Não Há ‘Bala Mágica’ Que Possa Virar A Maré Para A Ucrânia | por Daniel Davis in 19fortyfive

No domingo passado, quando o restante soldado ucraniano se retirou de Lysychansk, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que evacuar suas tropas da cidade “onde o inimigo tem a maior vantagem no poder de fogo”, foi a decisão certa, mas “significa apenas uma coisa… Que voltaremos graças às nossas táticas, graças ao aumento do fornecimento de armas modernas.” Embora muitos no Ocidente queiram que isso seja verdade, a realidade é muito diferente: não há base para esperar uma futura ofensiva para expulsar as tropas russas dos territórios conquistados.

O resultado mais provável para as Forças Armadas ucranianas (UAF) se continuarem lutando contra os russos é que mais tropas de Zelensky serão mortas, mais cidades ucranianas serão transformadas em escombros, e mais território Kyiv perderá para os invasores. Uma análise sóbria da capacidade das duas forças armadas, uma avaliação dos fundamentos militares que historicamente se mostraram decisivos no campo de batalha, e um exame do potencial de sustentabilidade para ambos os lados, deixam claro que a Rússia quase certamente ganhará uma vitória tática.

O conselheiro presidencial ucraniano Oleksiy Arestovych disse que, pelo contrário, as retiradas em Severodonetsk e Lysychansk não foram derrotas, mas sim “bem sucedidas” na qual ele alegou que permitiram à Ucrânia “ganhar tempo para o fornecimento de armas ocidentais e a melhoria da segunda linha de defesa, para criar condições para nossas ações ofensivas em outras áreas da frente”. Esta é uma crença comum no Ocidente, mas não suportada pelos fatos.

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“Os árabes de Lisboa e de Portugal sempre estiveram por aqui” | Sérgio Luís de Carvalho | por João Céu e Silva in DN

A conquista de Lisboa aos mouros em 1147 numa pintura de Roque Gameiro.

O terceiro volume com que Sérgio Luís de Carvalho vem fazendo a história da capital portuguesa é dedicado à presença árabe em Lisboa: “Uma viagem maravilhosa por um legado com mais de mil anos de história”.

O historiador Sérgio Luís de Carvalho tem vindo a publicar uma série de livros em que o tema é a história de Lisboa. Após Lisboa Nazi Lisboa Judaica, lança agora Lisboa Árabe. Quando se lhe pergunta qual dos três volumes seduzirá mais os leitores, considera que, apesar do interesse específico de cada um, admite que Lisboa Nazi possa “ter os ingredientes para cativar desde logo um leitor interessado em temas históricos, no geral. É um assunto mais “perto” de nós e cujos ecos e feridas ainda se poderão fazer sentir”. Quanto aos outros dois, que têm uma componente religiosa maior, refere que “terão mais fôlego em termos diacrónicos, o que levará a uma visão mais “prolongada” temporalmente”. O trio sobre Lisboa não deverá terminar com esta nova investigação e adianta que “é possível, até provável” novos títulos. No entanto, diz, “no caso plausível de haver continuação, tenho de pensar bem como manter o nível e a coerência do projeto”.

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Europa e cultura | Guilherme d’Oliveira Martins | in DN

A Comissão Europeia e a Europa Nostra anunciaram os prémios do património cultural 2022, entre os quais se encontram o Convento dos Capuchos em Sintra, na categoria de Conservação e adaptação a novos usos e o projeto Museu na Aldeia, que envolve 13 museus e 13 aldeias em Leiria, na categoria Envolvimento e sensibilização dos cidadãos. Do Convento dos Capuchos falei aqui na crónica de 15 de fevereiro, e devo dizer que se trata de um prémio justíssimo. Entre os galardoados, encontra-se ainda a Igreja de Santo André em Kyiv, na Ucrânia, mercê de uma ação de conservação que devolveu aos ucranianos e à humanidade um monumento de grande valor comum, funcionando o monumento como um museu que acolhe serviços religiosos, eventos científicos e educacionais e concertos de música de câmara.

Se falo do reconhecimento da defesa e salvaguarda do património cultural, como realidade viva, refiro, a propósito desta iniciativa europeia, a necessidade de uma cultura de paz que obriga a que tomemos consciência de que a defesa do património não se refere apenas aos monumentos ou às “pedras mortas”, mas aos direitos fundamentais das pessoas, à memória e à dignidade humana.
Como disse o poeta Heinrich Heine: “onde se queimam livros (ou objetos de memória, lembramos nós), acaba-se a queimar pessoas”. É, pois, a memória que está em causa e os direitos e deveres que a acompanham. Lembre-se o que ocorre neste momento na Ucrânia: segundo a UNESCO, mais de 150 monumentos, museus ou sítios foram danificados ou destruídos – 70 templos religiosos, 30 edifícios históricos, 18 centros culturais, 15 museus e 7 bibliotecas. 45 em Donetsk, 40 em Kharkiv e 26 em Kyiv. Exemplos? A Catedral da Assunção em Kharkiv, bem como diversos pavilhões da Universidade Nacional das Artes na mesma cidade; o teatro de Marioupol; o museu da artista Maria Pryimachenko de Ivankiv (Kyiv). Por outro lado, os Museus de Arqueologia e de Arte Moderna de Odessa estão sob ameaça ou o centro da cidade de Lviv, classificado pela UNESCO.

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A escandinava Greta (esta é Garbo) e a paixão por Gilbert, em três capítulos que se lêem como um fósforo | por Manuel S. Fonseca in Página Negra

Posted on  by Manuel S. Fonseca

Esta é, em três fragmentos a que só por inadvertida audácia se pode chamar capítulos, a história de rejeição e paixão de John Gilbert e Greta Garbo, ídolos da América e do mundo, no final dos anos 20 e começo dos anos 30Para os mais jovens, acrescento mais informação: eram actores de cinema. E complemento: cinema era uma arte de sombras, indulgências, tesouros e cabalas, cultivada pela calada da noite em insidiosos palácios nocturnos, invisíveis durante o dia.

Heróico, viril e vil

Todo o passado é sincrético. Como sabem, John Gilbert é um actor do tempo de Homero ou Ben-Hur ou não fosse o cinema uma invenção mediterrânica. Um dos criadores desse cinema da antiguidade clássica foi Louis B. Mayer. Judeu, claro. Como Aquiles, era heróico, viril e vil. De poderoso soco. Basta vê-lo, à porta do Alexandria Hotel, aos murros a Charlie Chaplin. Foi em Los Angeles: na minha antiguidade clássica já havia América e hotéis de cinco estrelas.

Mas é de outro soco que falo. A viking Greta Garbo chegara a Hollywood. Vinha filmar “Temptress”, auto-estrada de adultérios em cadeia. Isto passou-se em 1925 e 1926, anos de lânguido aquecimento e dilatação dos corpos em Hollywood, como o provam os filmes que Mayer então produziu.

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