A heresia do papa Francisco | Carlos Matos Gomes

Estava a ler textos sobre a “guerra da comunicação” em que estamos envolvidos, felizmente sem os custos em sangue e destruição da que ocorre na realidade do campo de batalha, na Ucrânia. Parti de um filósofo cujo pensamento conhecia um pouco, Paul Virílio, francês, autor de livros sobre as tecnologias da comunicação, e deste cheguei a um outro, desconhecido, Slajov Zizek, esloveno. Paul Virílio, com formação base em arquitetura, define a sociedade da informação como perigosa, já que a informática nos leva à perda da noção da realidade ao proporcionar uma quantidade gigantesca de dados. É sobre a relação entre a realidade e a imagem que dela nos é transmitida que se travam hoje os combates da informação, desinformação, manipulação que nos são apresentados pelos meios de comunicação, que pretendem camuflar a sua qualidade de armas, atrás de um colete com a palavra PRESS, de uma direção editorial, ou de pastores com a pele de comentadores .

Para Zizek, com formação em sociologia, professor nas universidades de Lubiana e de Londres, o “real” é um termo que corresponde a um conceito enigmático, e não deve ser equiparado com a realidade, uma vez que a nossa realidade está construída simbolicamente; o real, pelo contrário, é um núcleo que não pode ser simbolizado, isto é, expresso com palavras ou com imagens. Só existe como abstrato. Para Žižek, a realidade tem a estrutura de uma ficção. Ou seja, acaba sendo apenas uma espécie de interpretação da “coisa em si”. Há quem não se limite a interpretá-la, mas a fabrique.

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É PRECISO RESISTIR AO “DEMOFASCISMO” | por João Melo, Opinião/DN

O conflito geopolítico e ao mesmo tempo tribal que decorre presentemente na Ucrânia criou um novo (ou velho?) fenómeno, cada vez mais inegável e incontornável: o recurso, por parte das democracias, a métodos fascistas, a fim de imporem os seus pontos de vista e conquistarem “simpatias” para a sua causa. É o que eu chamo de “demofascismo”.

A recusa liminar em discutir a complexidade da situação na Ucrânia e em reconhecer que a história não começou no dia 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu o país vizinho, foi a primeira manifestação desse fenómeno.

Seguiu-se-lhe a onda de russofobia que assolou o Ocidente, com a discriminação de todo e qualquer cidadão russo, o cancelamento de artistas e desportistas, a proibição de obras literárias russas nas escolas e outras aberrações.

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