TRÊS DIÁLOGOS SOBRE A MORTE | PEDRO GALVÃO | por Carlos Fiolhais

Hoje escrevo no jornal I sobre este estimulante livro de Pedro Galvão. Ignoramos em geral o tema da morte, mas o tema impõe-se como uma constante da humanidade. Transcrevo um excerto:”(…) No 3.º diálogo, que trata a questão da imortalidade (“um tédio”, para o Sr. Perrier), são apresentados dois argumentos famosos na história das ideias sobre a morte. Um deles é de Epicuro, o filósofo grego dos sécs. IV e III a.C., que, na sua Carta a Meneceu, nos sossega: “Portanto, o mais atemorizador dos males, a morte, nada é para nós, porque quando existimos, a morte não está presente, e quando a morte está presente, não existimos. Deste modo, ela nada é nem para os vivos nem para os mortos, porque os primeiros não a têm e os últimos já não existem.” E o outro é de Lucrécio, o filósofo romano do século I a. C., expresso no poema De Rerum Natura (“Da Natureza das Coisas”, nome do blogue que mantenho há anos): “Vê, olhando para trás, como nada significou para nós toda a porção de eternidade que se passou antes do nascer. Eis o espelho que a Natureza nos apresenta do tempo futuro, do que virá depois da nossa morte. Surge nisto algum horror, alguma tristeza? Não é tudo muito mais seguro do que o sono?” (há uma edição recente: Relógio d’Água, 2015, que Galvão não usa).Não sendo tratada no livro, vale a pena referir a relação profunda que há entre o sexo e a morte. Jacques Ruffié aborda-a no seu livro O Sexo e a Morte (D. Quixote, 1987): “O sexo e a morte são dois tributos que pagamos ao progresso evolutivo. São dois fenómenos complementares, mas surpreendentemente contrastados. O primeiro ocorre na alegria, no prazer, e na esperança; o segundo no sofrimento, no horror e no vazio”. E, noutro lado, “A morte é um fenómeno biologicamente necessário, sem o qual a sexualidade estaria sem objetivo”. (…)

Carlos Fiolhais

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Fiolhais

José Mariano Gago | Carlos Fiolhais

José Mariano Gago faria 72 anos neste sábado, 16 de Maio, o Dia Internacional da Luz por determinação da UNESCO. Vi-o pela última vez em 19 de Janeiro de 2015, em Paris, na sede da UNESCO, na cerimónia inaugural das celebrações de 2015 – Ano Internacional da Luz. Eu estava lá, como Comissário Nacional para o Ano da Luz, nomeado pela Ciência Viva, acompanhado pelo Pedro Pombo, da Universidade de Aveiro, um grande entusiasta dos lasers, Deve ter sido a última cerimónia pública.do José Mariano. Eu e o Pedro falámos com ele em conversa amena. No fim do painel sobre cooperação internacional em que participou comentámos as declarações da ministra da Ciência da África do Sul, sua parceira, sobre ciência e cooperação, a quem ele deu inteira razão: África precisava de mais ciência e de mais cooperação científica. O mundo todo precisava e África, que a Europa não tratou bem, precisava ainda mais.

Ele já estava doente, mas nós não sabíamos. Nada me fez prever que nunca mais o voltaria a ver. Faleceu daí a três meses, a 17 de Abril de 2015. Lembro-me bem pois a notícia me chegou quando estava a começar uma sessão sobre História da Ciência em Portugal no El Corte Inglês em Lisboa. A comoção foi geral. No livro que a Sociedade Portuguesa de Física publicou no final de 2015 (“Histórias da Física em Portugal no século XX”) deixei um depoimento curto mas sentido. Se Mariano Gago, a história da ciência entre nós teria sido diferente.

Gago tem uma curiosíssima ligação ao laser: o seu dia de aniversário, 16 de Maio, é precisamente o mesmo que o aniversário do primeiro laser visível (a data do Dia Internacional da Luz foi escolhido por essa razão). A 16 de Maio de 1960, quando Theodor Maiman acendeu o primeiro laser de rubi em Malibu, Califórnia, o José Mariano apagava doze velas do seu bolo de aniversário. Morreu inesperada e precocemente: como seria bom celebrar com ele, no Dia Internacional da Luz, os seus 72 anos.

Entre os prémios que mais gostei de receber foi o Prémio José Mariano Gago, da Sociedade Portuguesa de Autores, que partilhei com o José Eduardo Franco. Mariano Gago é para nós uma luz na demanda de um mundo com mais e melhor ciência, com mais e melhor cultura científica. Neste Dia da Luz, de Mariano Gago e dos cientistas portugueses, em tempos escuros que temos de iluminar, saibamos seguir o seu tão claro exemplo.

Carlos Fiolhais

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Quatro Cantos do Mundo – Lançamento

QC_eventoQuatro Cantos do Mundo é uma viagem ao planeta Terra, ao seu lado mais profundo, desconhecido e misterioso. Um devaneio literário como lhe chama a autora, uma viagem por locais físicos, percorridos pelo olhar irrequieto da nossa imaginação. Recantos apenas acessíveis a um devir poético. São quatro contos entregues a um narrador que nos chega do infinito universo, ele próprio viajante das estrelas e que nos fala a partir do ponto de vista das crianças ou dos jovens. Só a curiosidade de um coração puro vence o medo do desconhecido e só uma mente livre do peso do bem e do mal consegue escutar a voz pela qual a natureza nos fala. Então, todas as viagens se tornam possíveis.

Este livro vai ser apresentado por CARLOS FIOLHAIS, físico, professor universitário, divulgador da ciência e ensaísta português. É um dos cientistas e divulgadores de ciência portugueses mais conhecidos em Portugal e no mundo.

Leituras por ANDRÉ GAGO.

Que ninguém falte! Leia a recensão no Acrítico – leituras dispersas.

Bosão de Higgs | Carlos Fiolhais

Quais são as partículas elementares da matéria? O que é um bosão? Porque é o de Higgs foi batizado como “partícula de Deus”? Estas são algumas das perguntas a que o físico Carlos Fiolhais responde, a propósito do bosão de Higgs.

António Piedade (AP) – Quais são hoje as partículas elementares da matéria, 100 anos depois do modelo de Rutherford para um átomo, com protões e neutrões num núcleo orbitado por eletrões?

Carlos Fiolhais (CF) – As partículas elementares de matéria são os quarks (que formam os protões e neutrões do núcleo atómico), os eletrões e os neutrinos.

AP – Então o que são bosões?

CF – Bosões são as partículas de campo ou de energia, que asseguram as forças ou interações. As partículas elementares de matéria (quarks, electrões e neutrinos) são, por seu lado, fermiões. Podemos dizer que os fermiões se relacionam graças à troca de bosões: como dois cães que se mantêm unidos porque vão trocando um osso.

De outra forma, bosões são partículas que podem ocupar o mesmo estado de energia, ao contrário dos fermiões, que não podem.

O nome homenageia Bose, um físico indiano que escreveu a Einstein e que Einstein apoiou.

Simulação da colisão entre dois protões na CMS no CERN

Um condensado de bosões é um aglomerado de bosões no mesmo estado. Não há condensados de fermiões, a não ser que estes se associem para formar bosões (é o que acontece, por exemplo, com os eletrões na supercondutividade).

AP – E o que é o bosão de Higgs?

CF – Uma partícula de campo ou de energia, que contrasta com uma partícula de matéria. Foi proposta nos anos 60 por Higgs e outros como unidade (grão ou /quantum) de um campo, o campo de Higgs, necessário para dar massa às partículas de matéria.

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http://www.sulinformacao.pt/2012/07/carlos-fiolhais-explica-o-que-e-o-bosao-de-higgs/