A civilização que não trata do lixo | Carlos Matos Gomes

A nossa civilização — e a nossa civilização é o capitalismo — assenta na produção e no consumo, tendo por pressuposto a irracionalidade dos recursos ilimitados. O capitalismo tem na base duas ideias força: laissez faire, laissez passer, liberdade absoluta para extrair recursos, para os transformar e para os vender. E: tudo o que pode ser produzido pode ser consumido, crença cega da capacidade de extração de produtos, sem olhar a meios nem a consequências, e crença cega na capacidade de absorção do que é produzido, seja pela natureza, seja pela sociedade.

Destes dois princípios surge como natural o irracional, mas sagrado vocábulo do “crescimento”. Todos os anos, os iluminados das altas instâncias internacionais e nacionais que nos governam, referem que “crescemos” mais uns tantos por cento. Jamais alguém refere a irracionalidade do crescimento contínuo. A história da Ilha da Páscoa, em que os habitantes todos os anos cortavam mais árvores (cresciam)para fazerem mais estátuas de deuses porque necessitavam de mais deuses para terem mais árvores para cortar e assim sucessivamente até a Ilha ficar inabitável.

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