Lançamento de novo livro de José Adelino Maltez | Do Império por Cumprir

galvaoNão temos política colonial, nem um espírito colonial, nem um método colonial.

Henrique Galvão, em Huíla. Relatório de Governo. 1929, confessa que não temos política colonial, nem um espírito colonial, nem um método colonial. Porque esta falta de uma doutrina colonial resulta em grande parte da ausência de uma Política Colonial, e a falta de uma e outra, eliminam, de entrada, a possibilidade de ideias coloniais práticas e eficientes. Fica sempre tudo à mercê das ideias dos governantes que passam, dado que cada ministro da pasta dispõe de ideia própria para governar as possessões ultramarinas, mas esta não é transmitida aos governadores, uma vez que estes também dispunham de ideias próprias, e o fenómeno vai reproduzindo-se em toda a escala hierárquica até ao mais simples amanuense. Uma situação que permite que tudo seja possível – até bons governos!

Henrique Carlos Mata Galvão (1895-1970).

Participa no golpe dos Fifis (1927). Deportado para Angola.

Governador de Huíla (1929). Organiza a Exposição Colonial Portuguesa no Porto (1934).

Deputado. Diretor da Emissora Nacional (1935). Lança a Exposição Colonial do Mundo Português (1940). Inspetor superior da administração colonial.

Discurso parlamentar (22 de janeiro 1947). Fuga da prisão (1959). Assalto ao paquete Santa Maria e coordenação da operação de desvio de um avião da TAP (1961).

Depoimento na ONU (13 dezembro de 1963).

convite

Fidel, bem-me-quer, mal-me-quer | Ferreira Fernandes in “Diário de Notícias”

fidelFidel, um grande homem. Acabou como ditador e é preciso dizer que começou por acabar com um ditador, Fulgencio Batista. Com qualidade rara, a coragem, cortou com a sua própria situação de privilegiado e arriscou a liberdade e a vida. Aqueles que amocharam em situações semelhantes – e em Portugal ainda há gerações em que a escolha foi posta – deveriam não se esquecer de que houve um Fidel que fez o que eles deveriam ter feito e não fizeram. Que os tíbios reconheçam: “Honra aos que souberam dizer não quando o não era necessário e nós não estivemos à altura de o dizer.” E depois podiam, com mais mérito, criticar o Fidel liberticida. Acresce ainda que para lutar contra a ditadura Fidel não pôde contar com o exemplo da admirável América: ela era madrinha de Batista e madrasta de Cuba. Longe de Deus, não sei, mas tão próximo dos Estados Unidos – naqueles tempos, pelo menos – era mais difícil ser democrata. Poder tomado, Fidel tirou partido do seu jeito para o simbólico: caqui, charuto, barbas… Ora, os ícones – que se mostram muito, por definição – têm de função mais própria escamotear. Esse Fidel das fotografias romantizou o que foi; e ajudou a enganar sobre o que aí vinha. Os factos acabaram por ser: o ditador Fidel assassinou muitos e a todos os seus compatriotas tirou a liberdade. Ao combatente de grande causa, honra. Ao tirano, vergonha. E a todos nós, uma lição de história.

Ferreira Fernandes in Diário de Notícias 28-11-2016