A propósito de “A Dobra do Crioulinho”, de Luís Carmelo

DobraEscrevo estas palavras como leitora. Não está aqui em causa a análise literária exaustiva, que deixo para os peritos, mas a simples tradução do impacto que a leitura deste romance me suscitou. As frases iniciais transportam-nos de imediato para uma paisagem em que apetece entrar. E olhar. Pode ler-se, em dado momento: ”A paisagem é a súmula demorada de todos os olhares que até hoje a terão esboçado.”. Entrei, portanto, com a lentidão de quem se quer demorar, com o olhar pronto a desenhá-la ao ritmo do espanto.

Deixei-me conduzir por imagens assombrosas, que foram construindo à minha passagem um mundo novo, que fui desbravando numa permanente descoberta. Entrei numa vila. E era como se já lá tivesse estado, e conhecesse as gentes que a habitavam, tal o realismo do retrato criado. Caminhei no empedrado imaculado, entrei na livraria, passei junto ao café, demorei-me em frente à Igreja de Nossa Senhora dos Ares. Conheci as pessoas que se movem por estas ruas, entrei nas suas casas. Percebi as suas tristezas e os seus sonhos. Despedi-me com a saudade de quem deseja ficar, só mais um pouco. No olhar, a promessa de um regresso. Talvez eu tenha deixado naquela paisagem um pouco de mim. Afinal, os meus olhos também a esboçaram. Penso que, ao ler uma história, o leitor mergulha no mar de sonhos de quem a escreveu. Ao sair, deixa lá os seus próprios sonhos. E aquele mar torna-se, de repente, um oceano.

Obrigada ao autor por me ter permitido a entrada neste pequeno mundo encantado, onde puras delícias espreitam a cada esquina.

Teresa Sande

(Luís Carmelo, A Dobra do Crioulinho, Editora Quidnovi, 2013)

TABULA RASA

220px-John_LockeTabula rasa é uma expressão latina que significa literalmente “tábua raspada”, e tem o sentido de “folha de papel em branco”. A palavra tabula, neste caso, refere-se às tábuas cobertas com fina camada de cera, usadas na antiga Roma, para escrever, fazendo-se incisões sobre a cera com uma espécie de estilete. As incisões podiam ser apagadas, de modo que se pudesse escrever de novo sobre a tabula rasa, isto é, sobre a tábua raspada ou apagada. Como metáfora, o conceito de tabula rasa foi utilizado por Aristóteles (em oposição a Platão) e difundido principalmente por Alexandre de Afrodisias, para indicar uma condição em que a consciência é desprovida de qualquer conhecimento inato – tal como uma folha em branco, a ser preenchida.1

Já na Modernidade, o conceito será aplicado ao intelecto, na tese epistemológica que fundamenta o empirismo – vertente filosófica do século XVII, segundo a qual não existem ideias inatas, sendo que todo conhecimento se baseia em dados da experiência empírica.2

O argumento da tabula rasa foi usado pelo filósofo inglês John Locke (16321704), considerado como o protagonista do empirismo. Locke detalhou a tese da tabula rasa em seu livro, Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690). Para ele, todas as pessoas nascem sem conhecimento algum (i.e. a mente é, inicialmente, como uma “folha em branco”), e todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido através da experiência. A partir do século XVII, o argumento da tabula rasa foi importante não apenas do ponto de vista da filosofia do conhecimento, ao contestar o inatismo deDescartes, mas também do ponto de vista da filosofia política, ao defender que, não havendo ideias inatas, todos os homens nascem iguais. Forneceu assim a base da crítica ao absolutismo e da contestação do poder como um direito divino ou como atributo inato.3

A teoria da tabula rasa também fundamenta uma outra corrente da filosofia e da psicologia, o behaviorismo clássico. O behaviorismo atual, que é obehaviorismo radical, não se baseia na tabula rasa.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabula_rasa (FONTE)