UCRÂNIA NUM IMPASSE, À BEIRA DE TRÊS TEMPESTADES PERFEITAS – MILITAR, ECONÓMICA E DIPLOMÁTICA | a opinião de Pierre Lellouch resumida por Alfredo Barroso

A neutralidade da Ucrânia teria evitado a guerra iniciada com uma invasão russa. Mas o presidente dos EUA, Joe Biden, e os submissos dirigentes da União Europeia e de praticamente todos os seus países membros preferiram, por razões ideológicas, deixar aberta a porta da NATO, mas sem proteger a Ucrânia. E agora alimentam mais e mais a continuação da guerra com o fornecimento de armas cada vez mais poderosas e sofisticadas.

Numa análise muito interessante, extensa e pormenorizada publicada na revista ‘Marianne’, o politólogo e antigo ministro francês Pierre Lellouche afirma que o conflito na Ucrânia está num impasse e à beira de enfrentar três tempestades – militar, económica e diplomática.

Do ponto de vista militar, são óbvias as derrapagens. Os sucessos obtidos pelos ucranianos em Kiev, no início da guerra, já estão bem longe. Agora, 20% do território ucraniano está ocupado pelos russos, e a margem sul do país face ao Mar Negro está perdida, com a única excepção, por enquanto, de Odessa. Respondendo aos apelos constantes do presidente Zelensky, os Ocidentais (isto é: os EUA, a NATO e a União Europeia, com a Alemanha à cabeça) decidiram acelerar o fornecimento de armas à Ucrânia, cada vez mais numerosas e cada vez mais sofisticadas.

Na cimeira de Madrid, em Junho passado, a NATO 2022 decidiu reforçar consideravelmente os seus meios humanos (cerca de 300.000 homens) na chamada Europa oriental, ao mesmo tempo que a Suècia e a Finlândia, abandonando décadas de neutralidade, decidiram aderir à NATO. Assim, foi montada a engrenagem de uma guerra aberta (e suicida) entre a NATO e a Rússia, dado que os EUA, a pretexto de responderem às ameaças de alargamento do conflito vindas de Moscovo, implicaram-se militarmente ainda mais: fornecimento de mísseis de longo alcance Himars e ATTACMS e aviões de combate ocidentais, como salientou o chefe do estado-maior da US Air Force, general Charles Brown.

Em Washington como em Moscovo, e menos ainda nas capitais europeias, ninguém parece desejar uma guerra aberta, sinonimo de suicídio para as partes em confronto, mas a verdade é que o risco de derrapagem existe, possivelmente nuclear. E só pode aumentar com a passagem do tempo, a pretexto de um incidente, por exemplo, o semi-bloqueio de Kalininegrado decidido por Vilnius, capital da Lituânia, ou em virtude das sanções contra a Rússia aplicadas pela União Europeia, ou por causa de alvos na Rússia atingidos por mísseis americanos.

Quais são os objectivos desta guerra, do lado ocidental? Alguém conhece? Que se saiba, tanto os EUA como, sobretudo, a União Europeia abdicaram publicamente de definir os objectivos desta guerra contra a Rússia, para além de quererem «acompanhar a Ucrânia até a vitória final»! E pronto: quem puser em causa este ‘generoso’ propósito marcial será considerado um traidor, adepto da «capitulação preventiva», equiparado ao ‘espírito de Munique’, no final da década de 1930, ou do ‘golpe de Praga’, no final da década de 1940.

Influenciado pelas promessas de Joe Biden e da inacreditável Ursula von der Leyen, Zelensky já se convenceu de que vai mesmo ganhar esta guerra com a recuperação de todo o território, inclusive a Crimeia, o que, neste caso, só seria possível com o desembarque de “marines” da NATO, como é óbvio e salienta Pierre Lellouche.

Há quem queira degradar e fazer regredir a Russia até à Idade da Pedra, ou quem queira torná-la inofensiva fraccionando-a em vários pequenos Estados. Mas, para tanto, também será preciso invadi-la, o que só é concebível com forças militares da NATO (sobretudo dos EUA) achando que tais tropas passarão pela Rússia “como cão por vinha vindimada”, tentativa na qual, como se sabe, nem Napoleão nem Hitler foram bem sucedidos. Em qualquer dos casos, estará sempre à espreita a III Guerra Mundial…

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