Crimes sexuais na Igreja Católica, uma tragédia anunciada e consolidada há séculos | por Paulo Mendes Pinto | in Público/Opinião

Paulo Mendes Pinto é o Coordenador da área de Ciência das Religiões na Un. Lusófona, onde é o responsável pelo projecto REC-XXI – Religiões, Educação e Cidadania (desde 2018), onde dirigiu o Mestrado (2007-2011) e a Licenciatura em Ciência das Religiões (2007-2017). É assessor da administração da Un. Lusófona e Director-Geral do Conselho Superior Académico do Grupo Lusófona.

Foi Embaixador do Parlamento Mundial das Religiões (2015-18) e fundador da European Academy for Religions (2017). Ver restante biografia aqui: https://cienciadasreligioes.ulusofona.pt/investigadores/paulo-mendes-pinto/


O nosso olhar tende sempre a focar-se no momento presente. É nele que temos as nossas mais diretas e imediatas questões. Contudo, quase tudo o que fazemos se relaciona com o passado, com as tradições, as heranças, a cultura. Não é que devamos relativizar, no sentido de desvalorizar, os atos com base nas justificações do passado, mas devemos tentar compreender como, por vezes, os atos do presente são legitimados e tornados, dentro das instituições, normais através de atitudes que se arrastam ao longo de séculos.

O espanto que hoje vemos nas palavras de muitos políticos e clérigos é apenas o resultado, ou de uma franca e clara ignorância, ou a máscara que importa colocar para não ver recair sobre si o mau olhar da opinião pública. Ainda ecoam na nossa memória as declarações de desvalorização de Manuel Linda, por exemplo, em 2019 (declarações à TSF a 20 de abril).

Contrariamente à postura de negação em que a Igreja Católica Portuguesa esteve, como se em Portugal nada se tivesse passado, ao contrário do que sucedera em tantos outros países, o quadro é verdadeiramente endémico e vem de uma normalidade comportamental cimentada ao longo de séculos.

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