Neste seu novo livro, Rubem Fonseca opta de novo pela concisão, tal como fizera na coletânea Amálgama, vencedora do Prémio Jabuti 2015. Junta desta vez trinta e oito histórias curtas, por vezes curtíssimas, nas quais volta a abordar brilhantemente, de forma crua mas delicada, temas já recorrentes na sua obra mais recente: o envelhecimento, a obesidade, a loucura e todo o tipo de decadência humana.
“A pomposidade venturosa e festiva das palavras obscenas.” Palavras do autor que se enquadram perfeitamente nesta obra. Diverti-me imenso. Vasco Costa | 2021-06-07
RUBEM FONSECA
Nasceu em Juiz de Fora (Minas Gerais), no Brasil, a 11 de maio de 1925. É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa. Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com seis prémios Jabuti e, pelo conjunto da sua obra, com o Prémio Camões em 2003. Em 2015, recebeu o Prémio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL). É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista, que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora. Os romances Agosto e A Grande Arte são duas das suas obras incontornáveis, exemplos máximos da sua escrita sóbria e de um realismo «duro» que fez escola na literatura brasileira: «todas as palavras devem ser usadas», disse uma vez numa entrevista. A Carne Crua — uma coleção de 26 contos inéditos, lançada em Portugal há precisamente um ano —, que viria a ser a sua derradeira criação, juntam-se atualmente no catálogo da Sextante os romances O Seminarista, Buffo & Spallanzani (Prémio Literário Casino da Póvoa do Correntes d’Escritas), A Grande Arte, Agosto e O Selvagem da Ópera, os livros de contos Calibre 22, Axilas & Outras Histórias Indecorosas, Histórias Curtas e Amálgama, e a autobiografia de infância intitulada José. Rubem Fonseca faleceu no Rio de Janeiro a 15 de abril de 2020, vítima de um enfarte do miocárdio. Após a sua morte foi editado O Doente Molière.
Quanto mais leio, mais convicto me revejo na opinião de que a solução não deveria passar pelo encerramento definitivo do Aeroporto da Portela. Convinha que o processo fosse claro, rápido, económico quanto baste e muito bem explicado ao Povo Português. [vcs]
19 NOVEMBRO 2017
Em declarações ao Expresso, Carlos Lacerda, presidente executivo da concessionária, dá conta do plano de contingência da empresa, contabilizando que o Aeroporto Humberto Delgado tenha capacidade para chegar aos 49 milhões de passageiros por ano (este ano deverá totalizar 26 milhões).
Os cálculos pressupõem o aumento do número de movimentos por hora, para 44, e que o horário de funcionamento passe de 18 horas diárias para 20 (o que necessita de autorização camarária).
As contas da ANA multiplicam o número de passageiros médio por voo (180) pela taxa de ocupação média (85%), vezes os 44 movimentos por hora, as 20 horas diárias e os 365 dias do ano, o que totaliza 49 milhões de passageiros ao ano.
Mas há constrangimentos a este cenário de crescimento da capacidade aeroportuária. A possibilidade de elevar o número de movimentos por hora dos atuais 38 para 44 depende do espaço aéreo disponível, “que é hoje maioritariamente preenchido pelo tráfego militar (servido por quatro bases: Sintra, Alverca, Montijo e Alcochete)”, mas também do estacionamento das aeronaves. Carlos Lacerda compara as limitações do espaço aéreo com a situação de “ter uma autoestrada de seis vias e apenas utilizar uma”, sublinhando que, “mesmo que o espaço aéreo fosse totalmente libertado, é necessário que haja capacidade no controlo aéreo”, referindo-se ao novo software de controlo aéreo da NAV, previsto na proposta de Orçamento do Estado para 2018.
“Se nos derem o espaço aéreo, do terminal tratamos nós”, afirma. Ciente de que este plano de contingência, até que o Montijo esteja a operar, depende destes atuais constrangimentos, o responsável apela a um diálogo construtivo, de modo a flexibilizar o espaço aéreo civil com o militar, sendo que continua a decorrer o diálogo com a NAV e com a Força Aérea. Mas “não basta termos o terminal, o estacionamento também é crítico”. Daí que o encerramento da pista 17/35 seja “necessário como solução para estacionamento”.
A Guerra dos Corredores Econômicos entrou em território incandescente e inexplorado: Terror do Oleoduto.
Uma sofisticada operação militar – que exigiu um planejamento exaustivo, possivelmente envolvendo vários atores – explodiu quatro seções separadas dos gasodutos Nord Stream (NS) e Nord Stream 2 (NS2) esta semana nas águas rasas dos estreitos dinamarqueses, no Mar Báltico, perto da ilha de Bornholm.
Sismólogos suecos estimaram que o poder das explosões pode ter atingido o equivalente a até 700 kg de TNT. Tanto ns quanto NS2, perto das fortes correntes ao redor de Borholm, são colocados no fundo do mar a uma profundidade de 60 metros.
Os tubos são construídos com concreto reforçado em aço, capazes de suportar o impacto das âncoras do porta-aviões, e são basicamente indestrutíveis sem graves cargas explosivas. A operação – causando dois vazamentos perto da Suécia e dois perto da Dinamarca – teria que ser realizada por drones subaquáticos modificados.
Todo crime implica motivo. O governo russo queria – pelo menos até a sabotagem – vender petróleo e gás natural para a UE. A noção de que a inteligência russa destruiria os oleodutos da Gazprom é além de ridícula. Tudo o que tinham que fazer era desligar as válvulas. O NS2 nem sequer estava operacional, baseado em uma decisão política de Berlim. O fluxo de gás na SNS foi dificultado pelas sanções ocidentais. Além disso, tal ato implicaria que Moscou perderia uma importante vantagem estratégica sobre a UE.
I Um menino de Itararé, criado pelos avós, que, quando chega à idade do entendimento, aos 15 anos, sai de casa em busca da mãe, que sumira quando ele nascera e estaria perdida nos cafundós do Mato Grosso do Sul, perto da fronteira com a Bolívia, e virara missionária. Em breves palavras, este é o enredo do novo livro de Silas Corrêa Leite (1952), O menino que queria ser super-herói (Lisboa/São Paulo, Editora Primeiro Capítulo, 2022), romance infantojuvenil que vem se juntar a uma obra já extensa que inclui publicações em outros gêneros (poesia, prosa poética, contos e romances). Inteligente, precoce, muito ativo e sensível, o menino sabe que o sótão de sua casa guarda um segredo e o porão também esconde coisas do passado de seus familiares. Fã de desenhos animados, de histórias em quadrinhos e de personagens de gibis, como Super-Homem, Batman, o Homem Invisível e o Capitão Marvel, o menino, que tem o nome de Ben-Hur, precisa visitar aqueles lugares recônditos, para conhecer os mistérios de sua vida e descobrir segredos, como saber que seu pai ainda vive em Itararé, mítica cidade localizada no Estado de São Paulo “fincada às barrancasdo vizinho Estado do Paraná”, famosa depois da chamada Revolu& ccedil;ão de 1930, que constituiu mais um golpe civil-militar em que, desta vez, as elites dos demais Estados derrubaram as tradicionais elites paulistas e mineiras. Itararé, antiga terra dos índios guaianases e, depois, no século XVIII, ponto de descanso dos tropeiros que levavam animais do Sul para a feira de Sorocaba, ficaria famosa porque, quando Getúlio Vargas (1882-1954) partiu de trem rumo ao Rio de Janeiro, então capital federal, esperava-se que ocorresse lá uma grande batalha, que não houve porque a cidade acolheu o futuro ditador na estação ferroviária, permitindo sua entrada no Estado de São Paulo, e os militares depuseram o presidente Washington Luís (1869-1957) em 24 de outubro daquele ano e impediram a posse do presidente eleito Júlio Prestes (1882-1946).
A Ordem dos Engenheiros e a Ordem dos Economistas anunciaram a 29 de setembro, por ocasião do encerramento da conferência “Portugal: solução aeroportuária”, organizada por amabas na Sede Nacional da Ordem dos Engenheiros, uma posição conjunta sobre a solução para o aeroporto que melhor servirá o País, na qual é defendida “uma solução aeroportuária estratégica e definitiva para Portugal, com uma infraestrutura desenvolvida de raiz, na região de Lisboa”.
De acordo com o documento ontem subscrito pelos Bastonários da Ordem dos Engenheiros e dos Economistas, Fernando de Almeida Santos e António Mendonça, respetivamente, nenhuma das duas associações profissionais se revê “em soluções duais que, em seu entender, comprometem o adequado desenvolvimento económico e social de Portugal”, advogando que “Portugal deve posicionar-se como um hub aeroportuário internacional, face à sua localização geográfica e histórico-estratégica, como ponte entre a Europa, a África e a América”.
Nas suas palavras iniciais, quer Fernando de Almeida Santos, quer António Mendonça, acentuaram a urgência de uma decisão, porque a demora na concretização dos vários projetos estruturantes, “que ultrapassam o imediatismo e que visam criar bases de sustentabilidade do desenvolvimento futuro do país”, resultam de atavismos nacionais, crónicos, que representam custos muito elevados para Portugal.
Tal posição foi secundada pela maioria dos oradores convidados. Carlos Matias Ramos, Bastonário dos engenheiros entre 2010 e 2016, e anterior Presidente do LNEC, defensor convicto do Novo Aeroporto de Alcochete, cujo estudo conduziu enquanto Presidente daquele Laboratório, foi um dos conferencistas principais, tendo apresentado uma história com cerca de 50 anos, feita de muitos estudos e várias soluções para a localização de um novo aeroporto na região de Lisboa que nunca saiu do papel. Matias Ramos dissecou o tema, demorando-se nos muitos prós que a solução de Alcochete, enquanto aeroporto único, reúne, em oposição aos contras que as restantes opções acarretam.
Carlos Correia da Fonseca, economista e consultor do Banco Mundial, igualmente Keynote Speaker da conferência, colocou o foco da sua intervenção nas virtudes da constituição das chamadas aerotrópoles, ou cidades aeroportuárias. “Permitiu-se que o aeroporto da Portela ficasse espartilhado entre estradas, bairros de fracos recursos e atividades que nada têm que ver com o setor aeroportuário”, identificou Carlos Correia da Fonseca, sublinhando mesmo que “logo nos anos 60 se verificava que nunca seria possível criar uma cidade aeroportuária na Portela”. Alcochete surge, para o economista como a opção que melhor permite tal desiderato.
Para além de Carlos Matias Ramos e Carlos Correia da Fonseca, também Augusto Mateus, Ana Brochado, Ricardo Cabral, Fernando Santo, Bento Aires, Luís Machado e Rosário Macário debateram o tema numa mesa redonda conduzida pela jornalista do Expresso, Anabela Campos. As vozes, relativamente consonantes, reafirmaram a capacidade técnica de que o País dispõe para uma infraestrutura desta envergadura – apesar do êxodo técnico registado nos últimos anos –, e pediram estratégia, independência, rigor e capacidade de decisão política com qualidade em prol dos mais elevados interesses do País.
As mulheres são as mães da Humanidade. Até os membros da Igreja Católica o “esquecem”. Todos, menos Jesus Cristo. O único que as respeitou e verdadeiramente amou. | [vítor coelho da silva]
Quando eu era jovem assistente na Faculdade de Letras de Lisboa, atrevi-me a perguntar a um catedrático de História (senhor de fama já lendária) porque é que tínhamos tantas colegas professoras na área da Literatura e tão poucas (ainda que distintíssimas) na área da História. A resposta que ele me deu há trinta anos parece hoje impensável: «a História chama menos as senhoras porque requer muito estudo».
A misoginia da atitude é arrepiante, mas (como todos sabemos) não é surpreendente. Mais tarde, já como professor em Coimbra, foi-me dito que havia dois professores catedráticos (também de geração salazarenta) que nunca tratavam a sua colega catedrática Maria Helena da Rocha Pereira por «Senhora Doutora» (como é normal entre colegas em Coimbra), mas sim por «Dona Maria Helena», embora eles entre si se tratassem por «Senhor Doutor» e ela própria os tratasse com essa deferência académica.
Se isto retrata a universidade portuguesa no século XX, estamos a ver bem o ambiente em que se teria desenrolado a discussão sobre se uma mulher tem capacidade para desempenhar as funções que, na Igreja Católica, são assumidas por padres, bispos, cardeais e papas.
O professor Daniel Gomes fala sobre o pensador Baruch Spinoza e os principais temas discutidos em sua obra: Deus, Natureza, Liberdade, Bíblia e Conatus.
AI PORTUGAL, PORTUGAL I De que é que estamos à espera? Por ora, da enxurrada de turistas, que encham os hotéis, os Airbnbs, os restaurantes, bares, clubes, tabernáculos, botequins, feirinhas, toda a sorte de veículos de animação turística de lés a lés, que larguem o pilim e não se chorem dos preços upa upa, pois isto não é Marrocos. Tudo se vende, em última instância, como num bordel.
Lava-se dinheiro. Compra-se a Imprensa e a visibilidade nas redes sociais. Vende-se a quem der mais. Vendem-se histórias de façanhas, de heróis, de lendas e narrativas. Amália, Eusébio, Pessoa, Camões, Saramago… de pins a livros. Quem não se ajeita na mercância do Comércio e das malhas tecidas pelo defunto Império, vende o cu por 7 tostões, vende o corpinho, como se vendeu o cinema Império, o Condes, o Monumental… Comprem, comprem… atraem-se os turistas e os investidores como abelhas a favos, com a lengalenga do sol, do país seguro, do inefável fado de terra santa. O Santander agradece.
E assim vamos caminhando, endividados, agarrados a empréstimos, ao correr da bola nos relvados, esperando ter um púbere Ronaldo a germinar no salão nobre da casa arrendada a um agiota e especulador que um dia garanta o sustento e orgulho das Donas Dolores. O crescimento económico reverte para as grandes empresas e seus associados, o crime compensa. Os preços sobem e o povo, triste, deixa andar. Come menos ou vai para a fila do Sidónio, deixa andar até lhe vir o cancro.
Olha o mar, o Oceano, pensa em emigrar, mas já não tem forças. E também, para onde há de ir? Os filhos que tentem a sorte. Nós por cá ficamos, submissos aos tostões do turista inculto, desinteressado e emproado, que compra suvenirs na loja do chinês made in China, que se está cagando para as belas e duras frases de Sophia, a verve visionária de Natália, quer é gastar pouco e que o sol lhe bata levemente na moleirinha.
A sabotagem dos pipelines Nordstream 1 e 2 cortou brutalmente o cordão umbilical energético da Alemanha com a Rússia. Parece óbvio para todos de que se trata de terrorismo com origem num “ator estatal”, como disseram de imediato os responsáveis dinamarqueses e suecos. Inevitavelmente, Zelensky acusou a Rússia. Mas esse reflexo de Pavlov carece de justificação.
Seria totalmente irracional que Moscovo destruísse não apenas uma copropriedade onde investiu 475 mil milhões de rublos, mas, sobretudo, seria absurdo que anulasse o seu instrumento principal de pressão contra as sanções da UE. Sem pipelines, Moscovo e Berlim ficam em mundos paralelos.
O jornal ECO noticiava que num tweet, Radoslaw Sikorski – ex-Ministro da Defesa e ex-MNE polaco, eurodeputado do PPE, e um peso pesado na política global -, agradeceu aos EUA os danos causados aos pipelines russos. Noutro tweet, Sikorski explicava que os “danos no Nordstream reduzem o espaço de manobra de Putin. Se quiser retomar o fornecimento de gás à Europa, terá de conversar com os países que controlam os gasodutos Brotherhood [Ucrânia] e Yamal [Polónia]”.
O “agradecimento”, gravemente acusatório a Washington, vindo de um seu fã incondicional, apenas o compromete a ele. Contudo, revela também como os demónios europeus estão à solta. O ódio à Alemanha, e não apenas à Rússia, faz hoje parte integrante da política oficial em Varsóvia, como ficou demonstrado no renovado pedido a Berlim por indemnizações pelas perdas da II Guerra Mundial.
A UE, que alguns adeptos do Dr. Pangloss consideram mais forte e unida do que nunca, recebe hoje sinais de menosprezo das chancelarias por esse mundo fora. Com a CE de Von der Leyen, a “Europa Alemã”, que segundo o malogrado Ulrich Beck resultou da gestão da crise do euro por Angela Merkel, está febril. Para merecer respeito em política é preciso conhecer os seus interesses cruciais. E saber defendê-los. A resposta europeia à invasão russa da Ucrânia foi desmesurada, ignorou completamente interesses e fragilidades, curvando-se num servilismo acrítico perante Biden. A coligação de Berlim destruiu, de um golpe, os alicerces de uma UE liderada pela Alemanha: segurança de abastecimento energético; estabilidade do euro; alguma (frágil) capacidade de manobra dentro da NATO. Sem estratégia e à deriva, os próximos meses dirão até que ponto é que a estrada de autoflagelação europeia terá alguma margem de mitigação.
A política em Portugal isolou-se numa exígua redoma de minudências. Os assuntos na agenda política minguaram. Para além de aceitarmos incondicionalmente a política monetária do BCE, já desistimos também de ponderar nas políticas externa e de defesa. Estamos a caminhar para uma situação em que a possibilidade de uma guerra nuclear limitada na Europa vai em crescendo. E perante tal enormidade, escutamos o PM e o MNE a repetirem, mecanicamente, os mantras de Josep Borrell e de Jens Stoltenberg. Nem uma hesitação. Nem uma dúvida. Fica-nos como magna questão nacional, a eterna localização do novel aeroporto de Lisboa. Mesmo sem devastação bélica, a Europa empobrecida talvez acabe até por tornar excessiva a atual capacidade da Portela. As torneiras que a Espanha fechou no Douro, congelando, com aviso prévio, a Convenção de Albufeira, dão-nos uma amostra da abundante solidariedade que nos aguarda num futuro cada vez mais fustigado pela crise ambiental e climática. Portugal foge da realidade, mas esta nunca se esquecerá de nós.