O Fim da Civilização | Gustave Flaubert, in ‘Memória de um Louco’

Quando se extinguirá esta sociedade corrompida por todas as devassidões, devassidões de espírito, de corpo e de alma? Quando morrer esse vampiro mentiroso e hipócrita a que se chama civilização, haverá sem dúvida alegria sobre a terra; abandonar-se-á o manto real, o ceptro, os diamantes, o palácio em ruínas, a cidade a desmoronar-se, para se ir ao encontro da égua e da loba.

Depois de ter passado a vida nos palácios e gasto os pés nas lajes das grandes cidades, o homem irá morrer nos bosques. A terra estará ressequida pelos incêncios que a devastaram e coberta pela poeira dos combates; o sopro da desolação que passou sobre os homens terá passado sobre ela e só dará frutos amargos e rosas com espinhos, e as raças extinguir-se-ão no berço, como as plantas fustigadas pelos ventos, que morrem antes de ter florido.

Porque tudo tem de acabar e a terra, de tanto ser pisada, tem de gastar-se; porque a imensidão deve acabar por cansar-se desse grão de poeira que faz tanto alarido e perturba a majestade do nada. De tanto passar de mãos e de corromper, o outro esgotar-se-á; este vapor de sangue abrandará, o palácio desmoronar-se-á sob o peso das riquezas que oculta, a orgia cessará e nós despertaremos.

Continuar a ler

La lettre de rupture la plus expéditive de l’histoire | Lettre de Gustave Flaubert à Louise Colet

Madame,                                                                                                                                                     6 mars 1855

J’ai appris que vous vous étiez donné la peine de venir, hier, dans la soirée, trois fois, chez moi.

Je n’y étais pas. Et dans la crainte des avanies qu’une telle persistance de votre part pourrait vous attirer de la mienne, le savoir-vivre m’engage à vous prévenir : que je n’y serai jamais.

J’ai l’honneur de vous saluer.


Gustave Flaubert (12 décembre 1821 – 8 mai 1880), maître du style, connu pour ne produire des phrases qu’au prix de longs efforts et d’un immense travail (« Une bonne phrase de prose doit être comme un bon vers, inchangeable, aussi rythmée, aussi sonore » écrit-il), savait aussi être expéditif. Sentant son amour pour la belle poétesse Louise Colet s’épuiser, alors qu’elle abandonne Paris pour lui rendre visite dans son Croisset natal et qu’elle supplie le maître des lieux de la recevoir, il lui envoie un dernier billet d’une concision lapidaire et diablement efficace. Un Flaubert méconnu !