A globalização acabou, qual é a próxima guerra? Francisco Louçã | in Jornal Expresso

A globalização foi o capitalismo feliz desde os anos 1980. Tudo se conjugava perfeitamente: uma liderança empolgante (Reagan e Thatcher; em Portugal, como fez questão de nos lembrar o próprio, foi o tempo de Cavaco Silva), guerras fáceis (as Malvinas) após fracassos monstruosos (o Vietname, depois o Irão e a Nicarágua) e, sobretudo, a grande viragem que foi sinalizada pela queda do Muro de Berlim e pelo fim da URSS. Veio então a expansão do comércio mundial, apoiada em instituições “empoderadas” para promoverem os novos ventos (a OMC, a que a China, transformada num dos grandes parceiros da globalização, aderiria em 2001) e uma vaga de liberalização económica (que deu origem à oligarquia russa com as privatizações de Ieltsin). O mundo foi aplanado pelo sucesso da globalização, que continuou nas décadas seguintes, em particular com o auge da financeirização, vencidas as barreiras herdadas do projeto de Roosevelt para a regulação da banca (Clinton assinou em 1995 a lei que enterrou o New Deal). Ideologicamente não parecia haver contraposição a esta glória, Deng Xiao Ping era um do seus arautos, triunfava sem contestação a TINA (there is no alternative, que, como noutros temas, Thatcher formulou melhor do que ninguém), a terceira via levou a social-democracia para o redil liberal, com Schroeder, Blair e, mais tarde, com Hollande. Tudo parecia conjugar-se para o que o mais entusiasta veio a chamar “o fim da história”. Não era pouco.

 Quarenta anos depois da sua fulgurante reincarnação moderna, esta globalização acabou.

Atacar o menor para ameaçar o maior.

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Brass iT Festival | Street Music Festival | Minde, Portugal | 1 e 2 de julho 2022 | entrada livre

Imagede Sex, 1/07 às 19:00 a Dom, 3/07 às 08:00

Num formato semelhante às edições anteriores, pretendemos realizar dois dias (1 e 2 de julho 2022) dedicados à música itinerante, com várias bandas de rua de diferentes estilos, que, estamos certos, voltará a provocar uma grande interação com o público e permitirá não só levar a música para a rua, como motivar as pessoas a aproveitarem a rua como um lugar cultural, provocando toda uma experiência musical diferente e trazendo as melhores práticas e vivências dos grandes festivais internacionais de música de rua.

ACTIVIDADES | Praça 14 de Agosto, Minde

2 DE JULHO | 8H30M | Caminhada Walk It, Live It

2 DE JULHO | 10H00 | Passeio Motard

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA | José Saramago | por Valdemar Cruz

Ainda a recuperar das ondas de choque e espanto desencadeadas pela estreia no Teatro Nacional de S. João de ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, a partir do romance de José Saramago. A encenação de Nuno Cardoso, com versão cénica de Cláudia Cedó, a par do espantoso trabalho dos actores, proporciona uma daquelas raras situações em que sentimos estar a viver um momento único. Porventura irrepetível. Romance poderoso sobre uma distopia, evolui em palco como um inquietante épico momento teatral.

Quando se pergunta para que serve um Teatro Nacional, aqui está a esmagadora resposta. Um espectáculo com esta grandeza só é possível graças a uma co-produção que envolve o TNSJ e o Teatre Nacional de Catalunya. Com actores portugueses e catalães (legendas em português e catalão) a peça, até pela sua duração, se surge como um desafio para os actores, não deixa de constituir um permanente desassossego para os espectadores. Até pela surpresa e inventividade de algumas opções cénicas.

Dali ninguém sai como entrou. Mas ninguém se devia furtar à experiência de ir ao TNSJ para, se puder olhar, ver. Se puder ver, reparar.

Julian Assange | por Carlos Matos Gomes

A “realeza” britânica não terá nada a ver com a dignidade do seu país? Com a vileza? Com a subserviência? São extra-terrestres? Eu conheço o argumento de que esta gente, dita real, é irreal, como os deuses gregos, não se intrometem nos assuntos dos homens a não ser para fazer filhos e causar guerras.

Mas há um mínimo de decoro que se lhes exige, além da exibição dos exóticos chapeus, as damas, e das fatiotas de domadores de circo, dos cavalheiros.

Não têm nada a dizer sobre a deportação de Assange para os Estados Unidos, o território da boa justiça?

Aniversário de Vasco Lourenço | por Carlos Matos Gomes

O Vasco faz hoje 80 anos. Além dos parabéns já dados, umas palavras pessoais e transmissíveis. Tive a primeira conversa com o Vasco sobre o fim do regime em Outubro de 1973, na casa que habitava no Estoril, depois de ter saído de uma reunião, também conspirativa, em casa do então tenente-coronel João de Almeida Bruno, na companhia do também tenente-coronel Dias de Lima. Todos havíamos cumprido comissões na Guiné. Eu ainda lá me encontrava. A partir daí percorremos um caminho que nos levou ao 25 de Abril de 1974 e até aos dias de hoje.

Sei, conheço, o papel decisivo do Vasco em todo o processo de conspiração e de revolução. Sempre a mesma inesgotável energia, a mesma tenacidade. Sim, tenacidade, ele é o mais tenaz de todos os capitães de Abril, é o dínamo que nos faz mover (pelo menos a mim e só falo por mim, entenda-se), o que carrega as nossas baterias.

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