Pedro Nuno Santos no Comício em Aveiro | Legislativas 2022 | Discurso escrito + Discurso em vídeo

Deixo-vos o meu discurso ontem em Aveiro:

Caros camaradas e amigos,

No próximo domingo, o país vai ter de fazer uma escolha. Uma escolha entre um governo do Partido Socialista e um governo de direita. Os portugueses precisam, por isso, de conhecer os valores em que acreditam os partidos e as políticas que defendem para responder aos problemas do país. Vejamos algumas propostas emblemáticas que a direita apresenta aos portugueses.

– O líder do PSD defendeu num debate televisivo o regime misto de Segurança Social. Isto é, as pensões teriam uma parte financiada pelo sistema público e outra por um sistema de capitalização individual. Este sistema criaria dois problemas graves: primeiro, colocaria parte das pensões dos reformados na bolsa, correndo-se o risco de perder tudo como aconteceu com milhares de reformados americanos a seguir à grande crise financeira; segundo, provocaria um rombo nas contas públicas porque durante algumas décadas o Orçamento do Estado teria de financiar a parte das pensões, dos reformados atuais, que deixaria de ser financiada pelos descontos dos que hoje estão a trabalhar e a descontar. Esta proposta traduz uma determinada visão de sociedade.

– O CDS defende o cheque-ensino. Dizem-nos que isso daria a possibilidade às famílias da classe média de estudarem nos colégios dos ricos. Só não foi capaz de explicar que o que aconteceria era que os preços dos colégios mais caros subiriam na proporção do cheque-ensino e que assim continuariam reservados aos mais ricos. Teríamos colégios privados assim-assim para a classe média e continuaríamos a ter os melhores colégios só para os mais ricos. A única coisa que aconteceria era que o Estado passaria a ter menos dinheiro para melhorar a escola pública e pagar mais aos professores e passaria a financiar o negócio privado de educação. Mas esta proposta traduz uma determinada visão da sociedade.

– Já a Iniciativa Liberal quer convencer alguns jovens qualificados a defenderem o desmantelamento do Estado que lhes permitiu qualificarem-se e, enfim, defende uma taxa única de IRS. Isto é, defende uma reforma fiscal que devolveria mais dinheiro aos mais ricos e menos, ou nenhum, aos que ganham menos. Uma reforma fiscal que em vez de diminuir a desigualdade a aumentaria de forma grave. A redução do IRS para os mais ricos obrigaria a reduzir a oferta de serviços públicos de que beneficiam todos os portugueses – que, depois, teriam que ainda gastar dinheiro a comprar esses serviços no privado, sujeitando-se a todas as arbitrariedades. Também aqui o maior problema é que esta proposta traduz uma determinada visão da sociedade.

  • Camaradas e amigos, o que atravessa todas estas propostas da direita portuguesa é uma visão profundamente individualista da sociedade. É a ideia que as pessoas se interessam, aliás, se devem apenas interessar com as suas vidas; a ideia de sociedade de cada um por si, sem querer saber o que acontece aos outros. É por isso que dá tanta centralidade ao mercado; e é por isso que nunca fala de desigualdades. Acredita numa sociedade de vencedores e vencidos, em que o sucesso de alguns é o insucesso de muitos.
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