-514-4

Página oficial: https://cristinacarvalhodotorg.wordpress.com

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