Jaime Velez, “Manta Branca”, Vila de Cano | via Joviana Benedito | Pintura a óleo de Álvaro Cunhal

Não vejo senão canalha

De banquete para banquete,

Quem produz e quem trabalha

Come açordas sem “azête”

Depois, de modo repentista,

vieram os restantes versos

que compunham as décimas:

Ainda o que mais me admira

E penso vezes a miúdo:

Dizem que o sol nasce para tudo

Mas eu digo que é mentira.

Se o pobrezinho conspira

O burguês com ele ralha,

Até diz que o põe à calha

Nem à porta o pode ver.

A não trabalhar e só comer

Não vejo senão canalha!

Quem passa a vida arrastado

Por se ver alegre um dia

Logo diz a burguesia

Que é muito mal governado,

Que é um grande relaxado,

Que anda só no bote e “dête”.

Antes que o pobrezinho “respête”

Tratam-no sempre ao desdém

E vê-se andar, quem muito tem,

De banquete para banquete.

É um viver tão diferente

Só o rico tem valor.

E o pobre trabalhador

Vai morrendo lentamente.

A fraqueza o põe doente

E a miséria o atrapalha;

Leva no peito a medalha

Que ganhou à chuva e ao vento

E morre à falta de alimento

Quem produz e quem trabalha

Feliz de quem é patrão

E pobre de quem é criado

Que até dão por mal empregado

O poucochinho que lhe dão.

Quem semeia e colhe o pão

Não tem aonde se “dête”,

Só tem quem o “assujête”

Para que toda a vida chore,

E em paga do seu suor

Come açordas sem “azête”

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