Cantem! Cantemos! | Carlos Matos Gomes

Vivemos e revivemos entre o “Lá vamos cantando e rindo, levados, levados sim!”, do hino da Mocidade Portuguesa e “o quem canta o seu mal espanta”. Os vendedores desta banha de cobra sacam os seus melhores trunfos para nos manter mansos. Cumprem o seu papel.

A realidade portuguesa é a de uma gravíssima crise, com a destruição de cerca de 15% do Produto Interno Bruto, com o turismo, que até fora a locomotiva da nossa economia de Disneylândia, agora em agonia, a exposição das fragilidades de uma sociedade de jovens precários, da UBER à venda de serviços médicos à hora e ao Alojamento Local, de velhos encafuados em lares ilegais, um desemprego de que não se conhece a verdadeira dimensão, fome nas classe médias, aumento exponencial de mortes por quebra de rotinas de prestação de serviços de saúde, mobilizadas para a pandemia, isto num sistema mundial desregulado, em que o nosso império tem à frente um imperador louco, e a União Europeia a que pertencemos está sujeita à mesquinhez de um agiota holandês e aos humores de um magarefe húngaro.

Esta é, em traços muito gerais, a nossa situação. Espero que não seja tão má. Descobrimos, com falso espanto, que em Julho de 2020 estamos como em Março de 1975, quando foi indispensável nacionalizar a banca e, por arrastamento, boa parte das empresas endividadas e inviáveis. Quando descobrimos a podridão de um sistema financeiro e económico assente em areias movediças e que flutuava sobre uma camada espuma com aparência rochosa.

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