Faltam 2 dias para o mais belo de todos os dias | Carlos Esperança

Faltam 2 dias para o mais belo de todos os dias (texto reeditado)

Há quem, antes, não tivesse precisado de partido, quem não sentisse a falta da liberdade, quem se desse bem a viver de joelhos e a andar de rastos.

Houve cúmplices da ditadura, bufos e torturadores, quem sentisse medo, quem estivesse desesperado, quem visse morrer na guerra os filhos e nas prisões os irmãos, e se calasse. Houve quem resistisse e gritasse. E quem foi calado a tiro ou nas prisões.

Uns pagaram com a liberdade e a vida a revolta que sentiram, outros governaram a vida com a vergonha que calaram.

Houve quem visse apodrecer o regime e quisesse a glória de exibir o cadáver e a glória da libertação. Viram-se frustrados por um punhado de capitães sem medo, por uma plêiade de heróis que arriscaram tudo para que todos pudéssemos agarrar o futuro.

Passada a euforia da vitória, ninguém lhes perdoou. Os heróis da mais bela revolução da História e agentes da maior transformação que Portugal viveu são hoje proscritos e humilhados por quem lhes deve o poder.

Uns esqueceram os cravos que lhes abriram a gamela onde refocilam, outros reabilitam os crápulas que nos oprimiram, outros, ainda, sem memória nem dignidade, afrontam o dia 25 de Abril com afloramentos fascistas e lúgubres evocações do tirano deposto.

Perante os ingratos e medíocres deixo aqui a TODOS os capitães de Abril o meu eterno obrigado.

Não quero saber o que fizeram depois, basta-me o que nesse dia fizeram.

Obrigado a todos. Aos que partiram e aos que estão vivos. Por cada ofensa que vos fazem é mais um pedaço de náusea que provocam.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Esperança

RECORDANDO UM DOCUMENTO HISTÓRICO | AMÂNDIO MEIRA | Na foto Luís Atayde Banazol

No mês dos CRAVOS e quase prestes a chegar ao 44º Aniversário da data libertadora do 25 de ABRIL de 1974, não podia deixar de cá vir recordar – através de um “Documento Histórico” de 24 de Novembro de 1973 – um grande HOMEM, um grande PORTUGUÊS e um bravo e corajoso MILITAR (com quem tive o prazer de privar, nomeadamente quando me deslocava à sede do meu Batalhão em MACALOGE – Niassa Ocidental – norte de MOÇAMBIQUE) que muito me marcou para toda a vida, nomeadamente durante a minha permanência naquelas enigmáticas e misteriosas terras africanas!…
Curvando-me respeitosamente perante a sua memória,

AMÂNDIO MEIRA
(ex-Alferes Miliciano de Infantaria da C. CAÇ. 2669 – B. CAÇ. 2908)
ANTAS, 18/04/2018

RECORDANDO UM DOCUMENTO HISTÓRICO 
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[Ao “postar” aqui este DOCUMENTO, é mister que faça a minha “declaração de interesses”: Este senhor Ten.Coronel LUÍS ATAYDE BANAZOL – (PAI), foi “meu” 2º Comandante de Batalhão (B. CAÇ.2908) na Guerra Colonial em MOÇAMBIQUE, logo no início dos anos setenta. Era um bravo, decidido, corajoso, justo, responsável e destemido MILITAR, de fino trato, sempre afável e extremamente humano com os “seus homens” que, graças a todas estas suas inegáveis qualidades, tinham por ele a maior consideração, admiração e estima.]
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INTERVENÇÃO do Ten.Coronel Luís Atayde Banazol na reunião de S. Pedro de Estoril em 24/11/1973:

[Refira-se que esta firme, desembaraçada, decidida, corajosa e influente intervenção perante umas largas dezenas de camaradas seus, foi determinante para o despoletar do 25 de Abril de 1974.]
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«Meus caros camaradas, eu creio que vocês estão a perder o que têm de bom: energia e tempo, organização e vontade.
Estão a esgotar-se com um assunto que não vale a pena. Decididamente, não vale a pena.
O problema que vocês julgam que está no âmago disto tudo não vale um pataco e vai contra os nossos camaradas milicianos.
Eles também têm as suas razões, e não será pelo facto de vocês conseguirem levar a melhor, que tudo ficará resolvido. Pelo contrário, cada dia que passa, tudo se agrava.
E isso não é por uma questão de galões. O que vocês estão e todos nós, é agonizantes; simplesmente agonizantes.
Estrangulados por um regime que nos conduz directamente para o abismo, para a derrocada, aliás como o têm feito todos os regimes fascistas, nomeadamente os de Hitler e de Mussolini.
Todo o mundo olha para nós, oficiais do quadro permanente, como verdadeiros agentes do nazismo. Agentes das S.S.
E não podemos de forma alguma evitar essa execranda imagem, se não tomarmos a iniciativa de uma reabilitação, uma redenção aos olhos do nosso povo e dos outros povos do mundo, utilizando a nossa força para derrubar o governo.
Tenho ouvido falar, insistentemente, no abalado prestígio dos oficiais. Pois que esperam vocês daqueles, cujos filhos, irmãos, e noivos são enquadrados por nós, para as guerras de África, donde poderão regressar mutilados, loucos ou mortos?
Que crimes estamos todos a cometer em nome da Voz do Dono.
É preciso que acordemos do pesadelo; é preciso acabarmos de vez com a maldita guerra colonial, que nos consome tudo, incluindo a própria dignidade de militares profissionais de uma país civilizado.
Todas as nossas angústias, ansiedades e neuroses, se situam na tragédia para que fomos e estamos a ser lançados, por um tenebroso conluio, que tem a hipocrisia por fachada e o assassínio por norma.
E nós, que representamos a força das armas, por que esperamos?
E nós, que vemos todos os dias esses exemplos de coragem dos moços universitários?
Desarmados, enfrentam a polícia de choque, e não deixam amortecer um só dia a luta pela Liberdade.
E nós, homens de armas?
É uma vergonha. Devemo-nos sentir envergonhados. É bem feito que nos humilhem e nos olhem com rancor. Somos a armadura da bestialidade e o bastião da brutalidade.
Não tenhamos ilusões: o governo só sai a tiro e os únicos capazes de o fazer sair somos nós; mais ninguém.
Se não o fizermos, a História nos julgará, como julgou os abencerragens de Hitler e com inteira razão.
Não devemos consentir que isso aconteça e que os vossos filhos e os meus netos se tenham de envergonhar de nós.
Impõe-se a Revolução Armada desde já, seja qual for o seu preço e as suas consequências.»

Luis Atayde Banazol – Tenente Coronel em 24 Novembro de 1973.

Retirado do Facebook | Mural de Carlos Matos Gomes