Santana Lopes e suicídio das velhas baratas | Carlos Matos Gomes

Santana Lopes e suicídio das velhas baratas.

O Partido Santana Lopes, os reis que vão nus. Desde logo: o rei que vai nu não é o Pedro Santana Lopes. Os reis que vão nus são o BE, que não é radical nem revolucionário, é o PC, que não é comunista, é o PSD, que não é social democrata, é o CDS que não é democrata cristão. Resta o PS, que se assumiu desde o comício da Fonte Luminosa, em 1975 como o “rassemblement” de sociais democratas e democratas sociais, no sentido que a social democracia e a encíclica Rerum Novarum de Leão XIII tomaram no pós-guerra e na guerra fria.

Esses é que vão nus: não têm roupagem ideológica que lhes cubra o corpinho. Nem o BE nem o PC podem (nem querem, nem existem as tais condições objectivas) fazer qualquer mudança estrutural do regime demo capitalista, nem o PSD e o CDS podem fazer mais do que fazem: alterações pontuais na distribuição da riqueza entre assalariados e gestores, com o grosso a ser acumulado pelo sistema financeiro.

De Pedro Santana Lopes se poderá dizer o mesmo que o Santo Agostinho dizia pragmaticamente do Diabo: O Diabo não é diabo por ser mau, mas porque é velho. Pedro Santana Lopes não é mau por ser liberal, não é político por querer o bem do povo, mas porque anda cá há tempo suficiente para perceber o que está a dar para o povo comprar. Ele está no mercado da política há muito tempo. O liberalismo de face descoberta está em alta. Vende. E com as ajudas certas da concorrência ainda vende melhor. Não existe melhor promotor do liberalismo que maus serviços públicos. Que um Estado que não proporciona serviços básicos de qualidade.

Pedro Santana Lopes percebeu – não é difícil – que o mercado político em Portugal está polarizado num Partido Socialista que tem, tant bien que mal, uma identidade ideológica, e que o resto são produtos contrafeitos, que, por isso não ganham eleições e não dão acesso ao poder.

O PC e o BE são hoje porta-vozes dos sindicatos da função pública. E os grandes sindicatos da função pública, aqueles que asseguram os serviços que dão alguma “alma” ao estado social, sindicatos da saúde, do ensino e dos transportes, são, com as suas ditas (e sempre justas) lutas – em que se alegram e celebram como vitórias terem deixado 2000 doentes sem cirurgias, ou 90% de uma população sem transporte, ou os alunos sem aulas nem exames – aliados de beijo na boca de um partido liberal, que defenda a liberalização dos serviços essenciais.
É que não há greves nos hospitais e clinicas privadas, nem nos colégios privados, nem lutas por descongelamentos de carreiras, nem cirurgias adiadas! Dirá Santana Lopes, dizem os liberais!
É demagogia? É. Mas é isto que um partido liberal vai vender e não há como contestar – para mais com a ajuda da comunicação social engajada. O partido de Santana Lopes vai vender seguros de saúde, vai vender planos de reforma. Vai fazer na saúde e na educação o que está a ser feito – sem um ai dos sindicatos, se bem repararam, sem uma excitação nem de Jerónimo nem de Arménio, nem da Catarina – o que os bancos estão a fazer: despedir, fechar, cobrar todos os serviços.

Pedro Santana Lopes sabe tudo isto. Vão chamar-lhe demagogo. E ele vai agradecer a demagogia do Mário Nogueira e da FENPROF, a demagogia do médico, ou enfermeiro que se ufanou de ter anulado 2 mil cirurgias nos hospitais públicos.
O Partido Santana Lopes vai meter o dedo na virilha dos partidos da demagogia, sim, os do sistema, vai meter o dedo na virilha dos sindicatos do funcionalismo. Mais interessante, vai utilizá-los para a sua promoção:
Quando, para os maiores partidos do sistema, os principais problemas são o descongelamento das carreiras dos professores do secundário (o tal 432 do desmiolado Nogueira), ou das horas extraordinárias de médicos e enfermeiros, que se batem pela diminuição da carga horária no SNS para irem arredondar o salário no privado, quando o PSD de Rio não sabe se o problema é do défice ou da dívida e o CDS da Cristas diz o que os ventos do dia e os incêndios ditam, entre o eucalipto e a velocidade dos tuk tuk, é óbvio que apresentar uma alternativa liberal – de privatização dos serviços essenciais – faz sentido: cheque saúde, cheque educação, cheque dentista, planos de reforma, parcerias público-privadas – o programa é conhecido e PSL não necessita de think tanks da Católica ou do Observador para o escrevinhar.

Pedro Santana Lopes tem bons aliados nos reis nus, que vão de Jerónimo de Sousa a Cristas, de Rio a Arménio, de Nogueira a Catarina, à Ana Avoila.
Os ventos sopram-lhe de feição. Há dois projectos de sociedade em Portugal: o da social democracia de baixa intensidade de Costa e o liberalismo 5 estrelas de PSL. Os projectos do Observador, a venda de 2/3 da Impresa (Balsemão) ao Delgado amigo de Santana, a incorporação da SIC e da TVI numa fanfarra liberal não foram, nem são por acaso. O partido de Santana não surge de uma birra de menino guerreiro. É um ato para ser levado a sério.
Gosto desta dicotomia? Não.

Mas presumo que a festa do Avante, o comício do Pontal, as peixeiradas da Cristas, os acampamentos multicolores do BE, típicos da rentrée me confirmarão a seca de ideias e a cegueira de horizontes. Que as orquestras continuarão a tocar no Titanic que foi o sistema partidário português até agora e que os seus reisinhos nus se suicidam alegremente como as baratas da foto – mas em luta pelos seus direitos – como dizem.

Carlos Matos Gomes

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes

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