CINTIA MARTINS | RACISMO | DESPORTO | EDUCAÇÃO | POLÍTICA | António Carlos Cortez

CINTIA MARTINS é atleta do Sporting. Joga futebol, é talentosa e respeitada no clube por colegas, treinadores e dirigentes. Num jogo com a FUNDAÇÃO SALESIANOS, alguém a ofendeu, gritando “Macaca vai para a tua terra”.

Soube desta tristíssima notícia através dum post de Luís Osório. Junto-me à sua indignação e acrescento alguns dados e ideias.

Não só o CHEGA é um partido que tem alimentado o discurso racista em Portugal, como, provincianamente, procura normalizar-se a sua presença na nossa democracia. Um dos problemas que urgentemente o PS, o PSD e o PCP e o CDS – partidos que fizeram o regime democrático, fundando-o com Soares, Cunhal, Sá-Carneiro e Freitas do Amaral, – têm de resolver é este:

– não pactuar de forma alguma com o CHEGA. Há um princípio bíblico de que se deveriam lembrar: não se fazem festas a cobras. É responsabilidade de Costa e Rui Rio, de Chico e de Jerónimo de Sousa denunciar André ventura e condenar veementemente os comportamentos racistas, sexistas, xenófobos e machistas que vão fracturando a sociedade portuguesa.

Cíntia tem ascendência africana. Eu jogo futebol com amigos meus, africanos, adoro-os, porque me tornam melhor jogador, são rápidos, ensinam-me a ser rápido. São possantes, ensinam-me a ser possante. Driblam e eu driblo e gozo o desporto com eles, meus amigos Inelisio, Edu, Eugénio, porque trazem toda a alegria ao jogo. Riem, desfrutam, são generosos.

Cabe à educação formar consciências, consciencialização precisamente e também os pais quanto a um facto simples e que Luther king e John Kennedy lembraram nos anos 60: somos todos mortais e habitamos o mesmo planeta. Somos todos humanos e a única diferença reside no fosso entre ricos e pobres: os brancos que exploraram durante séculos os povos africanos e outros, incluindo ciganos, asiáticos, ameríndios; a Europa e a América das guerras, das mundiais ao Vietname, da odiosa guerra colonial à invasão da Etiópia.

– A Europa é a América que corrompe as classes dirigentes de África e Ásia e Américas. A Europa e a América dos campos de concentração, da guerra dos boers a Auschwitz e Dachau. Portugal entra neste compêndio.

– Mas hoje, em 2022, temos de apelar a todas as nossas forças, a toda a nossa coragem para, com a Cíntia e tantos outros, dizermos não à barbárie. Hitler moveu-se no parlamento alemão para, com a conivência de Von Pappen, ascender a chanceler. É essa conivência, é essa falta de coragem que é, no limite, cumplicidade para com adeptos da morte e do terror, que enfraquece e mata as democracias.

Estou com Cíntia Martins porque identifico os adeptos de Salazar e de outros tiranos. Curiosamente, muitos desses seguidores do mal são da minha geração, ou mais novos.

Odeiam a cultura, as artes, cultivam a boçalidade, a intriga, a inveja. São tecnocratas, paladinos duma sociedade fria, meramente centrada no lucro, construída com base numa mentalidade gestora, computacional, neo-positivista e que tudo reduz ao mínimo de humanidade em nome da eficácia. É o neo-darwinismo no seu esplendor …

– Cíntia representa a liberdade, a alegria de viver. Por isso quero alertar-vos para o nó górdio que teremos de desatar: a mentalidade racista é indissociável da mentalidade burocrata, tecnocrata. A tecnocracia, a burocracia cerceia as liberdades, fortalece o espírito corruptor dos seguidores dos chefes totalitários.

Albert Camus diz-nos, no ensaio “A crise do Homem moderno” (1946) quais são os 5 factos que explicam o mal do mundo:

1. A substituição do homem humano pelo homem político;

2. ascensão da burocracia como forma existencial;

3. O ódio a tudo quanto seja diferença que se traduz na vontade de poder;

4. A obsessão pela eficácia visando o lucro;

5. O desprezo pelas artes e pelo pensamento.

Camus lembra uma frase de Goebbels:

“Eu por mim, quando falam de pensamento, puxo logo do gatilho.”

Cíntia foi vítima do racismo dum ser-humano com quem nenhum argumento funciona.

Todavia, são os líderes dos nossos partidos que devem fazer pedagogia, condenar os sinais óbvios de degradação da nossa democracia. Com eles é talvez possível argumentar. Cintia não quer que lhe falem do Zé Albino, nem quer ver palhaçadas. Ela e eu queremos políticos que sejam e estejam contra a política como divertimento, show off, propaganda.

Robert Kennedy considerava essencial isto: ser-se político hoje é negar na política toda a forma de desumanização.

Cíntia Martins deve ser ouvida. Deveria ser ouvida pelo PR, pelos líderes dos partidos. Deveria perguntar só isto a André Ventura:

QUAL A DIFERENÇA ENTRE MIM E TI? QUAL A DIFERENÇA?

26-01-2022

Retirado do Facebook | Mural de Antonio Carlos Cortez Letras

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