TARRAFAL – o Campo da Morte Lenta (85.º aniversário) Texto atualizado | por Carlos Esperança

Há 85 anos, 29 de outubro de 1936, degredados, chegaram ao Campo de Concentração do Tarrafal 152 presos políticos. Nesse dia, com a chegada dos primeiros prisioneiros, começou a funcionar o presídio onde era mais doce a morte do que o Inferno da vida que os torturadores lhes reservavam.

Tinham sido 11 dias de viagem, de Lisboa ao Tarrafal, para a primeira leva de vítimas, grevistas do 18 de janeiro de 1934, na Marinha Grande, e alguns dos marinheiros que participaram na Revolta dos Marinheiros de 8 de setembro desse ano.

O Tarrafal foi demasiado grande no campo da infâmia e do sofrimento para caber num museu. Salazar teve aí, no degredo da ilha de Santiago, Cabo Verde, o seu Auschwitz, à sua dimensão paroquial, ao seu jeito de tartufo e de fascista.

Ali morreram 37 presos políticos desterrados, na «frigideira» ou privados de assistência médica, água, alimentos, e elementares direitos humanos, alvos de sevícias, exumados e trasladados depois do 25 de Abril.

Edmundo Pedro, o último sobrevivente, chegou ali, com 17 anos, na companhia do pai. Como foi possível tanto sofrimento no silêncio imposto pela ditadura?

E como é possível o esquecimento em democracia? Dói muito, dói pelo sofrimento dos que lutaram contra o fascismo e pelo esquecimento a que os votam os que receberam a democracia numa madrugada de Abril, com cravos a florirem nas espingardas do MFA.

Neste dia recordo o saudoso amigo Edmundo Pedro, o último a falecer, e não deixo de pensar que Adriano Moreira, ainda vivo, reabriu o Tarrafal, e que por todo o mundo chegam ao poder os que não hesitarão em criar novos campos de tortura.

Retirado do facebook | Mural de Carlos Esperança

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