UCRÂNIA | Pontos de vista racionais | Professor Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva

Talvez por andar a tentar esmiuçar Aristóteles (que para cada problema tem uma série de divisões que correspondem a outras tantas perspectivas) ocorreu-me, ao ler as várias contribuições a este comentário, que há várias posições a partir das quais ver o problema:

— O do direito internacional. É verdade que sem direito internacional a civilização desaparece e, nesse sentido, a invasão da Ucrânia é reprovável. Também é verdade, como foi apontado, que apenas invocamos o direito internacional neste caso particular, já que o Ocidente o violou várias vezes;

— O da justiça/ética. Sendo verdade que os russos invadiram, fizeram-no a um país em guerra civil contra uma parte da sua população e que, não tivesse a Ucrânia sido dominada por um grupo ferozmente nacionalista e até racista (este ponto não foi referido mas é um facto conhecido) e os acordos de Minsk sido respeitados não teria havido invasão;

— O ponto de vista histórico. Historicamente as fronteiras da Ucrânia são artificiais; historicamente a Crimeia é russa e o Donbass muito perto de o ser;

— O ponto de vista estratégico, isto é, o que está realmente em causa: a hegemonia dos EUA é condenável, indefensável porque substituiu a diplomacia pela guerra (este ponto não foi mencionado, mas está tacitamente presente em dois dos intervenientes);

o facto de a Ucrânia ser uma terra de passagem que a Rússia não pode admitir que seja tomada pela NATO (o que é compreensível porque real – a palavra Ucrânia vem do russo antigo e significa «fronteira»);

o facto de a Europa, por estar na dependência militar dos EUA se estar a prestar a um papel vergonhoso (mencionado e referido a um comentário meu noutro texto) e que, do ponto de vista dos cidadãos europeus e ucranianos, pode ser considerado criminoso;

— O ponto de vista do resultado: se se continuar a escalar a guerra qual será a consequência? Mesmo sem guerra nuclear (que desde há décadas nunca esteve tão próxima) são todas más.

Estes são os pontos de vista racionais. Depois, claro, há os clubismos e a formação da opinião pública pelos media que, diga-se, se estão a comportar sem qualquer ética.

Creio que, para se ser realmente racional, têm de se considerar todos estes pontos (e haverá mais). Não é fácil, mas, se quisermos compreender, é necessário tentá-lo.

2 thoughts on “UCRÂNIA | Pontos de vista racionais | Professor Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva

  1. O papel da Europa nesta guerra é realmente vergonhoso. Os Europeus deixaram a defesa e a política aos EUA preocupando-se sobretudo com a economia. Deste modo tornaram-se num apêndice da OTAN o que os obriga agora a serem executores de uma política geoestratégica americana míope. A Europa ao atrelar-se à aliança militar OTAN colocou-se a ela mesma em fora de jogo sem poder influenciar os EUA no sentido de usarem a Europa como meio de integrar a Rússia no centro dos seus interesses atlânticos e indirectamente do Pacífico. Assim colocaram-se no papel secundário de servidores do jogo momentâneo que serve de forma míope apenas os interesses hegemónicos dos EUA e da Federação russa em benefício da formação chinesa. Esta guerra, um dia revelar-se-á como fatal não tendo unido os cparticipantes em torno dos interesses ligados ao atlantico porque os interesses próprios ligados ao Pacífico precisariam dos países ligados ao Atlântico como aliados nas próximas contendas a desenrolarem-se no pacífico devido aos interesses rivais dos EUA e da Ásia. Uma política racional implicaria um acordo de paz entre os EUA-Rússia-EU.

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