UMA NOVA CORTINA DE FERRO FOI ERGUIDA [PELO OCIDENTE] | por Alain de Benoist

Alain de Benoist, filósofo francês que é um dos fundadores da Nova Direita. Editorial da revista “Éléments” sobre a guerra na Ucrânia – (via Alfredo Barroso).

É evidente que não se pode dizer que «não se faz a guerra contra a Rússia» e, ao mesmo tempo, decretar contra a Rússia sanções com uma dimensão sem precedentes, e promover publicamente uma «guerra económica e financeira total à Rússia» (declaração do ministro das finanças da França, Bruno Le Maire), e fornecer armas aos Ucranianos.

Os Europeus aceitaram docilmente decretar contra a Rússia sanções de que serão eles as primeiras vítimas, de tal modo são contrárias aos seus próprios interesses, designadamente os energéticos e industriais (a Rússia é mais auto-suficiente do que a Europa).

Por outro lado, ao aceitarem fornecer à Ucrânia armas pesadas e aviões, não com a intenção de restabelecer a paz mas com o objectivo de prolongar a guerra, os países ocidentais assumiram o gravíssimo risco de serem considerados como cobeligerantes.

Saímos, portanto, do pós-Guerra Fria. Uma nova ‘cortina de ferro’ foi erguida, desta vez por iniciativa dos países Ocidentais. O continente euroasiático está de novo cortado em duas partes.

A Finlândia e a Suécia querem entrar na NATO, a Suíça abandona a neutralidade, a Alemanha rearma-se gastando 100.000.000 (cem mil milhões) de euros, a União Europeia assume o papel de fornecedor de armas, e os que até ontem eram defensores da abolição de todas as fronteiras proclamam agora que as fronteiras da Ucrânia são invioláveis. Uma reviravolta histórica. Cujas consequências serão, também elas, históricas.

O antigo presidente da República Checa Vacláv Klaus afirmou-o sem subterfúgios: feita refém pela NATO, a Ucrânia é, desde o princípio, «unicamente um pião no tabuleiro de um jogo de xadrez bastante mais vasto». O primeiro perdedor deste caso tão sério é, obviamente, o infeliz povo ucraniano, hoje sujeito aos bombardeamentos russos, depois de ter sido cinicamente utilizado como pião no tabuleiro estratégico dos EUA.

Os outros grandes perdedores são os Europeus que, ao alinharem de forma quase unânime com as posições dos Estados-Unidos da América, mais uma vez demonstraram que não contam para nada.

Uma Europa independente e não alinhada teria podido trabalhar no sentido de se encontrar uma solução para o conflito, de se chegar a um acordo negociado, assim como participar na reconstrução de um novo espaço de segurança colectiva à escala continental, apto a respeitar tanto os interesses dos Europeus como os dos Russos.

Também poderia ter-se dotado de um equivalente da ‘doutrina Monroe’. Mas não foi isso que se passou. Ao decidir sujeitar-se placidamente aos ‘diktats’ anglo-saxónicos e ao adoptar medidas que são tão-só mais petróleo na fogueira, a União Europeia perdeu toda a credibilidade.

NÓS NÃO SOMOS OCIDENTAIS, SOMOS EUROPEUS

Trata-se, de facto, de duas guerras distintas que estão em curso neste momento. A primeira é uma guerra fratricida, dado que opõe dois países saídos da mesma matriz histórica e que foram associados durante séculos. Mas não se trata de uma guerra civil. Também não é uma guerra entre dois nacionalismos, russo e ucraniano. É, sobretudo, uma guerra entre a lógica do Estado-nação e a lógica do império (que nunca teve na Rússia uma dimensão étnica).

Mas é também uma «proxy war», uma guerra por procuração de Washington contra o Kremlin por interposta Ucrânia. O que, ao mesmo tempo, levanta o véu sobre a natureza mais profunda da segunda guerra, a dos EUA contra a Rússia.

Guerra que vai muito para além da Ucrânia, dado que é uma guerra dos mundos: guerra pró ou contra a hegemonia neoliberal; dos Estados civilizacionais contra o universalismo sem solo; dos povos ciosos da sua continuidade histórica contra as «sociedades abertas»; das forças do enraizamento contra as forças da dissolução; das potências continentais contra as «democracias marítimas» (EUA, Grã-Bretanha, Austrália, Canadá). Uma guerra com significação mundial. Uma guerra pelo poderio mundial.

Que o mesmo é dizer que os apelos à «solidariedade ocidental» de Joseph Robinette Biden, o morto-vivo da Casa Branca, nos deixam perfeitamente frios. Por uma excelente razão: é que nós não somos Ocidentais, somos Europeus.

(Traduzido por Alfredo Barroso em 3 de Junho de 2022)

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