GUERRA DA UCRÂNIA / ANÁLISE | por Guy Mettan

* Guy Mettan é cientista político e jornalista. Iniciou sua carreira jornalística no Tribune de Genève em 1980 e foi seu diretor e editor-chefe em 1992-1998. De 1997 a 2020, foi diretor do “Club Suisse de la Presse” em Genebra. Atualmente é jornalista e escritor freelancer.” | (via Joaquim Matos)

No momento em que se começa a vislumbrar uma possível solução para o conflito na Ucrânia (neutralidade e desmilitarização parcial do país, entrega do Donbass e da Crimeia), os antecedentes do conflito começam a ser melhor compreendidos.

No entanto, não se espera que aconteça um rápido cessar-fogo: os americanos e os ucranianos ainda não perderam o suficiente e os russos ainda não ganharam o suficiente para cessar as hostilidades.

Mas antes de ir mais longe, gostaria de convidar aqueles que não partilham da minha visão realista das relações internacionais a não seguirem em frente na leitura. O que se seguirá não lhes agradará e evitarão o azedume estomacal e o tempo desperdiçado a denegrir-me.

Com efeito, penso que a moralidade é um péssimo conselheiro em geopolítica, mas que se impõe em matéria humana: o realismo mais intransigente não nos impede de actuar, incluindo no tempo e no dinheiro como eu, para aliviar o destino das populações testadas pelos combates.

As análises dos peritos mais qualificados (em particular dos americanos John Mearsheimer e Noam Chomsky), as investigações de jornalistas como Glenn Greenwald e Max Blumenthal, e documentos apreendidos pelos russos – a intercepção de comunicações do exército ucraniano a 22 de janeiro e um plano de ataque apreendido num computador abandonado por um oficial britânico – mostram que esta guerra foi inevitável e muito improvisada.

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Confissões perigosas | por Carlos Matos Gomes

A ex-chanceler alemã Angela Merkel participou há dias numa palestra em Berlim organizada pela editora Aufbau e transmitida pela televisão nacional de que os meios de comunicação retiraram um título: Angela Merkel já sabia que Putin queria destruir a Europa!

Não faço ideia se Angela Merkel terá de facto feito a afirmação e, menos ainda, em que contexto. Mas tomando como boa a transcrição e descontextualizada, o que sempre uma forma de manipulação, de colocar alguém a dizer o que convém ao citador há que pensar na afirmação. Independentemente da consideração intelectual e da experiência política de Angela Merkel esta afirmação deve ser sujeita ao crivo da crítica.

Assim a “seco” a afirmação é a-científica e a-histórica. É uma frase empírica, vulgar e que podia ser adequada a uma conversa de pé da porta. Angela Merkel é uma cientista e é culta, conhece a história do mundo e da Europa, em particular.

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Brexit | Irlanda alerta Londres para ação prejudicial nas relações com UE | in Lusa

O primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, alertou hoje em Estrasburgo que qualquer ação do Reino Unido para alterar unilateralmente o estatuto pós-‘Brexit’ da Irlanda do Norte seria “profundamente prejudicial”.

Num discurso no Parlamento Europeu, Martin condenou a intenção de o Governo britânico legislar para contornar a obrigatoriedade de controlos aduaneiros e burocracia adicional a bens que circulam entre o Reino Unido e a Irlanda do Norte. 

“Qualquer ação unilateral para rejeitar um acordo solene seria profundamente prejudicial, marcaria um ponto baixo histórico que apontaria para um desrespeito dos princípios essenciais das leis que são a base das relações internacionais. E não beneficiaria absolutamente ninguém” vincou.

O chefe de Governo irlandês defende “maneiras de melhorar a operacionalidade do protocolo”, mas considera que Londres só tem feito esforços de má-fé para enfraquecer um tratado ao qual aderiu livremente, o que lamenta.

“Em vez de criar uma atmosfera construtiva, vimos tentativas de bloquear acordos ou introduzir novos problemas”, criticou.

A Irlanda do Norte é a única região do Reino Unido que partilha uma fronteira terrestre com um país membro da UE, a República da Irlanda, o que implicou atenção especial durante o processo de saída britânica da União Europeia (UE).

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Angela Merkel sem arrependimentos: “Putin quer dividir a União Europeia”

Na primeira entrevista desde que deixou o cargo de chanceler da Alemanha, Angela Merkel diz ter feito todos os possíveis para evitar o conflito na Ucrânia. Mas já sabia que o Presidente russo “queria destruir a Europa”.

A ex-chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu esta terça-feira (07.06) que já se questionou se poderia ter sido feito mais para evitar a invasão russa da Ucrânia que começou a 24 de fevereiro.

Ainda assim, quando faz uma retrospetiva dos 16 anos de governação, Angela Merkel fala com “tranquilidade” por saber que fez o possível para evitar a situação atual e sublinhou que tem total confiança na gestão do seu sucessor, Olaf Scholz.

“Penso que esta situação já é uma grande tragédia. Poderia ter sido evitada, e é por isso que continuo a fazer-me estas perguntas, mas não consigo imaginar não ter confiança no atual governo federal”, afirmou.

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