Um Rapaz a Arder – Casa da Cultura de Setúbal

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Está um rapaz a arder
em cima de um muro,
as mãos apaziguadas.
Arde indiferente à neve que o encharca.

Outros foram capazes
de lhe sabotar o corpo,
archote glaciar.
Nunca ninguém lhe apagou esse lume.

(Archote Glaciar, EP 1998)

Ontem, na Casa de Cultura de Setúbal, as conversas muito cá de casa, receberam Eduardo Pitta e o seu livro mais recente Um Rapaz a Arder. O ator José Nobre interpretou poemas do autor com tal força que se convenceu, a dada altura, ter repetido dois versos. Atentos, a sala e o autor, tranquilizaram-no. Não, estava perfeito.

Eduardo Pitta falou-nos de Moçambique e das razões da sua saída, do seu livro, da sua poesia, dos escritores que foi conhecendo, de alguns livros que vieram a propósito, do Meio, do nosso retrocesso social. Sempre com uma impecável elegância, sem saudosismos serôdios e com um saudável sentido de humor. Não se furtou às questões identitárias que abordou com a naturalidade de quem fala de si e das memórias de um percurso de vida.

Da audiência vieram perguntas, que o Cidade Proibida se encontra esgotado – o único romance do autor, escrito numa linguagem desabrida e crua. Fátima Medeiros da livraria Culsete quis saber da escrita do “eu” e das suas concessões à ficção. Abordou ainda a clareza da obra ensaísta do autor.

Não houve fogo, mas ninguém apagou este rapaz a arder.

O Muito cá de Casa é uma iniciativa da DDLX e da Câmara Municipal de Setúbal – Divisão de Cultura, e conta com a colaboração de PNet Literatura, livraria Culsete e BlogOperatório.