Citando Sónia Cravo

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Os olhos dela espelham um misto de nervos e humilhação e desordem. É um derrame infinito, é um desejo quase constante de estar noutro lugar qualquer, sinta embora que, nesta vida, há muito a suportar.
É uma vontade imensa de beber, beber também por isto. A governanta, sentada ao seu lado, está em silêncio; arruma a caixa de costura.
– Estou a … – balbucia Lia.
– Vou para o escritório, chama-me quando o jantar estiver pronto – interrompe Custódio, cortando pela raiz o que quer que ela fosse dizer.

Deste Lado do Mar Vermelho, de Sónia Cravo

Este é um livro sobre o medo. O medo da loucura, da normalidade, do segredo, o medo do medo. Neste livro existe um cão que se chama Pide e que é espancado. Este livro não é sobre o medo, é sobre a possibilidade de renascermos. (Acrítico – Leituras dispersas)

 

 

Pantera Negra – Eusébio 1942-2014

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Eusébio da Silva Ferreira deixou-nos a 5 de janeiro de 2014 mas as memórias prevalecem.

Aqui recolhemos alguns tributos em sua memória:

Sim: também tenho os meus heróis. Este viverá para sempre. Vi-o, pela primeira vez, a jogar tinha sete anos de idade. Continuarei para sempre a vê-lo jogar.E a vencer. Obrigado, Eusébio!
Luís Carmelo, professor universitário e escritor (do Facebook)

Encontrei-o uma vez em Maputo, conversámos por uns instantes. Mesmo tendo ficado um bocado apardalado com aquele encontro inesperado, impressionou-me principalmente aquele jeito tão simples e tão humano e tão contrário à soberba parva de alguns. No último ano da sua vida, integrou a Comissão de Honra das Comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal. Era uma montanha de generosidade, de humildade, de integridade – e era o Eusébio.
Bruno Dias, Deputado da Assembleia da República pelo PCP (do Facebook)

Só uma vez, dois anos atrás, vi Eusébio pessoalmente. Eu estava num restaurante, e olhava a rua através da montra. Vi Eusébio sair de um automóvel, com enorme dificuldade, ajudado por um amigo. Atravessou a estrada, em direcção ao restaurante, apoiado no outro homem, com uma debilidade imensa, as pernas frouxas como papel ao vento. Foi nas pernas que fixei o olhar e o pensamento. Com aquelas pernas ele tinha conquistado o mundo, as mesmas pernas que agora se recusavam a deixá-lo avançar senão arrastando-se. É nesse momento em que vi Eusébio que penso hoje, sem me admirar, sem me entristecer. Um homem, por muito grande que tenha sido, começa a morrer muito antes da sua morte. Nós é que nos recusamos a pensar nisso.
Licínia Quitério, escritora e poeta (do Facebook)

Foi um grande futebolista, uma pessoa bem formada e fiquei sempre com a ideia de que era um homem muito modesto e muito simpático.
Mário Soares, ex-presidente da república (jornal Record)