GILLES DELEUZE, O ÚLTIMO GRANDE SPINOZISTA | por Marcos Bazmandegan

Deleuze foi um filósofo original. A sua obra foi uma das mais importantes do século XX, não só porque reavivou o debate metafísico com a questão da Diferença e Repetição, como trouxe novos insights à Ontologia e à Ética. Acima de tudo, foi um grande spinozista. Considerou e apelidou Spinoza de “O Príncipe dos Filósofos”, título roubado a Aristóteles. No seu entusiasmo pelo pensamento de Spinoza, soube ser original, desenvolvendo questões que Spinoza apontou, trazendo-as para o centro da lide filosófica e existencial do terrível e difícil século XX.

O melhor comentário a um original é a produção de outro original, e por isso Deleuze repetiu Spinoza recriando-o, inovando-o, no mesmo espírito.

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Desvalorização de todas as paixões tristes Claudio de Souza Rocha

A última das teses práticas de Spinoza, aqui apresentada pelo viés da
compreensão de Deleuze, é a da desvalorização de todas as paixões tristes em proveito da
alegria.

Aqui a denúncia de Spinoza é, segundo Deleuze, a três espécies de personagens,
a saber; o homem das paixões tristes; o homem que explora essas paixões tristes, que
precisa delas para estabelecer o seu poder e o homem que se entristece com a condição
humana.

Ou seja, a trindade moralista, o escravo, o tirano e o padre.

São os envergonhados da vida, homens da autodestruição, do culto à morte. O que os une é o
ódio à vida, o ressentimento contra a vida.

Nas palavras de Spinoza, “o ódio e o remorso, eis os dois inimigos fundadores do gênero humano”.

Ou seja, todas as maneiras de humilhar a vida, tem suas origens no ressentimento e na má consciência, no
ódio e na culpabilidade.

Portanto, antes mesmo de Nietzsche, Spinoza denuncia todas as
falsificações da vida, todos os valores em nome dos quais depreciamos a vida. Tanto na
maneira de viver como na de pensar, o que Spinoza oferece é uma filosofia afirmativa.
Para ele a vida não é uma ideia ou “uma questão de teoria”, mas uma maneira de ser.
Mesmo em um mundo em que o culto à morte predomina, ele tem bastante confiança na
potência de vida. Sua “filosofia da vida” consiste em denunciar tudo o que nos separa da
vida, ou seja, todos os valores transcendentes, que vinculados às ilusões da consciência,
se orientam contra a vida.

Para Deleuze, A Ética de Spinoza traça o retrato do homem do ressentimento, para quem
qualquer tipo de felicidade é uma ofensa, e faz da miséria ou da impotência sua única
paixão.

Artigo_As teses praticas.pdf (revistalampejo.org)