Cabo Delgado | Moçambique | Carlos Matos Gomes

A violência em Cabo Delgado é simultaneamente simples de perceber e propositadamente difícil de explicar. A causa simples é a luta pelo poder, enquanto domínio que permite o acesso de um dado grupo às riquezas. Neste sentido, a causa da violência em Cabo Delgado é idêntica à da violência que conduziu às invasões do Iraque, da Síria e à destruição da Líbia. A única diferença é que a região onde se encontram as riquezas – petróleo, gás, e também pedras semipreciosas – é habitada por uma sociedade com poucos ou nenhuns meios de defesa (os macondes) e faz parte de um Estado fraco, incapaz de garantir a ordem interna e de se defender de ataques externos. Cabo Delgado é um alvo mole e barato para os assaltantes.

É deliberada a complexidade das diversas explicações para a violência em Cabo Delgado, classificada como «conflito» – não há qualquer conflito, há imposição de um poder pelo terror. A complexidade destina-se a esconder os responsáveis perante a opinião pública e a confundi-la. Os argumentos que salientam tensões etnolinguísticas, particularmente entre povos muçulmanos da costa, macuas, e macondes (animistas/cristãos), desigualdades no acesso a benefícios do Estado por parte dos macondes, favorecidos pelo estatuto dos antigos combatentes, representação política, assimetrias, lançadas para a opinião pública como estando na origem do jhiadismo e das suas práticas de terrorismo religioso são meras falácias, engodos e enganos.

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