literatura, artes e cultura casadasculturas@gmail.com

Menu

Skip to content
  • VIPLANO | projectos
  • Home | Início
  • Quem somos | Qui sommes-nous | About
  • Divulgação | Pub
  • Autores
    • António Ganhão
    • António Paiva
    • Rodrigo Della Santina
    • Vicente Freitas
    • Vítor Coelho da Silva
  • Arquitectura
    • Arquitectos
    • Projectos | Obras
  • Engenharia Civil
  • Arte de Rua
  • Artes Plásticas
    • Cartoon
    • Cerâmica
    • Desenho
    • Escultura
    • Gravura
    • Ilustração
    • Instalações
    • Pintura
    • Tapeçaria
  • Artesanato
    • Bens Alimentares
    • Bijutaria
    • Cerâmica
    • Elementos vegetais
    • Madeira e Cortiça
    • Metal
    • Papel e Artes Gráficas
    • Pedra
    • Peles e Couros
    • Têxteis
    • U-Outras Artes e Ofícios
  • Biografias
  • Cartas
  • Ciência
  • Cinema
  • Citando […]
  • Crónicas
  • Curtas & Eventos
  • Dança
  • Design
  • Estilismo
  • Estórias
  • Filosofia
  • Filosofia Política
  • Gastronomia
  • Fotografia
    • Abstracto
    • Animais
    • Desporto
    • Espectáculos
    • História | Locais
    • Natureza | Urbanismo
    • Retratos
    • U-Outros
  • Humor
  • História
  • Literatura
    • Poesia
    • Prosa
    • Literatura [diversos]
  • Memórias
  • Música
  • Nota de Imprensa
  • NOUTRAS LÍNGUAS
  • Religiões
  • Teatro
  • Tertúlias de Lisboa
  • Videoteca
  • U-Outras

arquitectura | engenharia

  • A1V2 | Engª e Arqª
  • Aires Mateus
  • ARX | José e Nuno Mateus
  • Álvaro Siza Vieira
  • Barbosa & Guimarães
  • Carlos Gonçalves
  • Carrilho da Graça
  • Frederico Valsassina
  • GIMA Projectos | José Possidónio
  • Gonçalo Byrne
  • João Paciência
  • Paulo Miguez Arquitectos
  • Promontório
  • RRJ Arquitectos
  • Saraiva + Associados
  • VIPLANO Lda | Projectos

Blogroll | VCS

  • Das Letras
  • Tertúlia de eBooks
  • Tertúlia Diária | Magazine
  • Tertúlias de Lisboa
  • VIPLANO Lda | Projectos

Design

  • Atelier 004 | Patrícia Reis
  • Joana Vasconcelos
  • mercedes moraes
  • Philippe Starck
  • Rachel Caiano
  • surface & surface

Economia | História Económica

  • Crítica ECONÓMICA E SOCIAL
  • Eugénio Rosa
  • Inteligência Económica
  • Jorge Nascimento Rodrigues
  • Paul Krugman
  • Pedro Lains
  • Pedro Santos Guerreiro
  • Resistir
  • Yanis Varoufakis

Estilismo

  • BKENDI
  • Ellen von Unwerth
  • Lost Hairdressers
  • Second Thoughts
  • Um Blog Fashion

Fotografia

  • Adolfo Valente
  • ARTFreelance
  • Cultura Inquieta
  • Henri Cartier-Bresson/Magnum Photos
  • Kroutchev Planet Photo
  • Le Clown Lyrique
  • Magnum Photos
  • Mark Abrahams
  • NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL
  • O Mundo de Dalton
  • OCAIW | orazio centaro's art images
  • Sebastião Salgado
  • Sensual Photography
  • The Libertine
  • The Quiet Front

Francês

  • APPRENDRE LE FRANÇAIS | TV5MONDE
  • COURRIER INTERNATIONAL
  • Des Lettres
  • Dico – Citations
  • FRANCE CULTURE
  • Gallimard
  • LAROUSSE
  • L´HUMANITÉ
  • L´OBS | BIBLIOBS
  • LE DIRECT
  • Lettres Gratuites
  • Nouvelle Librairie Française | Lisboa
  • TV5MONDE

Happy Few

  • A Barbearia do Senhor Luís
  • A Bem da Nação | Henrique Salles da Fonseca
  • A Estátua de Sal
  • A Origem das Espécies | Francisco José Viegas
  • A Qualidade do Silêncio | Pedro Teixeira Neves
  • A Terceira Noite | Rui Bebiano
  • Acrítico | António Ganhão
  • Afonso Cruz | Blog
  • António Ganhão | Blog
  • António Pinho Vargas | Blog
  • Apenas Fumaça
  • Arrastão
  • BlogOperatório | José Teófilo Duarte
  • Cadeirão Voltaire | Sara Figueiredo Costa
  • Capazes
  • Carta Maior
  • Casa Comum | Fundação Mário Soares
  • Célia Moura
  • Ciberescritas | Isabel Coutinho
  • Como responder ao momento presente?
  • Coração Duplo | Filipa Melo
  • Cristina Carvalho | Blog
  • CULTURA INQUIETA
  • Culture | The Guardian
  • Digital Minds | Arlindo Oliveira
  • Escritus no Silêncio | Ana Maria Medeiros
  • Estúdio Raposa
  • Felicidário
  • Francisco Seixas da Costa
  • Fundação José Saramago | Lisboa
  • Germina
  • Gonçalo M. Tavares | Blog
  • Helena Vasconcelos | Blog
  • Hoje Há Conquilhas | Tomás Vasques
  • Horas Extraordinárias | Maria do Rosário Pedreira
  • Irmão Lúcia | Pedro Vieira
  • João Morgado
  • João Tordo
  • Keith Richards
  • Letra Pequena | Rita Pimenta
  • Literatura e Arte | Yvette Centeno
  • ma-schamba
  • Machado de Assis | Brasil
  • Making Art Happen | Celina Brás
  • MAPA MUDO | Luís Carmelo
  • Meditação na Pastelaria | Ana Cristina Leonardo
  • MEDIUM | Carlos Matos Gomes
  • Miniscente | Luís Carmelo
  • Modus Vivendi | Ana Roque
  • O Melhor Amigo
  • O Tempo das Cerejas | Vítor Dias
  • Observatório da Grécia
  • Patrícia Vieira | Blog
  • Prosa, Verso e Arte
  • Urban Sketchers Portugal
  • Vão Combate | Patrícia Reis
  • Vício de Poesia
  • ZENDA | autores, livros & cía

HISTÓRIA

  • Doutro Tempo
  • Ephemera | José Pacheco Pereira
  • Estórias da História
  • IHC | Instituto de História Contemporânea
  • IISH | International Institute of Social History
  • WikiLeaks

Humor

  • Inimigo Público
  • João Moreira de Sá

IMPRENSA

  • » The Greatest Books | Fiction | Nonfiction
  • Diário de Notícias
  • Ekathimerini
  • El País
  • El Watan
  • Eurotopics
  • Financial Times
  • France Culture
  • Geringonça
  • Le Figaro
  • Le Monde
  • Le Nouvel Observateur
  • NOTÍCIAS DO BLOQUEIO | Fernando Paulouro Neves
  • Notícias Magazine
  • O Militante
  • Público
  • Project Syndicate
  • Reuters
  • Spiegel Online International
  • The Economist
  • The Guardian
  • The Irish Times
  • The Wall Street Journal
  • Tornado
  • Tudo Menos Economia
  • TV5Monde

Links do Admin

  • Abrupto | José Pacheco Pereira
  • Artes Entre as Letras
  • Arts & Letters Daily
  • Autores e Livros | Eduardo Coelho
  • Babelio
  • Bibliotecário de Babel | José Mário Silva
  • Blog Investigação Filosófica
  • Blogtailors
  • BUALA
  • Cambridge Digital Library
  • Clube de Jornalistas
  • Cultura Inquieta
  • Da Literatura | Eduardo Pitta
  • De Rerum Natura
  • Digestivo Cultural
  • Doutro Tempo
  • Entre as Brumas da Memória | Joana Lopes
  • Escrever é Triste
  • Escrita Criativa Online | Luís Carmelo
  • Fundação Mário Soares
  • Gallimard
  • Generacion Y
  • Goethe Insitut Portugal
  • Granta Magazine
  • Helena Vasconcelos
  • InComunidade
  • Las cosas de la velocidad | Rodrigo Fresán
  • Leitur@ Gulbenkian
  • Ler | Blog
  • Machado de Assis | Magazine
  • Machina Speculatrix | Porfírio Silva
  • Mallarmagens
  • Mariposa Azual
  • Moleskine Literario | Iván Thays
  • Mundo Pessoa
  • NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL
  • O Portugal Futuro | Tiago Barbosa Ribeiro
  • Papeles Perdidos
  • Poetria | Livraria
  • QG España
  • Rascunho
  • Sociologia e Cultura | Luís Galego
  • Tempo Cultural Delfos
  • The Beatles
  • The Huffington Post | Arts & Culture
  • The New York Review of Books
  • The Philip Roth Society
  • The Republic of Letters
  • Timothy Garton Ash
  • Umberto Eco | Itália
  • Urban Sketchers
  • Victoria and Albert Museum | Londres

Museus

  • Art People Gallery
  • ART SY
  • British Museum | Londres
  • Capela Sistina
  • Centre Pompidou | Paris
  • Guggenheim Museum
  • IMC | Instituto dos Museus
  • MoMa | The Museum Of Modern Art
  • Museo Nacional del Prado | Madrid
  • Museu d' Aguarela Roque Gameiro
  • Museu da Ciência | U. de Coimbra
  • Museu de Cera de Fátima
  • Museu Vida de Cristo | Fátima
  • Museus e Monumentos | Portugal
  • Museus no Mundo
  • Tate Modern | Londres
  • Van Gogh Museum

Pintores e Escultores

  • Alfredo Roque Gameiro + Familiares
  • Andy Warhol
  • ART SY
  • ARTICIELO
  • Auguste Renoir
  • Caravaggio
  • Claude Monet
  • Cristina Troufa
  • Danny McBride
  • Diego Velázquez
  • Dominik Jasiński
  • Eduardo Nery
  • Edvard Munch
  • Egon Schiele
  • Francisco Goya
  • Frida Kahlo
  • Fundação Vieira da Silva/Arpad Szenes
  • Graça Morais
  • Gustav Klimt
  • Joan Miro
  • Johannes Vermeer
  • Justyna Kopania
  • Lari Namaste
  • Leonardo da Vinci
  • Michelangelo
  • Nadir Afonso
  • New American Painting Blog
  • Pablo Picasso
  • Paul Gauguin
  • Peter Paul Rubens
  • Rembrandt van Rijn
  • RestaurArs
  • Roberto Ferri
  • Rowington Artworks
  • Sérgio de Lisboa
  • Sofia Ribeiro
  • Tim Biskup
  • Vincent van Gogh
  • Wassily Kandinsky

Política | Geostratégia

  • Abril
  • Foicebook
  • Geringonça
  • Rede Voltaire

Teatro | Cinema | Ópera | Dança | Exposições | Música

  • Agenda Cultural | Lisboa
  • Ballerina Project
  • Casa da Música | Porto
  • Centro Cultural de Belém | Lisboa
  • CNC | Centro Nacional de Cultura
  • Dancers Over 40
  • e-Cultura | CNC
  • Fundação Calouste Gulbenkian
  • Fundação de Serralves | Porto
  • IMDB
  • Lauro António | Cinema
  • Le Cercle de l' Harmonie
  • Medici.TV
  • Ministério da Cultura | Portugal
  • Mozart
  • OXE7 | Filmes Online
  • Rolling Stone
  • Sinfini Music
  • Teatro Nacional D. Maria II
  • Teatro Nacional de São Carlos
  • The Opera Platform
  • The Red List

Arquivos

  • Abril 2018
  • Março 2018
  • Fevereiro 2018
  • Janeiro 2018
  • Dezembro 2017
  • Novembro 2017
  • Outubro 2017
  • Setembro 2017
  • Agosto 2017
  • Julho 2017
  • Junho 2017
  • Maio 2017
  • Abril 2017
  • Março 2017
  • Fevereiro 2017
  • Janeiro 2017
  • Dezembro 2016
  • Novembro 2016
  • Outubro 2016
  • Setembro 2016
  • Agosto 2016
  • Julho 2016
  • Junho 2016
  • Maio 2016
  • Abril 2016
  • Março 2016
  • Fevereiro 2016
  • Janeiro 2016
  • Dezembro 2015
  • Novembro 2015
  • Outubro 2015
  • Setembro 2015
  • Agosto 2015
  • Julho 2015
  • Junho 2015
  • Maio 2015
  • Abril 2015
  • Março 2015
  • Fevereiro 2015
  • Janeiro 2015
  • Dezembro 2014
  • Novembro 2014
  • Outubro 2014
  • Setembro 2014
  • Agosto 2014
  • Julho 2014
  • Junho 2014
  • Maio 2014
  • Abril 2014
  • Março 2014
  • Fevereiro 2014
  • Janeiro 2014
  • Dezembro 2013
  • Novembro 2013
  • Outubro 2013
  • Setembro 2013
  • Agosto 2013
  • Julho 2013
  • Junho 2013
  • Maio 2013
  • Abril 2013
  • Março 2013
  • Fevereiro 2013
  • Janeiro 2013
  • Dezembro 2012

No meio do caminho | Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

…………………………………………………….

Rubem Alves

É na escuta que o amor começa.
E é na não-escuta que ele termina.

…………………………………………………….

oh yes | Charles Bukowski

there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it’s too late
and there’s nothing worse
than
too late.

…………………………………………………….

Peter Gabriel | The Carpet Crawlers

http://wp.me/p307f4-2W9
(URL DO VÍDEO)

There is lambswool under my naked feet.
The wool is soft and warm,
gives off some kind of heat.
A salamander scurries into flame to be destroyed.
Imaginary creatures are trapped in birth on celluloid.
The fleas cling to the golden fleece,
Hoping they’ll find peace.
Each thought and gesture are caught in celluloid.
There’s no hiding in my memory.
There’s no room to void.

The crawlers cover the floor in the red ochre corridor.
For my second sight of people, they’ve more lifeblood than before.
They’re moving. They’re moving in time to a heavy wooden door,
Where the needle’s eye is winking, closing in on the poor.
The carpet crawlers heed their callers:
“We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.”

There’s only one direction in the faces that I see;
It’s upward to the ceiling, where the chambers said to be.
Like the forest fight for sunlight, that takes root in every tree.
They are pulled up by the magnet, believing that they’re free.
The carpet crawlers heed their callers:
“We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.”

Mild mannered supermen are held in kryptonite,
And the wise and foolish virgins giggle with their bodies glowing bright.
Through a door a harvest feast is lit by candlelight;
It’s the bottom of a staircase that spirals out of sight.
The carpet crawlers heed their callers:
“We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.”

The porcelain mannikin with shattered skin fears attack.
The eager pack lift up their pitchers- the carry all they lack.
The liquid has congealed, which has seeped out through the crack,
And the tickler takes his stickleback.
The carpet crawlers heed their callers:
“We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.”

…………………………………………………….

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto…
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço…

Álvaro de Campos, in “Poemas”
Heterónimo de Fernando Pessoa

…………………………………………………….

Dorme a vida a meu lado, mas eu velo.
(Alguém há-de guardar este tesoiro!)
E, como dorme, afago-lhe o cabelo, 
Que mesmo adormecido é fino e loiro.

Só eu sinto bater-lhe o coração,
Vejo que sonha, que sorri, que vive;
Só eu tenho por ela esta paixão
Como nunca hei-de ter e nunca tive.

E logo talvez já nem reconheça
Quem zelou esta flor do seu cansaço…
Mas que o dia amanheça
E cubra de poesia o seu regaço!

Miguel Torga | in ‘Diário (1946)

…………………………………………………….

HEROS | David Bowie

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive them away
We can beat them, just for one day
We can be Heroes, just for one day

And you, you can be mean
And I, I’ll drink all the time
‘Cause we’re lovers, and that is a fact
Yes we’re lovers, and that is that

Though nothing, will keep us together
We could steal time, just for one day
We can be Heroes, for ever and ever
What d’you say?

I, I wish you could swim
Like the dolphins, like dolphins can swim
Though nothing, nothing will keep us together
We can beat them, for ever and ever
Oh we can be Heroes, just for one day

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive us away
We can be Heroes, just for one day
We can be us, just for one day

I, I can remember (I remember)
Standing, by the wall (by the wall)
And the guns, shot above our heads
(over our heads)
And we kissed, as though nothing could fall
(nothing could fall)
And the same, was on the other side
Oh we can beat them, for ever and ever
Then we could be Heroes, just for one day

We can be Heroes
We can be Heroes
We can be Heroes
Just for one day
We can be Heroes

We’re nothing, and nothing will help us
Maybe we’re lying, then you better not stay
But we could be safer, just for one day

Oh-oh-oh-ohh, oh-oh-oh-ohh, just for one day

…………………………………………………….

So Long Marianne by Leonard Cohen

Come over to the window, my little darling,
I’d like to try to read your palm.
I used to think I was some kind of Gypsy boy
before I let you take me home.
Now so long, Marianne, it’s time that we began
to laugh and cry and cry and laugh about it all again.Well you know that I love to live with you,
but you make me forget so very much.
I forget to pray for the angels
and then the angels forget to pray for us.Now so long, Marianne, it’s time that we began …We met when we were almost young
deep in the green lilac park.
You held on to me like I was a crucifix,
as we went kneeling through the dark.Oh so long, Marianne, it’s time that we began …Your letters they all say that you’re beside me now.
Then why do I feel alone?
I’m standing on a ledge and your fine spider web
is fastening my ankle to a stone.Now so long, Marianne, it’s time that we began …For now I need your hidden love.
I’m cold as a new razor blade.
You left when I told you I was curious,
I never said that I was brave.Oh so long, Marianne, it’s time that we began …Oh, you are really such a pretty one.
I see you’ve gone and changed your name again.
And just when I climbed this whole mountainside,
to wash my eyelids in the rain!Oh so long, Marianne, it’s time that we began …
…………………………………………………….
O Poema | Natália Correia
—

O poema não é o canto
que do grilo para a rosa cresce. 
O poema é o grilo
é a rosa
e é aquilo que cresce.

É o pensamento que exclui
uma determinação
na fonte donde ele flui
e naquilo que descreve.
O poema é o que no homem
para lá do homem se atreve.

Os acontecimentos são pedras
e a poesia transcendê-las
na já longínqua noção
de descrevê-las.

E essa própria noção é só
uma saudade que se desvanece
na poesia. Pura intenção
de cantar o que não conhece.

in Poemas (1955)

……………………………………………………..

POEMA | CÉLIA MOURA

Adormecem mamilos gretados
De indignação
Em cada palavra
Que não ouso.

Gemem catadupas de papoilas
Entre o trigo
E por isso as digo
As escrevinho
Grito-as aqui
Neste papel de ninguém!

E que prazer é
Mordê-las!

Saborear-lhes o sangue
Expulso das artérias
Libertando-as de mim
Desta clausura
Onde tentam amordaçar-me
Todas elas
As mais insolentes
As deliciosas
As mordazes
E até as mais voluptuosas!

Que prazer,
Enamorá-las
Consenti-las
Dar-lhes permissão
Para logo a seguir
As arremessar certeiras
Fugidias ou sarcásticas
Como flores ou como dardos
Aguçando-lhes a destreza
Verbalizá-las todas,
Libertando-as do sémen
Que nos fecunda a seara
Do Bem e do Mal
Arrancando ervas daninhas
Pelos dentes.

© Célia Moura – A publicar “Terra de lavra” (2012)
(Imagem – Justin Grant Photography)

 

 

 

 

 

……………………………………………………..

“La Reine de Saba” | Malika Mellal | toile de Hocine Ziani

Amour de Reine

Mon voyage vers toi , mon roi
Moi la grande reine de Saba
Simple femme devant toi
Mon cœur loin du tiens est aux abois

Je te porte myrrhe , encens et élixirs
Pour parfumer tes nuits de mille désirs
Caravanes pleines d’or et de trésors
Dignes d’un roi au palais d’or.

Oiseaux de paradis et génies
Offrandes au roi au bel esprit
Contes et légendes pour t’éblouir
J’aime éveiller les sens de mon Sire.

Étoffes précieuses des plus belles soies
Pour accueillir nos beaux émois
Des huiles rares et précieuses
Sercrets de caresses délicieuses.

Ma beauté digne des houris
Sera tienne toutes les nuits
Tes bras dont je me languis
Me font traverser tous ces pays.

Amour Royal et majestueux
Plaisirs infinis et savoureux
Lien fabuleux et mystérieux
Amour légendaire béni des cieux.

Deuxième version (Le roi Salomon)

Ma reine arrive

Elle arrive ma belle et sa caravelle
Bel ange descendu du ciel
Je ferai taire les langues infidèles
Qui doutent de sa beauté éternelle

Sur ce sol façonné tel un miroir
J’ai fondé tout mes espoirs
Démontrer à jamais , graver l’histoire
D’un reflet divin à ma gloire
Je les ferai tous choir.

Ma belle reine attendrie
Pardonne mon acte de duperie
N’y vois aucunes fourberies
Seul une preuve d’amour, un démenti

Ma reine d’amour aux feux ardents
Ils t’imaginent velues aux sabots d’argent
Ta crainte de tremper tes beaux habits
Te fera lever le bas de tes soies serties
Apparaîtra tes chevilles d’une peau éblouie.

Moi qui sait ton corps d’une beauté innouie
Je serai roi d’amour d’un cœur embelli
Pour ma maîtresse reine aux charmes de vie
Tu ensorceles mon âme et mon esprit
Je suis glorieux par ton corps soumis
À mes rêves d’amour infini.

Malika Mellal 03/04/2018
malika mellal@copyright

D’après la toile de Hocine Ziani

” La reine de Saba ”

 

 

 

……………………………………………………..
Poema | neorrealismo
Manuel da Fonseca
—

A menina tonta passa metade do dia
a namorar quem passa na rua,
que a outra metade fica
p’ra namorar-se ao espelho.

A menina tonta tem olhos de retrós preto,
cabelos de linha de bordar,
e a boca é um pedaço de qualquer tecido vermelho.

A menina tonta tem vestidos de seda
e sapatos de seda,
é toda fria, fria como a seda:
as olheiras postiças de crepe amarrotado,
as mãos viúvas entre flores emurchecidas,
caídas da janela,
desfolham pétalas de papel…

No passeio em frente estão os namorados
com os olhos cansados de esperar
com os braços cansados de acenar
com a boca cansada de pedir…

A menina tonta tem coração sem corda
a boca sem desejos
os olhos sem luz…

E os namorados cansados de namorar…
Eles não sabem que a menina tonta
tem a cabeça cheia de farelos.

Manuel da Fonseca

 

 

 

 

 

 

……………………………………………………..
Poema | Pablo Neruda
—

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame,
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste.
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

Do teu coração me diz adeus uma criança.

……………………………………………………..

Fiz um conto para me embalar | Natália Correia

Fiz com as fadas uma aliança.
A deste conto nunca contar.
Mas como ainda sou criança
Quero a mim própria embalar.
Estavam na praia três donzelas
Como três laranjas num pomar.
Nenhuma sabia para qual delas
Cantava o príncipe do mar.

Rosas fatais, as três donzelas
A mão de espuma as desfolhou.
Nenhum soube para qual delas
O príncipe do mar cantou.

Natália Correia

……………………………………………………..

Histórias da História | Paulo Fonseca

Histórias de luta e de afecto
e de vidas em directo.
Longa lista leva já,
a história da humanidade…
mártires,
guerreiros,
heróis,
ternos da liberdade…
voz dos simples,
batutas de luz
contra as pautas da injustiça…
também ingenuidade
de criança,
de noviça…
Poetas do sonho
que fez mudar o mundo
enfadonho.
imundo…
Jesus Cristo,
Madre Teresa,
Mandela,
Che Guevara,
Luther King,
Xanana,
Malala,
Gandhi,
Pepe Mujica,
Salgueiro Maia,
Gorbatchov e
agora Lula…
lavradores do afecto,
verbo e complemento directo,
todos mal tratados
na horta que semearam…
suor bento
que corre de emoção,
hino triunfal da devoção
aos outros,
ao mundo,
ao coração…

Paulo Fonseca





……………………………………………………..

Confissão | Charles Bukowski

À espera da morte
como um gato
que saltará sobre a
cama

Sinto terrivelmente por
minha esposa

Ela verá este
corpo
duro e
branco

Vai sacudi-lo uma vez, depois
quem sabe
outra:

“Hank!”

Hank não
responderá.

Não é minha morte o que
me preocupa, é minha mulher
abandonada com este
monte de
nada.

Quero
no entando
que ela saiba
que todas as noites
dormindo
ao seu lado

Que mesmo as discussões
inúteis
sempre foram
esplêndidas

E que as palavras
difíceis
que sempre temi
dizer
podem agora ser
ditas:

Eu te
amo.

Charles Bukowski
……………………………………………………..

Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.

William Shakespeare
……………………………………………………..

In the end, we’re all just humans, and love, only love, can heal our brokenness.

Et à la fin, nous sommes tous juste des humains, et l’amour, seul l’amour peut guérir notre brisement.

Y al final, todos somos humanos, y el amor, solo el amor puede sanar nuestro quebrantamiento.

E no final, todos nós somos apenas humanos, e o amor, somente o amor pode curar nosso quebrantamento.

F. Scott Fitzgerald

……………………………………………………..

O mar dos meus olhos | Sophia de Mello Breyner Andresen

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens…
Há mulheres que são maré em noites de tardes…
e calma

Sophia de Mello Breyner Andresen


……………………………………………………..

Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.

Cícero

……………………………………………………..

Cântico Negro | José Régio

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui!”
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãeNão, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: “vem por aqui!”?Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?…
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios…
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
– Sei que não vou por aí!

José Régio, in ‘Poemas de Deus e do Diabo’

……………………………………………………..

 

Blues da morte de amor | Vasco Graça Moura

 

já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.Vasco Graça Moura, in “Antologia dos Sessenta Anos”

……………………………………………………..

Se Tu Viesses Ver-me… | Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

Florbela Espanca, in “Charneca em Flor”

……………………………………………………..

Não Deixeis um Grande Amor | José Tolentino Mendonça

Aos poucos apercebi-me do modo
desolado incerto quase eventual
com que morava em minha casa

assim ele habitou cidades
desprovidas
ou os portos levantinos a que
se ligava apenas por saber
que nada ali o esperava

assim se reteve nos campos
dos ciganos sem nunca conseguir
ser um deles:
nas suas rixas insanas
nas danças de navalhas
na arte de domar a dor

chegou a ser o melhor
mas era ainda a criança perdida
que protesta inocência
dentro do escuro

não será por muito tempo
assim eu pensava
e pelas falésias já a solidão
dele vinha

não será por muito tempo
assim eu pensava
mas ele sorria e uma a uma
as evidencias negava

por isso vos digo
não deixeis o vosso grande amor
refém dos mal-entendidos
do mundo

José Tolentino Mendonça, in ‘Longe não Sabia’

……………………………………………………..

Acredito que a amizade, como o amor do qual participa, exige quase tanta arte como uma figura de dança bem conseguida. É preciso um grande entusiasmo e uma grande contenção, muitas trocas de palavras e muitos silêncios. E, sobretudo, muito respeito. O sentimento da liberdade do outro, da dignidade do outro, a aceitação, sem ilusões, mas também sem a menor hostilidade ou o mínimo desprezo, de um ser tal como ele é.

Marguerite Yourcenar

in De olhos abertos

……………………………………………………..

Tag Archives: Sergei Polunin

Natalia Osipova and Sergei Polunin

2018/04/22 by Das Culturas

0

Posted in Dança, Espectáculos, Fotografia, Mulher + Homem, Retratos, Vítor Coelho da Silva. Com as etiquetas Natalia Osipova, Sergei Polunin

“Spartacus VS Crassus” Sergei Polunin / Сергей Полунин (Natalia Osipova)

2018/04/15 by Das Culturas

0

Posted in Ópera, Dança, Música, Videoteca. Com as etiquetas Natalia Osipova, Sergei Polunin

Navegação de artigos

Um livro, uma caneta, uma criança e um professor podem mudar o mundo | Malala Yousafzai | Prémio Nobel da Paz

  • Registar
  • Iniciar sessão
  • RSS dos artigos
  • Feed RSS dos comentários.
  • WordPress.com

Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens | Arthur Rimbaud |

Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo 1º | Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Estatísticas do site

  • 1,021,886 hits

Clique para seguir este blog e receber notificações de novos posts por email.

Junte-se a 54.285 outros seguidores

PESQUISA NO BLOG

Para Sempre | Carlos Drummond de Andrade

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Categorias

AUTORES DO BLOG

  • antonioganhao
  • António Paiva
  • Das Culturas
  • Rodrigo Della Santina
  • Vicente Freitas
  • Vítor Coelho da Silva

CALENDÁRIO

Abril 2018
S T Q Q S S D
« Mar    
 1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
30  

Artigos Recentes

  • 25 de Abril de 1974 | Capitão Salgueiro Maia
  • 25 de Abril, sempre!
  • CÃMARA MUNICIPAL DE ALCANENA | NOTA DE IMPRENSA | Resposta ao/s Requerimentos Apresentados Referentes à Reposição da Diferença Remuneratória
  • PORTUGAL 25 abril 1974 | símbolo da revolução democrática e popular
  • A amizade | Marguerite Yourcenar

Comentários Recentes

Virgilio A. P. Macha… em DiEM25 | Estás a inspirar vári…

Artigos mais populares

  • Sophia de Mello Breyner Andresen | A Salgueiro Maia
  • PORTUGAL 25 abril 1974 | símbolo da revolução democrática e popular
  • Nazaré - o segredo das ondas gigantes.
  • A amizade | Marguerite Yourcenar
  • 4 kms - distância entre a Rússia e os Estados Unidos da América
  • 28 de Abril, 16 horas, Biblioteca Florbela Espanca | Matosinhos | Convite | Com a presença de Carlos Matos Gomes
  • The 50 Greatest Books | Dia Mundial do Livro
  • Portugal - Ana Cristina Leonardo

Nuvem de Categorias

António Ganhão Arquitectos Arquitectura Arte de Rua Artes Plásticas Biografias Cartas Cartoon Cinema Citando [...] Ciência Crónicas Curtas & Eventos Dança Design Divulgação | Pub Engenharia Civil Ensaio Entrevista Estilismo Estórias Festivais Filosofia Filosofia Política Fotografia História História | Locais Humor Literatura Literatura [diversos] Memórias Música Natureza | Urbanismo Nota de Imprensa Noutras Línguas Pintura Poesia Política | Geostratégia Projectos | Obras Prosa Religiões Retratos Sinais Teatro Tertúlias de Lisboa U-Outras Videoteca Vítor Coelho da Silva Ópera

Tags | Etiquetas

Adelto Gonçalves Afonso Cruz Albert Camus Ana Cristina Silva André Barata António Galopim de Carvalho António Guerreiro Arlindo L. Oliveira Arqº João Paciência Bob Dylan Carlos Drummond de Andrade Carlos Matos Gomes Charles Bukowski Charlie Chaplin Chuck Berry Cristina Carvalho Cyd Charisse David Bowie DiEM25 Eduardo Pitta Elina Garanca Eric Clapton FERNANDO DACOSTA Fernando Pessoa Fotografia Fotografias Francisco Louçã Francisco Seixas da Costa Gonçalo M. Tavares helmut newton Inês Salvador Jerry Lee Lewis José Pacheco Pereira José Saramago José Teófilo Duarte Keith Richards Leonard Cohen Luís carmelo Malika Mellal Manuel Alegre Maria Isabel Fidalgo Marianne Faithfull Marilyn Monroe Materiais Diversos Mia Couto Miguel Real Mikhail Baryshnikov Minde Mozart Mulher Mário de Carvalho Natalia Osipova Oscar Wilde Pablo Neruda Pablo Picasso Paul McCartney Pedro Almeida Vieira Pedro Teixeira Neves Peter Gabriel Rolling Stones Rui Tavares Santana Sophia de Mello Breyner Andresen Tabula Rasa Teatro Rápido Teolinda Gersão Tertúlias de Lisboa UTE LEMPER Valdeck Almeida de Jesus Vicente Freitas VICTOR HUGO VIRIATO SOROMENHO MARQUES Vítor Coelho da Silva YANIS VAROUFAKIS Álvaro Cunhal

IMAGEM | LOGO DO BLOG

1. Das Culturas é um espaço das culturas e para as culturas. Literatura, Artes, Culturas, Saberes…

2. Se pretende ser AUTOR contacte-nos para: casadasculturas@gmail.com e enviar-lhe-emos um convite via email.

3. A propriedade e coordenação são do Vítor Coelho da Silva, também conhecido na Web como Manolo e Don Manolo.

4. Nota: os artigos são automaticamente reenviados para o Twitter e Facebook.

5. Os textos colocados de outros autores não reflectem necessariamente as opiniões do Coordenador.

Comunidade das Culturas

TEMPLO | MARIA ISABEL FIDALGO

Ainda templo, mãe
a quente alegria
desse ventre
concha limpa
branco tempo
onde de rosas
teu odor
foi meu canto
e meu sustento.

Tenho água na saudade
e só não grito
para não acordar
o teu sono repousado
nesse cais estrelado
em que te habito.

………………………………………….

TÃO DOCE | MARIA TERESA HORTA

Tão doce quanto secreta
tão secreta
e tão vazia

Tem no peito um leopardo
e alma de malvasia

Tão duvidosa e perene
tão ardente que despia

Do coração a pantera
que no corpo lhe crescia

Tão macia quando era
se era meiga
e sedenta

Veneno de beladona
doce de cereja preta

…………………………………………..

VASCO GRAÇA MOURA | VAI-SE A LASCIVA MÃO

vai-se a lasciva mão devagarinho
no biquinho do peito modelando
como nuns versos conhecidos quando
uma mulher a meio do caminho

era de vento e nuvens, sombras, vinho,
e sonoras risadas como um bando.
os dedos lestos vão desenredando
roupa,cabelos, fitas, desalinho.

a noite desce e a nudez define-a
por contrastes de luz e de negrume
ponto por ponto, alínea por alínea.

memória e amor e música e ciúme
transformados nos cachos da glicínia,
macerando no verão sombra e perfume.

……………………………………….

FLORBELA ESPANCA

Eu queria mais altas as estrelas,
Mais largo o espaço, o Sol mais criador,
Mais refulgente a Lua, o mar maior,
Mais cavadas as ondas e mais belas;

Mais amplas, mais rasgadas as janelas
Das almas, mais rosais a abrir em flor,
Mais montanhas, mais asas de condor,
Mais sangue sobre a cruz das caravelas!

E abrir os braços e viver a vida:
– Quanto mais funda e lúgubre a descida,
Mais alta é a ladeira que não cansa!

E, acabada a tarefa… em paz, contente,
Um dia adormecer, serenamente,
Como dorme no berço uma criança!

……………………………………….

E quando me escrevias, era tão belo o que me contavas que me despia para ler as tuas cartas. Só nua eu te podia ler | Mia Couto

……………………………………….

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Pudesse eu não ter laços
nem limites
Ó vida de mil faces
transbordantes
Para poder responder
aos teus convites
Suspensos na surpresa
dos instantes!

………………………………………..

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.

…………………………………………

CASIMIRO DE BRITO

Quando os teus joelhos
encobrem as tuas águas
meu desejo aumenta

Tépidos os seios
que me dás a beber
mas antes mil beijos

Cubro-te de flores
carnais. Que mais te darei?
Tudo o que pedires

Entro e desfaleço
no altar em que teu corpo
dócil se transforma

Tentação de beijos
os seios que adivinho
sob o teu vestido

Descendo elevo-me
ao jardim do teu corpo
tanta flor a colher

Degusto encantado
o mel das tuas carícias
todo o meu te dou

…………………………………………

PABLO NERUDA

Saberás que não te amo e que te amo
pois que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem a sua metade de frio.

Amo-te para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Amo-te e não te amo como se tivesse
nas minhas mãos a chave da felicidade
e um incerto destino infeliz.

O meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

…………………………………………

CHARLES BUKOWSKI

Long walks at night
that’s what good for the soul
peeking into windows
watching tired housewives
trying to fight off
their beer-maddened husbands.

…………………………………………

ALBERTO CAEIRO | FERNANDO PESSOA

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)
Do livro “O Guardador de Rebanhos”

…………………………………………

CARLOS DRUMMOMD DE ANDRADE

Amor, amor, amor
o braseiro radiante que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.

…………………………………………

CARLOS DRUMMOMD DE ANDRADE

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

…………………………………………

FERREIRA GULLAR

TRADUZIR-SE

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

…………………………………………

Álvaro de Campos: “Ora porra!”

Ora porra!

Então a imprensa portuguesa é
que é a imprensa portuguesa?
Então é esta merda que temos
que beber com os olhos?
Filhos da puta! Não, que nem
há puta que os parisse.

…………………………………………

Federico García Lorca

A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana 
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.

El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en Punto de la tarde.

Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay, qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombra de la tarde!

…………………………………………

To be, or not to be

William Shakespeare

[Hamlet]

To be, or not to be: that is the question:
Whether ‘tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them. To die: to sleep;
No more; and by a sleep to say we end
The heart-ache, and the thousand natural shocks
That flesh is heir to, ‘tis a consummation
Devoutly to be wish’d. To die, to sleep;
To sleep: perchance to dream: aye, there’s the rub;
For in that sleep of death what dreams may come,
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause: there’s the respect
That makes calamity of so long life;
For who would bear the whips and scorns of time,
The oppressor’s wrong, the proud man’s contumely,
The pangs of despised love, the law’s delay,
The insolence of office, and the spurns
That patient merit of the unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? who would fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death,
The undiscover’d country from whose bourn
No traveler returns, puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all,
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o’er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pith and moment
With this regard their currents turn awry
And lose the name of action.

…………………………………………

INVICTUS

Poema de Inspiração de Nelson Mandela

William Ernest Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

——

INVICTO

William Ernest Henley

Da noite escura que me cobre,
Como uma cova de lado a lado,
Agradeço a todos os deuses
A minha alma invencível.

Nas garras ardis das circunstâncias,
Não titubeei e sequer chorei.
Sob os golpes do infortúnio
Minha cabeça sangra, ainda erguida.

Além deste vale de ira e lágrimas,
Assoma-se o horror das sombras,
E apesar dos anos ameaçadores,
Encontram-me sempre destemido.

Não importa quão estreita a passagem,
Quantas punições ainda sofrerei,
Sou o senhor do meu destino,
E o condutor da minha alma.

——

(ver os 2 vídeos sem e com tradução, declamado por Alan Bates)

…………………………………………

LUÍS VAZ DE CAMÕES

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.

Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

…………………………………………

POESIA PALACIANA | João Roiz Castell-Branco

Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’ esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

in Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516)

…………………………………………

ESTE INFERNO DE AMAR | ALMEIDA GARRETT

Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei…

in ‘Folhas Caídas’

 

…………………………………………

A confissão de um vagabundo | Serguei Iessiênin

Nem todos sabem cantar
Não é dado a todos ser maçã
Para cair aos pés dos outros.

Esta é a maior confissão
Que jamais fez um vagabundo.

Não é à toa que eu ando despenteado,
Cabeça como lâmpada de querosene sobre os ombros.
Me agrada iluminar na escuridão
O outono sem folhas de vossas almas,
Me agrada, quando as pedras dos insultos
Voam sobre mim, granizo vomitado pelo vento.
Então limito-me a apertar mais com as mãos
A bolha oscilante dos cabelos.

Como eu me lembro bem então
Do lago cheio de erva e do som rouco do amieiro
E que nalgum lugar vivem meu pai e minha mãe,
Que pouco se importam com meus versos,
Que me amam como a um campo, como a um corpo,
Como à chuva que na primavera amolece o capim.
Eles, com seus forcados, viriam aferrar-vos
A cada injúria lançada contra mim.

Pobres, pobres camponeses,
Por certo, estão velhos e feios,
E ainda temem a Deus e aos espíritos do pântano.
Ah, se pudessem compreender
Que o seu filho é, em toda a Rússia,
O seu melhor poeta!
Seus corações não temiam por ele
Quando molhava os pés nos charcos outonais?
Agora ele anda de cartola
E sapatos de verniz.

Mas sobrevive nele o antigo fogo
De aldeão travesso.
A cada vaca, no letreiro dos açougues,
Ele saúda à distância.
E quando cruza com um coche numa praça,
Lembrando o odor de esterco dos campos nativos,
Lhe dá vontade de suster o rabo dos cavalos
Como a cauda de um vestido de nooiva.

Amo a terra.
Amo demais a minha terra!
Embora a entristeça o mofo dos salgueiros,
Me agradam os focinhos sujos dos porcos
E, no silêncio das noites, a voz alta dos sapos.
Fico doente de ternura com as recordações da infância.
Sonho com a névoa e a umidade das tardes de abril,
Quando o nosso bordo se acocorava
Para aquecer os ossos no ocaso.
Ah, quantos ovos nos ninhos das gralhas,
Trepando nos seus galhos, não roubei!
Será ainda o mesmo, com a copa verde?
Sua casca será rija como antes?

E tu, meu caro
E fiel cachorro malhado?!
A velhice te fez cego e resmungão.
Cauda caída, vagueias no quintal,
Teu faro não distingue o estábulo da casa.
Como recordo as nossas travessuras,
Quando eu furtava o pão de minha mãe
E mordíamos, um de cada vez,
Sem nojo um do outro.

Sou sempre o mesmo.
Meu coração é sempre o mesmo.
Como as centáureas no trigo, florem no rosto os olhos.
Estendendo as esteiras douradas de meus versos
Quero falar-vos com ternura.

Boa noite!
Boa noite a todos!
Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo…
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.

Luz azul, luz tão azul!
Com tanto azul, até morrer é zero.
Que importa que eu tenha o ar de um cínico
Que pendurou uma lanterna no traseiro!
Velho, bravo Págaso exausto,
De que me serve o teu trote delicado?
Eu vim, um mestre rigoroso,
Para cantar e celebrar os ratos,
Minha cabeça, como agosto,
Verte o vinho espumante dos cabelos.

Eu quero ser a vela amarela
Rumo ao país para o qual navegamos.

Expoente de uma ramificação das vanguardas, o Imagismo, Serguei Iessiênin  simbolizou a tragédia vivida pelos grandes poetas soviéticos: viveu 30 anos de grande furor literário e pessoal, foi casado com a precursora da dança moderna. Isadora Duncan, e encerrou sua vida suicidando-se num quarto de hotel.

…………………………………………

Ergo uma rosa | José Saramago

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua não faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou ventos de cabelos que sacode.
Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O céu pontua de ninhos e de cantos,
Bato no chão a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.
Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.
Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros.

José Saramago

…………………………………………

 

POEMA | JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

Perdemos repentinamente

a profundidade dos campos

os enigmas singulares

a claridade que juramos conservar

 

mas levamos anos

a esquecer alguém

que apenas nos olhou.

 

 in A Noite Abre Meus Olhos

José Tolentino Mendonça

…………………………………………

A Minha Religião é o Novo | Gonçalo M. Tavares

A minha Religião é o Novo.
Este dia, por exemplo; o pôr do Sol,
estas invenções habituais: o Mar.
Ainda:
os cisnes a Ralhar com a água. A Rapariga mais bonita que
ontem.
Deus como habitante único.
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o Rótulo do nosso
Frasco).
Dele também se podia dizer, como homenagem:
Hóspede discreto.
Ou mais pomposamente:
O Enorme Hóspede discreto.
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele:
em todo o lado é hóspede,
e em todo o lado é Discreto.

Gonçalo M. Tavares, in “Investigações. Novalis”

…………………………………………

A LÍNGUA LAMBE | Carlos Drummond de Andrade

 

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

 

Carlos Drummond de Andrade
…………………………………………
Soneto 23 | William Skakespeare
Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensaMais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado. William Skakespeare

…………………………………………
Temos a arte para não morrer da verdade.

Friedrich Nietzsche

…………………………………………
A uma senhora que me pediu versos | Machado de Assis

Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.

Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou têm assaz
Melancolia.

Uma só das horas tuas
Valem um mês
Das almas já ressequidas.

Os sóis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.

Machado de Assis

…………………………………………

Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas que pelas respostas.

Voltaire
…………………………………………

Ton silence | Malika Mellal

Écouter le silence
N’arrive qu’à me faire peur
Je préfère écouter le bruit
Que le silence de la nuit
Le bruit parle à mon cœur
Il est pour moi une chance.

Le bruit me sourit
Il me rappelle à la vie
Le bruit accords de vibrations
Merveilleux mélange de sons

Le bruit du vent dans mes cheveux
Caresses de souffles merveilleux
Celui du clapotis de pluie sur le toit
Jolie symphonie de perles d’éclats

Le bruit des jeux d’enfants
Qui figent un moment le temps
Le bruit des oiseaux dans leurs nid
Qui annonce que le printemps fleurit.

Le bruit de ton amour
Que je refuse sourd
Celui même de ta colère
Sera toujours moins amer
Que ce silence que tu opères
Qui me ronge et m’exaspère.

Comment le silence peut-il me parler
Quand il est absence désespérée
Que veux tu que j’entende
D’un silence qui distande

Je préfère les éclats de voix
À ce silence qui broie
Je vis de mots murmurés
De mots hurlés , jamais trafiqués
J’aime la vérité au silence déguisé.

Malika Mellal février 2018

Copyright@mellalmalika | Gustav Klimt

 
…………………………………………
 
A Giganta | Charles Baudelaire

No tempo em que a Natura, augusta, fecundanta,
Seres descomunais dava à terra mesquinha,
Eu quisera viver junto d’uma giganta,
Como um gatinho manso aos pés d’uma rainha!

Gosta de assistir-lhe ao desenvolvimento
Do corpo e da razão, aos seus jogos terríveis;
E ver se no seu peito havia o sentimento
Que faz nublar de pranto as pupilas sensíveis

Percorrer-lhe a vontade as formas gloriosas,
Escalar-lhe, febril, as colunas grandiosas;
E às vezes, no verão, quando no ardente solo

Eu visse deitar, numa quebreira estranha estranha,
Dormir serenamente à sombra do seu colo,
Como um pequeno burgo ao sopé da montanha!

Charles Baudelaire, in “As Flores do Mal”
Tradução de Delfim Guimarães
 

 
…………………………………………
 
Quando um Homem Quiser | José Carlos Ary dos Santos
 
Tu que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
 
Ary dos Santos, in ‘As Palavras das Cantigas’
 

 …………………………………………
 
Amor é um Fogo que Arde sem se Ver | Luís Vaz de Camões
 
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”
 

 …………………………………………
 
Amo-te Muito, Meu Amor, e Tanto | Jorge de Sena
 
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa…
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena, in “Poesia, Vol. I”
 

 …………………………………………
 
Ser ou não Ser | William Shakespeare
 
Hamlet: Ser ou não ser, essa é a questão: será mais nobre suportar na mente as flechadas da trágica fortuna, ou tomar armas contra um mar de obstáculos e, enfrentando-os, vencer? Morrer — dormir, nada mais; e dizer que pelo sono se findam as dores, como os mil abalos inerentes à carne — é a conclusão que devemos buscar. Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida.

William Shakespeare, in “Hamlet”
 

 …………………………………………
 
Ausência | William Shakespeare
 
Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos.
 …………………………………………
 

Cancelar