Poema | Licínia Quitério

Há homens que atravessam a rua
sem olhar
Levam nos ombros pedaços da noite
e não há cor que os vista
São homens cinzentos 
indiferentes ao sol ou à borrasca
Quem os vê diz
ali vão os homens tristes
mas nem eles sabem o tamanho
da tristeza ou da improvável alegria
O chão da rua conhece
a cadência incerta
a leveza ausente
dos passos destes homens
Há quem lhes chame homens de bruma
porque vagos são
os seus contornos
Virá uma manhã sem homens tristes
Ninguém perguntará
para onde foram
Alguém escreverá a sua história
no livro branco
do esquecimento
A rua permanece

Licínia Quitério

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