Carta ao Ministro das Finanças | Joaquim António Ramos

quitoExmo Senhor Ministro das Finanças
Excelência:
Depois de ter percorrido várias Repartições de Finanças, de ter perdido grande parte dos meus ultimos dias em filas com senhas das mais diversas cores, sem conseguir resposta às minhas angústias fiscais,atrevo-me a vir junto de V. Excia para ser esclarecido sobre as novas regras que se anunciam para o IMI. Toda a gente diz que as vistas e a exposição solar vão agravar o IMI, mas ninguém sabe em que medida ou como minimizar o impacto. Por isso recorro a V. Excia. Passo a expôr:
1. Eu vivo numa casa que só tem vistas para um lado, e a paisagem que tenho à frente é o portal da igreja – bem bonito, por sinal…Se me pendurar na janela ainda consigo vislumbrar o pelourinho e a Câmara Municipal. Isto tudo virado a Nascente, logo com alguma exposição solar. De resto, a Sul dou logo de trombas com o muro do Padre, a Norte com uma casa que ardeu e a Poente com o muro dos Barretos, donde só saem pulgas, osgas e ratos, porque a casa está abandonada há uma porrada de anos. Consequentemente, em termos de vistas, dos quatro pontos cardeais, só o Oriente Próximo me aterroriza. Estou assim mais ou menos como a Europa.
2. Falando de vistas, pelo exposto em 1, e como a Igreja está isenta de IMI, pensei que esta isenção poderia alargar-se à minha fachada Nascente. Caso não seja este o entendimento do Fisco, posso fazer uma declaração com assinatura reconhecida e tudo, a jurar que fecho os olhos de cada vez que assomo a uma janela da fachada Nascente – arejo os quartos às apalpadelas – ou mesmo a trancar as janelas com protecções de madeira inamovíveis e a mandar demolir a varanda donde expio procissões e casamentos. Os senhores das Finanças poderão ir lá verificar. E de vistas estamos falados, pois não acredito que o muro do Senhor Prior, mais o dos Barretos e a casa ardida tenham atributos paisagísticos suficientes para me agravar o IMI.


3. O diabo é a exposição solar. Bem, a Nascente fica resolvido com as portadas de madeira. O que impedir o olhar de sair impede também o sol de entrar. Mas a Poente e a Sul, Excelência, como é que eu me posso livrar da malfadada exposição solar, evitar que os raios do sol me invadam sala e cozinha? Pergunto a V. Excia, depois de muito matutar : se eu espetar quatro estacas, uma em cada um dos cantos da casa, e cobrir tudo com aquela rede de plástico verde com que se tapam as obras e ficar num lusco-fusco permanente, safo-me da talega no IMI? Ou tem que ser mesmo com aquele plástico preto que nem uma brechazinha de luz deixa passar para ter direito ao IMI zero?
4. Solicito a V. Excia esclarecimento urgente a estas questões, para eu começar as obras mal Agosto acabe – agora não se arranja nem um pedreiro ou carpinteiro- e as termine antes da entrada em vigor da nova legislação do IMI.
PS ( Post- Scriptum…): Reparo agora que só pensei numa das casas. Não me lembrei da casa da praia. Mas nesta não há nada a fazer, em termos de vista ou exposição solar, nem que a cubra com uma tenda de circo. Por isso estou a pensar seriamente em vendê-la – rápido, antes que saia a lei -, compro no Aki um piscininha redonda de plástico que caiba ao canto da cozinha, e vou passar as férias numa cave na Buraca. A cave não há-de ter vistas e a Buraca deve ser muito pouco exposta ao sol!

Retirado do Facebook | Mural de Joaquim António Ramos

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