Uma obra com sabor de conversa descontraída | de Edmar Monteiro Filho | por Adelto Gonçalves

                                                                               I
                O conto é um autêntico paradigma da “arte do implícito”, como preconizava o saudoso professor Massaud Moisés (1928-2018) em suas memoráveis aulas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), pois, como observa também em A criação literária. Prosa II (São Paulo, Editora Cultrix, 2005, p. 33), isto pressupõe que o “eu” do narrador esteja presente, ainda quando a narrativa está situada na terceira pessoa. Afinal, como ensinava o mestre, “o implícito consiste na recusa do realismo fotográfico, em favor de notações sutis em que a superfície das coisas, das palavras e dos acontecimentos, é a dimensão visível de uma esfera íntima, inacessível ao olhar e ao registro positivo”.
            Este introito vem a propósito do conto que abre o livro O acorde insensível de Deus (São Paulo, Editora Laranja Original, 2022), de Edmar Monteiro Filho, e dá título à obra. Trata-se de um texto extenso, de 60 páginas, que poderia ser definido também como uma novela, mas que, acima de tudo, serve para mostrar a maturidade literária a que o seu autor chegou, depois de publicar vários livros de contos e um romance, além de ganhar vários prêmios literários e alcançar o doutoramento em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2018.

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