Essa Gente | Chico Buarque

SINOPSE

Um escritor decadente enfrenta uma crise financeira e emocional enquanto o Rio de Janeiro colapsa à sua volta. Tragicomédia urgente, o novo romance de Chico Buarque, o primeiro depois da atribuição do Prémio Camões, encara de frente o Brasil do agora.

Autor de um romance histórico que fez furor nos anos 1990, o escritor Manuel Duarte passa por um deserto criativo e sentimental. Dividido entre várias ex-mulheres, espartilhado por pesadas dívidas, surpreendido por um filho de quem vai aprendendo a ser pai, Manuel Duarte bate perna nas ruas do Leblon no intervalo das horas em frente ao teclado, desesperando por um novo livro.
O pano de fundo é um Rio de Janeiro que sangra e estrebucha sob o flagelo de feridas sociais a cada dia mais ostensivas; cenário maior onde se desenrolam as feridas individuais das personagens, que juntas compõem um diário em que se procura fazer sentido do tumulto do presente.
Ao seu melhor estilo, Chico Buarque esfuma as fronteiras entre vida, imaginação, sonho e delírio, e constrói uma narrativa engenhosa, tão divertida quanto trágica, em cujas entrelinhas se descortinam as contradições de um país ameaçando despedaçar-se, assim como as deliciosas incoerências e ilusões da gente como nós.

CRÍTICAS DE IMPRENSA
«O livro de Chico é uma vertigem. Você é sugado pela primeira linha e levado ao estilo falso leve, a prosa depurada e a construção engenhosa até sair no fim lamentando que não haja mais, assombrado pelo sortilégio deste mestre de juntar palavras. Literalmente assombrado.»
Luis Fernando Verísssimo, O Globo

O novo livro de Chico Buarque confirma (mesmo não sendo necessário) a qualidade da obra já conhecida. Para quem ainda não conhece, é um excelente ponto de partida. Para quem já é apreciador, é mais uma oportunidade de deslumbramento.
Ana Magalhães | 23-12-2019

À PROPOS D’ALBERT CAMUS | Yacine Bouzaher

Dans un échange avec une amie, j’ai émis un avis concernant l’œuvre de Camus, que je reproduis ci-dessous:
-“J’ai une lecture de l’œuvre et une interprétation de Camus, que je n’ai jamais vue par ailleurs, ou alors ça m’a échappé. Pour moi, Camus, c’est celui qui a ma connaissance, à le mieux donné à voir, à ressentir, la solitude profonde de l’être. Nous sommes cadenassés dans notre être ontologique, seuls face à nous-mêmes, cerné par le monde qui nous entoure. Et nous aurons beau faire, nous ne sortirons jamais de nous-mêmes pour fusionner avec le monde.

Paradoxalement, la prise de conscience d’exister, nous condamne à cet enfermement en soi. Et le fameux, je pense donc je suis, se transforme en je pense donc je suis seul en moi.

Il y a deux moments dans la vie, ou cette réalité de la condition humaine ( l’humain en tant qu’être pensant) font exception. Mais de manière fugace et peut-être illusoire. C’est, quand, bébé, on n’a pas vraiment ( encore que) conscience d’exister, la fusion avec la mère, Camus a un peu évoqué cela. Et quelquefois, dans la fusion de l’amour ( qui ne dure qu’un instant comme dit la chanson), surtout au moment ( c’est hélas pas toujours le cas) de l’orgasme sexuel, une infra seconde, le temps s’arrête et nous sortons de nous-mêmes, pour une extase partagée. À cet infinitésimal instant nous ne sommes pas seuls, sinon … 

Cette solitude pour fondement, je l’ai particulièrement ressenti à la lecture de “L’étranger”. Mais, on retrouve cette épaisseur, qui avec le temps se transforme en pavois, dans toute son œuvre, Sisyphe ( le mythe de Sisyphe), “Caligula”. Dans la pièce ” Le malentendu”, il aborde explicitement ce thème avec l’amour ( celui de la mère ou celui d’une femme) comme possibilité d’y échapper, mais encore une fois ce sera raté. Il ne restera que la solitude. Dans “La peste” ( œuvre à plusieurs tiroirs) nous retrouvons également cette dimension.”

Yacine Bouzaher 

Retirado do Facebook | Mural de Yacine Bouzaher

Nos 60 anos da morte de Albert Camus | Rui Bebiano in “A Terceira Noite”

O escritor húngaro Imre Kartész, antigo deportado de Auschwitz-Birkenau, resumiu numa frase curta a afeição imediata e duradoura por Albert Camus: «Amei imediatamente a sua liberdade, mas também a sua insolência». A par do impacto da voz literária, as marcas de independência e de insubmissão do autor de Os Justos têm sido determinantes para manter um poder de atração, uma irradiação de heroísmo e resistência, que têm cruzado diferentes épocas e circunstâncias. Eclipsadas as grandes narrativas do tempo histórico, muitos dos que foram perdendo as certezas acolheram com agrado aquela que foi, como escreveu nas memórias Maria Casarès, o amor de muitos anos, «a sua paixão pela justiça e pela verdade». A dilatação desta influência tem sido, no entanto, diretamente proporcional às incompreensões mantidas dentro do território político ao qual pertenceu.

Alguns dos seus personagens são modelos de egotismo e desapego pelos outros, mas o mesmo não se passou com o seu criador. Um Camus solidário apoiou os republicanos contra Franco e opôs-se à ocupação alemã («comecei a guerra como pacifista, terminei-a como resistente», anotará um dia). Em 1935 tornou-se militante do PCF, de onde sairia dois anos depois por rejeitar as posições moderadas sobre o fascismo e o colonialismo impostas por Estaline. Desta passagem guardará a desconfiança face ao doutrinamento, a certeza de que a ética individual não pode ceder ao transitório, e a convicção de que a esquerda não tem dono ou procurador. O afastamento aumentará em 1946 com os artigos aparecidos no Combat, sob o título genérico «Ni victimes, ni bourreaux», nos quais denunciou os campos de trabalho soviéticos. E depois com O Homem Revoltado, de 1952, onde exaltou a revolta como instante crítico da emancipação do indivíduo. O caráter libertador desse momento parecia-lhe, porém, ameaçado pela opção revolucionária. Ao instituir a violência e a supremacia do coletivo como uma necessidade, esta arriscar-se-á sempre a subverter e a arruinar o princípio último em nome do qual funda a sua insubmissão.

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