Citando Frei Bento Domingues in jornal Público, 8/10/2013

«(…) O próprio Séneca (4 a.C.- 65 d.C.), diante da mentalidade mercantilista do seu tempo, lamentava que já não se perguntasse pelo que as coisas eram, mas quanto custavam. Sublinhava, no entanto, que o gesto capaz de manter o laço que une os seres humanos, enquanto humanos, era o dom da gratuidade. Para Sócrates, só era digna de crédito a palavra que não se exercesse como um negócio. Aristóteles não era menos avisado: o dinheiro não tem filhos e a moeda não serve apenas para marcar o preço das coisas. Como intermediário, mostra que nós existimos em relação complementar, não destrutiva, uns dos outros.Max Weber escreveu, em 1904, uma obra célebre, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Situando a condição cristã na gestão da criação confiada por Deus aos seus filhos, a Reforma protestante parecia libertar e santificar o espírito empreendedor.
João Calvino (1509-1564) autorizou o empréstimo com juros, proibido até então pela Igreja Católica, mas praticado pelos judeus, durante a Idade Média, a principal actividade financeira que lhes era autorizada. Ao romper com este tabu no seio do cristianismo, o reformador de Genebra afastou o entrave ao desenvolvimento da livre empresa. A sua reflexão integrava os interesses do conjunto da economia: o dinheiro, na sociedade, religa as pessoas entre si; parado é estéril, mas o empréstimo, com juros, coloca-o em circulação. O dinheiro é tão produtivo como qualquer outra mercadoria.
Calvino é acusado de ter libertado os demónios da busca selvagem do lucro, mas ele tomou algumas precauções – sem dúvida insuficientes – para defender os pobres dos usurários. O empréstimo, para o consumo do necessitado, deve ser sem juros e sem esperar o reconhecimento do devedor.
Diante das derivas que fazem da Reforma a religião do dinheiro, o filósofo protestante, Jacques Ellul, cunhou uma fórmula muito sugestiva: é preciso profanar o dinheiro. Lembra que importa retirar ao dinheiro Mamon, de que fala o Evangelho, as suas promessas ilusórias e reduzi-lo à sua função de simples instrumento material de troca. Como realizar este empreendimento profanador? Numa sociedade dominada pelo dinheiro idolatrado, J.Ellul convida os cristãos a introduzir a esfera do dom e da gratuidade.
3. Não seria eticamente aceitável fazer despesas com o propósito de as não pagar. Mas o “perdão da dívida”, desde as épocas mais recuadas até aos tempos mais recentes, nada tem de insólito. A própria Alemanha, depois de guerras criminosas, beneficiou largamente desse gesto ancestral. »

TÁBULA RASA – A negação contemporânea da natureza humana | Steven Pinker

10997_gSteven Pinker é um dos mais respeitados nomes da ciência cognitiva e dos estudos da linguagem aplicados à neurociência. Seus ensaios têm grande aceitação na comunidade acadêmica e também no público em geral. Em Tábula rasa, Pinker enfrenta o debate “natureza versus criação”.
O autor ataca três dogmas fortemente arraigados na cultura ocidental: a idéia de que a mente de um recém-nascido é uma “tábula rasa” a ser preenchida pelos pais e pela sociedade; a concepção de que o homem em seu estado primitivo é um bom selvagem; e a crença de que a alma imaterial dotada de livre-arbítrio é a única responsável pelas ações do indivíduo.
O autor descreve a evolução histórica dessas três idéias, originadas respectivamente das concepções de John Locke, de Rousseau e da religião. Pinker demonstra como elas se estabeleceram de forma inquestionável até comporem uma espécie de “doutrina oficial”, que hoje influencia não só a criação dos filhos, mas também a vida política.
Pinker recorre a autores como Darwin, Kant, Shakespeare e até a personagens dos quadrinhos, como Calvin e Haroldo, para defender a idéia de uma natureza humana alicerçada na biologia. Segundo essa concepção, o ser humano nasce equipado com um conjunto de informações genéticas que direciona o seu desenvolvimento. Em cada indivíduo, a natureza humana, regida pela biologia, sofre influências da cultura e da sociedade – e é da interação de ambas que resultam personalidade e comportamento.

“Arrebatador, erudito e divertido – e muito persuasivo” – Time

“Um livro extraordinário: claro, implacável e empolgante” – The Washington Post

Tiago Cabrita

Nasceu em 1985 em Lisboa.cabrita_tiago

Estudou no Conservatório de Música D.Dinis, com Rui Guerreiro (Violino) e Carlos Marecos (Música de Câmara e Análise e Técnicas de Composição) e, posteriormente, na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), onde foi orientado por João Madureira, Luis Tinoco e Carlos Marecos.

Participou em várias edições das “Peças Frescas” da ESML e no ciclo “Novos Ciclos por Segundo” da MisoMusic Portugal (2008). Frequentou masterclasses de composição com Emmanuel Nunes, Marc-André Dalbavie, Peter Hamel e Ertugrul Sevsay.

Ganhou o 1º Prémio no Concurso Internacional de Jovens Compositores da Cidade de Portimão na categoria de “Grupo Misto”, com a obra Quasi una Maré.

Em 2010 participou no 8º Workshop para Jovens Compositores da Orquestra Gulbenkian com a peça Retorno, dirigida pela Maestrina Joana Carneiro, e no Festival Música Viva, da MisoMusic Portugal, com a peça Sopro da Alma para Flauta, na sua versão com Eletrónica em Tempo Real.

Contou com a Encomenda da peça Anticlockwise para Violino Solo pelo Prémio Jovens Músicos/RTP-Antena 2 e participou no III Festival Viagens pelo Som e pela Imagem com a peça O Vulto da Consciência.

Em 2012 estreia a Ópera curta A Vida Inteira, com libreto de António Carlos Cortez, a partir de um poema de Ruy Belo, que foi dirigida por João Paulo Santos e encenada por Luis Miguel Cintra, no Teatro Nacional de S.Carlos. Inicia também a sua atividade como crítico musical, contribuindo para o Espaço Crítica para a Nova Música da MisoMusic Portugal.

Encontra-se a finalizar o segundo ano do Mestrado em Música da ESML, sendo orientado por António Pinho Vargas e Carlos Marecos e leciona no Colégio Moderno e na Escola de Música desta instituição, em Lisboa.

Integra o Yogistragong, Orquestra de Gamelão (música tradicional indonésia), dirigido por Elizabeth Davis.

Projetos futuros incluem peças para dois pianos,  bailado, música para Orquestra e música de fusão para Gamelão e instrumentos ocidentais, entre outros.

http://www.bnportugal.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=752%3Aconversas-com-compositores&catid=162%3A2012&lang=pt … (FONTE)

GONÇALO M. TAVARES | LOOK AT YOUR HANDS | POSTED BY MARK O’CONNELL | THE NEW YORKER

In the novel “Jerusalem,” by the Portuguese writer Gonçalo M. Tavares, there is a character named Mylia, handwho suffers from schizophrenia. One of the manifestations of Mylia’s illness is a strangely intimate experience of, and relationship with, inanimate objects. She is, for example, disgusted by shoes because of their dumb subservience to people, their total self-abnegation as things to be possessed and used. “Not even a dog,” she reflects, “was as submissive as a shoe.” She is also deeply disturbed by eggs: “Eggs, all eggs, contained a kind of concrete, material altruism that Mylia couldn’t find in anything else in the world. Eggs appear because they want to disappear.” This anthropomorphic intimacy leads her to handle things in a way that appears somehow unseemly:

Her mother would say to her, “It’s not right to touch things that way.”“So how should I touch them?”

“Use less pressure. Don’t grab. Don’t get so involved.”

What her mother didn’t tell her—though other people did—was that she was always reaching out for things as though caressing a lover, as though everything in the world turned her on. So, “It’s not right to touch things that way” was, more than anything, a call for modesty.

When you first discover a writer who is unlike any you’ve read before—whose work seems at once to demand and to deny the possibility of contextualization—you tend to seek insights, in the writing itself, into where this strangeness and difference might be coming from. When I came to this passage in “Jerusalem” about Mylia’s way of touching things, I read it again and again, convinced that, in its oblique way, it revealed something essential about Tavares. There is an indecency to his writing, a strange and thrilling obscenity, that has to do with its way of handling things as though they were people, and people as though they were things.

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