O complexo do sobrinho mimado da tia rica | Francisco Louçã in Jornal Expresso

Há, na ofensiva desembestada da direita contra o controlo público da TAP, um rancor que contrasta curiosamente com a pedinchice de financiamento sempre que esta ou outra empresa cai em dificuldades. Se a chuva de dinheiro se limitasse a salvar Neeleman, que aliás parece ter pouco que o recomende, a considerar as provas que deu nestes anos, cantariam os anjos no céu. Se esse dinheiro fosse somente uma carita transição para a venda à Lufthansa, como mandam as leis do mercado, era um sacrifício em prol do destino, mas aleluia que o mercado está salvo.

Agora o Estado querer dirigir a empresa que comprou, haver uma companhia de bandeira em Portugal e não se desbarretar perante a soberania alemã, isso é um atrevimento, que levanta no mesmo fervor espíritos tão diversos como Júdice, Figueiredo e Rangel. Vai ser caro, anunciam, lúgubres; se pagassemos abdicando do direito de exigir a adaptação da empresa às necessidades de Portugal, então seria um fulgurante negócio, como está bom de ver. É de notar que, entre os que agora se indignam com o custo, estão alguns dos que advogaram, intermediaram, consultoraram ou aplaudiram negócios como a privatização dos CTT, da EDP, da REN e outros esplêndidos contratos que acomodaram fortunas, são portanto especialistas de cartilha passada em questões de gestão da coisa pública.

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